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INTERNACIONALIZAÇÃO
Interesse estrangeiro pela literatura brasileira cresce e MinC fortalece programa de apoio à tradução

Foto: Arquivo pessoal
Nos últimos anos, a literatura brasileira tem ganhado cada vez mais espaço internacional. Tanto escritores com suas obras clássicas, como Machado de Assis, Clarice Lispector e Jorge Amado, quanto autores contemporâneos, como Conceição Evaristo, Ailton Krenak, Eliana Alves Cruz, Jarid Arraes, entre outros, vêm conquistando leitores em diferentes partes do mundo.
Esse crescimento é reflexo de iniciativas que incentivam a tradução e publicação de obras nacionais no exterior, a exemplo do Programa de Apoio à Tradução e à Publicação de Autores Brasileiros no Exterior, gerido pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN), em parceria com a Secretaria de Formação Cultural, Livro e Leitura, Ministério da Cultura (MinC), e Instituto Guimarães Rosa, do Ministério das Relações Exteriores (MRE).
Instituído em 1991, como parte da Política de Internacionalização do Livro, tem o objetivo de oferecer suporte financeiro para editoras estrangeiras que desejam traduzir e publicar obras de escritores brasileiros. A iniciativa traduziu mais de 1.200 livros brasileiros para 45 idiomas, incluindo inglês, espanhol, francês, italiano, russo e chinês.
“O Programa de Apoio à Tradução, do alto de seus 30 anos, é uma das joias da Biblioteca Nacional. Difundir a literatura brasileira no exterior representa uma de suas marcas essenciais, abrangendo os quatro cantos da Terra. A diversidade de nossa cultura levada para o diálogo entre as nações, mediante a cultura da paz e da amizade. Esse programa de grande sucesso reflete a competência do Centro de Cooperação e Difusão da Biblioteca Nacional do Brasil”, destaca o presidente da Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi.
Segundo a FBN, alguns fatores explicam esse aumento da procura por obras nacionais. Entre 2012 e 2014, o Brasil foi homenageado em diversas feiras literárias internacionais, o que resultou em um número significativo de traduções e apoios concedidos pelo programa. O mesmo ocorreu nos anos de 2023 e 2024, já com a gerência da Secretaria de Formação, Livro e Leitura (Sefli). Nestes períodos, houve um grande aumento na procura pela literatura brasileira. Além disso, um fator decisivo para essa expansão foi o intenso trabalho de divulgação do edital do Programa de Apoio à Tradução, realizado pela FBN junto às embaixadas estrangeiras.
“A gente tem notado, nas feiras de livro em que o Brasil vem sendo homenageado, agora por último, por exemplo, fomos o país homenageado na Feira do Livro de Havana. Em 2023 também, na feira do livro de Bogotá, também na Feira do Livro de La Paz, Bolívia, entre outras. Ou seja, tem um mercado muito atento, ao que estamos produzindo do ponto de vista literário”, comenta Jéferson dos Santos Assumção, diretor de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas do Ministério da Cultura (MinC).
Segundo o diretor, o programa de tradução é muito importante para o posicionamento da literatura brasileira no exterior, uma vez que há um interesse de diversos países.
“Quanto mais a gente promove a tradução, mais a gente promove o intercâmbio cultural. Então, quanto mais a gente se abre para o diálogo com outras culturas, outras literaturas, mais a gente ganha com isso, e mais a gente mostra um país criativo. Um país que tem uma literatura de alta intensidade, e que está sendo valorizada, nesse aumento bastante grande de livros publicados no exterior ", analisa.
Autores brasileiros conquistam o público internacional
Entre as autoras beneficiadas pelo programa, está Jarid Arraes, com o romance Corpo Desfeito, que foi contemplado no Edital Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), traduzido para Portugal. Nascida no sertão do Ceará, na região do Cariri, vê sua trajetória profissional dar um salto ao alcançar leitores estrangeiros.
“Eu me senti muito honrada. Receber um reconhecimento com toda essa relevância é algo impactante e recompensador, especialmente levando em consideração que sou uma mulher que nasceu e cresceu no sertão do Ceará. É crucial que programas como esse cumpram o papel de representar toda a bibliodiversidade brasileira, toda a riqueza da nossa língua, do vocabulário diverso que existe em diferentes estados do país. Recebo essa notícia com um sentimento de admiração pela existência desse programa”, celebra.
A autora relembra o início da carreira como escritora independente, publicando seus próprios livros em um mercado editorial que, na época, oferecia poucas oportunidades para vozes fora do eixo Sudeste.
“Eu lembro de criar tabelas analisando os livros nacionais que eram publicados pelas editoras e me decepcionar com a quantidade baixa de obras escritas por mulheres e por autores de outras regiões do Brasil. Ouvi muitas vezes que o mercado não tinha interesse no que eu escrevia, porque os leitores não tinham interesse também. No entanto, eu vendia meus livros e meus cordéis pelas redes sociais e tinha muito sucesso, muitos leitores. Foi quando perceberam que eu tinha construído uma carreira sólida como autora independente que fui convidada por editoras que me publicaram. Hoje tenho leitores maravilhosos no Brasil inteiro e vejo que o mercado está evoluindo para a bibliodiversidade da literatura brasileira”, disse.
Essa diversidade é essencial para que a literatura brasileira tenha reconhecimento por sua pluralidade linguística e cultural, ressalta. “Nós temos muita riqueza literária que merece ser traduzida e reconhecida em outros países. Para minha carreira, alcançar leitores estrangeiros é uma conquista inestimável. Representa a valorização de um trabalho artístico que contribui para a literatura brasileira com personagens, ambientações e vocabulário que ainda não possuem o merecido alcance e reconhecimento”, conta Jarid Arraes.
Ela analisa que os interesses de leitores de outros países pela literatura brasileira demonstram que as obras literárias são universais, possuem qualidade técnica e criativa, contribuem profundamente para a expansão do pensamento crítico e da capacidade de aproximação humana.
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Dados
No primeiro edital de 2023, foram 24 inscrições e 22 editoras apoiadas. No segundo edital, lançado no mesmo ano, com apoio financeiro da Secretaria de Formação, Livro e Leitura (Sefli) e do Instituto Guimarães Rosa (IGR) foram recebidas 136 inscrições, com 113 apoios concedidos.
Em 2024, as inscrições foram finalizadas em 6 de outubro, e o número de interessados na iniciativa subiu para 310, evidenciando o crescente interesse internacional pela literatura brasileira, com 113 projetos apoiados de editoras de 25 países. Entre os selecionados estão Argentina, Estados Unidos, México, Itália, França, Bolívia, Alemanha, Colômbia, Grécia, Rússia, China, Reino Unido, Noruega, Turquia, Peru, Suécia, Egito, Espanha, San Marino, Dinamarca, Filipinas, Cuba, Moçambique, Portugal e Azerbaijão.
No total entre o ano de 2023 e 2024, a iniciativa apoiou 239 editoras e destinou mais de R$ 3 milhões à tradução de títulos nacionais.
As obras mais traduzidas pelo programa incluem Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, além de A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, todas com pelo menos dez traduções registradas. Sendo o espanhol, o francês, o inglês e o alemão os idiomas mais alcançados.