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CANTO
Bienal de Música Contemporânea Brasileira chega à 25ª edição em 2023
Foto: Alex Pazuello/ Secom AM
O que une Núbia Eunice e Edna D’Oliveira? Além de serem premiadas cantoras líricas, são negras e desempenham papel de destaque no cenário de música erudita brasileira. Neste 22 de julho é celebrado o Dia do Cantor e da Cantora Lírica. Ações para fortalecer o setor são preparadas pelo Ministério da Cultura (MinC), por meio da Diretoria de Música da Fundação Nacional de Artes (Funarte).
“No conjunto de políticas, programas e ações da Funarte, a música de concerto sempre teve seu lugar. Agora, não será diferente. Pelo contrário! Vamos debater com o setor os rumos de iniciativas já tradicionais, como a Bienal de Música Brasileira Contemporânea, e construir, sempre em diálogo, os novos programas e projetos”, revela Eulícia Esteves da Silva Vieira, diretora de Música da Funarte.
Eulícia conta ter acontecido recentemente uma primeira reunião com o Fórum Brasileiro de Ópera, Dança e da Música de Concerto com participação da cantora lírica Edna D'Oliveira, Flávia Furtado (diretora Executiva do Festival Amazonas de Ópera - FAO), maestro Luís Fernando Malheiros (diretor artístico do FAO), maestro André Cardoso (presidente da Academia Brasileira de Música), e do compositor João Guilherme Ripper. Da parte da Funarte: a presidenta Maria Marighella, Luísa Hardman (coordenadora do Programa Nacional de Apoio à Cultura - Pronac) e Carolina Rosário (assessora da Presidência).
"O diálogo já começou. Na última quarta-feira, tivemos a primeira reunião, muito boa, com o Fórum Brasileiro de Ópera, Dança e Música de Concerto. Falamos, por exemplo, da importância da valorização e da promoção da diversidade - regional, de gênero e étnica-racial - como uma das diretrizes da política "Funarte Retomada". A próxima Bienal jogará uma luz sobre esta questão, que nos é muito cara", defende.
Núbia iniciou sua carreira aos 10 anos, por meio do Coral Canarinhos de Itabirito (MG). “Fiz esse teste. No dia seguinte, recebi o convite para participar do ensaio. Digo sempre que foi o meu primeiro amor e à primeira vista”, confessa a soprano - classificação mais aguda das vozes femininas.
Ela tem Edna D’Oliveira como inspiração por quebrar barreiras. Lamenta, entretanto, a visão equivocada das pessoas por entenderem o canto como um hobby, e não como profissão que exige muito estudo e dedicação.
Lutadora para democratizar a música lírica, Núbia se considera uma criadora de oportunidades. Tomou iniciativa para viabilizar e apresentar espetáculo cênico de concerto em sua cidade e, por dois anos, deu aulas a crianças de forma voluntária.
Foto: Arquivo pessoal Núbia Eunice
A cantora de 22 anos está em início de carreira, mas já coleciona importantes prêmios como, no ano passado, jovem solista na primeira edição do Concurso de Canto Joaquina Lapinha, dedicado a pretos, pardos e indígenas. Neste ano, ela arrebatou o Prêmio Série Toriba Musical no prestigiado 21º Concurso Brasileiro de Canto Lírico Maria Callas (1923-2023) – Edição do Centenário de Nascimento.
Os passos de Núbia guardam semelhanças com os de Edna, considerada uma das mais importantes sopranos da cena lírica brasileira. Vencedora do Prêmio Carlos Gomes de Ópera e Música Erudita, Edna tem um projeto de pesquisa sobre Cantoras Líricas Negras Brasileiras. “Ser cantora lírica no Brasil é um ato de resistência”, pontua ela, que precisou batalhar muito para chegar onde chegou, especialmente por sofrer preconceito envolvendo sua pele. “No início, sempre me davam papéis de empregadas nas óperas. Existe muita crítica velada, mas eu enfrentei e venci barreiras. Quero ver cada vez mais homens e mulheres negros com espaços em óperas.”
Com 36 anos de carreira, a talentosa e respeitada soprano iniciou no canto de coral aos nove anos e, aos 22 (idade de Núbia), partiu para o trabalho profissional como solista. Atuou no Ars Nova, Coral da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), referência mundial de canto. Fundado em 1959, o Coral atualmente tem Núbia como naipe de sopranos.
Regente do Coral, o maestro Lincoln Andrade defende a desburocratização de editais voltados à música lírica e à pulverização de recursos para além das capitais brasileiras. Ele ainda sustenta ser necessário entender a música como ferramenta para fazer girar a economia, gerando emprego e renda, além do potencial de atrair jovens em uma atividade saudável.
“O subsídio do Governo Federal para atividades voltadas à música de concerto democratiza o acesso das pessoas a esse tipo de evento. Precisamos fazer com que, cada vez mais, as orquestras se apresentem nas ruas, os corais cantem nas praças. É necessário acordar para esse tipo de pensamento”, comenta Lincoln.
Otimista, o maestro revela que durante o processo de envio de planos de ação da Lei Paulo Gustavo (LPG), poucas semanas atrás, ele se viu no papel de agente cultural. “Fiz esse trabalho de ligar, falar para as pessoas cutucarem seus prefeitos. Fiquei super feliz com o resultado. É um sucesso a adesão de 98% dos municípios brasileiros”.
Outro entusiasta de leis de apoio à cultura é o maestro Frederico Teixeira de Freitas Maciel. Regente da Banda de Música José Viriato Bahia Mascarenhas, ele destaca que desde seu primeiro mandato como presidente da República, em 2003, Lula promove ações de fomento à cultura.
“No caso da música erudita, na minha visão, a maior mudança que o Brasil terá será realmente a descentralização da cultura, a democratização do acesso à música erudita, seja nas grandes salas de concerto e grandes orquestras, seja nos grupos de música regionais, nas bandas de música e filarmônicas das cidades do interior”, prevê Frederico.
Regente do Coral Del Chiaro & Orquestra, em Curitiba, o maestro Gil Gonçalves faz coro com os colegas Lincoln e Frederico. “Uma nova era na música erudita se inicia com excelente expectativa de grandes produções de arte. As iniciativas privadas e governamentais são de extrema importância na promoção cultural do nosso país. A recriação do Ministério da Cultura é a pedra fundamental no momento para a valorização e retomada cultural das artes no Brasil”, celebra.
Foto: Lucas Silva/ Secom AM
Circuitos Nacionais de Recitais
A Funarte tem como uma de suas atribuições promover concertos em todo Brasil. Neste ano, a autarquia vinculada ao Minc prepara a 25ª Bienal de Música Brasileira Contemporânea, um dos mais importantes eventos do setor. A diretora de Música da Funarte, Eulícia, cita o Festival Amazonas de Ópera (FAO) como outra grande referência no cenário da música lírica. O evento teve sua 25ª edição nos meses de abril e maio deste ano e contou com a presença da presidenta Maria Fernandes Mariguella.
Sobre o FAO, o secretário de Cultura e Economia Criativa do Amazonas, Marcos Apolo Muniz assinala: “investir em cultura é impactar a sociedade de muitas formas, passando por educação, formação e qualificação profissional, ampliação de postos de trabalho diretos e indiretos, além da movimentação de toda a cadeia de serviços, que envolve o turismo, a hotelaria, a gastronomia, a preservação ambiental e o comércio local, entre inúmeros outros exemplos”.