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CULTURA INDÍGENA
Mais de 100 iniciativas culturais indígenas são contempladas no Prêmio Vovó Bernaldina
Foto: Divulgação Ascom/MinC
Saberes e fazeres, rituais, cantos e danças, grafismos, a cultura do alimento, a luta pela preservação de suas línguas, a relação com a natureza, a potência da juventude indígena no uso de expressões artísticas contemporâneas, como o cinema e o Hip-Hop. Esses são apenas alguns exemplos de iniciativas reconhecidas pelo Prêmio Culturas Indígenas Vovó Bernaldina, realizado pelo Ministério da Cultura (MinC), no âmbito do Edital de Premiação Cultura Viva - Sérgio Mamberti. O prêmio, que teve o resultado divulgado nesta semana, faz parte das ações da Pasta para a valorização e a preservação da diversidade cultural dos povos originários, celebrada nesta sexta-feira (19), Dia dos Povos Indígenas.
“Esse prêmio busca contribuir para manter viva a memória das expressões culturais dos povos indígenas, promovendo o reconhecimento de suas práticas artísticas e culturais, trazendo a importância dessa valorização dos saberes ancestrais, dos fazeres das culturas indígenas em nosso país. Não é apenas uma ação que busca a visibilidade da nossa rica diversidade étnica e cultural, mas sim o fortalecimento da nossa identidade cultural e seu papel fundamental na sociedade”, destaca a secretária de Cidadania e Diversidade Cultural, Márcia Rollemberg.
No total, o Vovó Bernaldina contemplará 110 iniciativas culturais, distribuídas em todas as regiões do país, e cada uma receberá o valor de R$ 30 mil. Na lista de premiados desta edição, o Coletivo Fulni-ô de Cinema, que nasceu no território da etnia Fulni-ô, no agreste de Pernambuco, soma 10 anos de trajetória. Seus filmes e documentários já alcançaram as telas de festivais nacionais e internacionais. Para Hugo Fulni-ô, um dos fundadores do coletivo, a arte também virou ferramenta de luta.
“A gente está trilhando dentro desse viés do cinema indígena, salvaguardando nossos bens culturais, a nossa língua e outros aspectos da cultura do nosso povo. O cinema indígena é uma ferramenta de luta hoje para os povos originais do Brasil e que busca fortalecer essas identidades. E isso vai criar muita força para gerações que vão vir posteriormente. A gente vem trabalhando também para formar outras cineastas indígenas e deixar essa semente para os jovens”, reforçou.
Já em Mato Grosso do Sul, foi o Rap que amplificou a voz do povo Guarani Kaiowá, quando jovens residentes das Aldeias Bororó e Jaguapiru, localizadas na Reserva Indígena de Dourados, a 235 quilômetros da capital Campo Grande, formaram o Brô Mc’s, o primeiro grupo de Rap indígena do Brasil. Misturando português e guarani em suas letras, os jovens cantam sobre a realidade dos locais em que vivem.
“O grupo nasceu dessa necessidade de poder gritar que o povo Guarani Kaiowá existe no Mato Grosso do Sul. O que a gente via na televisão, nas rádios e nas mídias sobre a aldeia não era a real. Então, a gente precisava falar o que estava realmente acontecendo e, assim, veio a união dessa força do Rap com a luta do povo indígena, com a cultura indígena. Dessa união, surgiu o novo estilo musical que é Rap indígena, trazendo toda essa questão do nosso povo, do nosso idioma, da dança, da reza”, explicou Bruno Vn, um dos idealizadores do projeto.
Premiado pelo Vovó Bernaldina, o Brô Mc’s surgiu em 2009. Ao longo desses anos de carreira, já se apresentam em festivais nacionais e internacionais, incluindo o Rock in Rio em 2022, um dos maiores festivais de música do mundo. Mas ressaltam que as ações de incentivo à cultura, como as premiações, são essenciais para que tenham ainda mais potência para expandir esse trabalho. “É importante valorizar a cultura tradicional e dar visibilidade também ao artista, porque a maioria dos artistas indígenas são independentes”, defendeu kelvin Mbaretê, membro fundador do grupo.
Segundo a diretora de Promoção da Diversidade Cultural do MinC, Karina Gama, as candidaturas inscritas refletem a diversidade e a complexidade dos povos indígenas. "Também reconhece a contribuição significativa dessas iniciativas para a preservação e promoção dessas culturas indígenas, demonstrando o impacto positivo que têm sobre as comunidades envolvidas”, completou.
Criado em 2006, o Prêmio de Culturas Indígenas está na 5ª edição e, em cada uma delas, homenageou uma personalidade importante na luta pelos direitos dos povos indígenas. Na lista de homenageados estão Vovó Bernaldina, Raoni Metuktire, Ângelo Cretã, Marçal Tupã-Y e Xicão Xucuru.