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I Encontro Regional Norte de Agentes Territoriais de Cultura começa em Belém (PA)

Foto: Pierre Azevedo
Começou nesta terça (18), o I Encontro Regional Norte de Agentes Territoriais de Cultura, evento realizado pelo Ministério da Cultura (MinC) em parceria com o Instituto Federal do Pará (IFPA) que ocorre em Belém (PA). A capital paraense será palco de três dias de debates sobre os saberes e fazeres da cultura nortista, visando fortalecer a articulação entre agentes territoriais de cultura da região Norte, promover a troca de experiências e aprofundar as diretrizes do Programa Nacional dos Comitês de Cultura (PNCC).
Esse é o primeiro de cinco encontros que devem acontecer ao longo de 2025, um em cada uma das cinco regiões do país, com o intuito de fortalecer a cultura nos territórios, ampliar a participação social e o acesso às políticas culturais. Durante a abertura oficial do evento, a diretora de Articulação e Governança do MinC, Desiree Tozi, explicou porque a Região Norte está inaugurando esse ciclo.
“Os desafios da Amazônia impõem questões específicas que precisam ser enfrentadas e adaptadas para o restante do Brasil. O MinC escolheu iniciar os encontros regionais dos agentes territoriais pela região Norte porque essa região serve como referência para modelar o formato dos encontros, fóruns de discussão e avaliação do Programa Nacional dos Comitês de Cultura”, destacou.
Desiree também lembrou a importância dos agentes territoriais de cultura para alcançar um dos principais objetivos do PNCC, que é transformar a forma como as políticas culturais chegam às comunidades.
“Os agentes territoriais são fundamentais para essa construção, pois atuam diretamente na tessitura do território. Com o programa, fortalecemos o Sistema Nacional de Cultura e promovemos políticas culturais federais, estaduais e municipais interligadas. Ao longo do ano de formação, os agentes estarão mais capacitados e aptos a atuar com a cara da Amazônia, considerando questões como logística, diversidade cultural e formas de organização social da região”, concluiu.
Territórios
Representantes de todos os sete estados da Região Norte participam do encontro. A coordenadora-geral da Secretaria dos Comitês de Cultura do MinC, Mirela Araújo, lembrou a complexidade da realidade amazônica e a importância de um encontro presencial para reunir os agentes.
“Sabemos que muitos de vocês vieram de longe, enfrentando 14, 16 horas de viagem, seja de ônibus, carro ou avião. E essa é apenas a primeira edição deste encontro. O Norte é um ponto de partida essencial, pois é daqui que saem experiências que serão reproduzidas e servirão de modelo para os próximos eventos”, destacou.
Já Ana Paula Santana, reitora do IFPA, que é parceiro do MinC na realização do encontro e na organização do programa de formação de agentes territoriais de cultura, explicou que o objetivo da instituição “é garantir que os agentes territoriais de cultura tenham a melhor formação possível e que o IFPA continue multiplicando vozes, identidades e saberes”.
Cultura na Amazônia
A diversidade brasileira não está apenas na cultura, mas também nos desafios para ter acesso aos recursos que permitem sua produção e disseminação. Nahare Anika, agente territorial de cultura no Oiapoque (AP), comenta sobre a realidade dos agentes territoriais de cultura, especialmente em comunidades ribeirinhas e indígenas.
“A maior dificuldade é a distância e a demora na chegada da informação. Quando as notícias e oportunidades, como editais, chegam até nós, muitas vezes o prazo já está quase encerrando, o que dificulta a mobilização das comunidades para participar. Além disso, o acesso à internet e o transporte são desafios constantes. Moro em uma aldeia onde a internet é precária, e já perdi prazos importantes porque precisei me deslocar até a cidade para conseguir enviar trabalhos. Da minha aldeia até a BR são 6 km a pé, e da BR até o município são mais 18 km. Esse deslocamento é um grande obstáculo para nós”, explicou.
Além da logística, questões sociais são outros complicadores no fazer cultural da região. Danielly Daissak, agente em Marabá (PA), aponta a violência como um problema a ser combatido. Nestes territórios, programas e ações culturais são ferramentas de enfrentamento.
“Essa iniciativa de bolsistas que valorizam tanto as mulheres quanto as pessoas jovens, traz o reforço dessa novidade e tradição. A gente traz inovação, respeitando o que vem antes. Então, é algo poderoso e vem para valorizar o nosso fazer de uma forma que a gente consiga também repassar isso para outras mulheres, por exemplo”, destacou.
Em toda a Amazônia nortista, o acesso à cultura esbarra em desafios que se assemelham, ao passo que guardam suas especificidades. De Rondônia, Rafaela Moreira, estudante de teatro e agente audiovisual, lembra que em seu estado ainda há poucas pessoas trans que produzem na área, mas que esta realidade tem mudado com as leis de fomento.
“Na pandemia eu aprovei um projeto na Lei Aldir Blanc e foi assim que eu comecei a trabalhar com a produção cultural voltada para a comunidade LGBT. E depois eu vim observando que outras pessoas também foram acessando esses recursos a partir dessa movimentação. E o fato de eu ser agora agente territorial de cultura pode ser uma possível referência para essas pessoas, nessa referência de incentivar, de abrir novos caminhos”, avaliou.
Programação integrada
Ao longo do evento, outras atividades estão programadas, incluindo oficinas, painéis temáticos, visitas externas a projetos culturais de Belém e uma programação cultural com artistas e fazedores de cultura da região. Na noite de abertura, os agentes territoriais de cultura assistiram a um concerto no Theatro da Paz, uma das casas de espetáculos mais antigas da Amazônia e que está em candidatura a Patrimônio Mundial da Unesco.
A apresentação ficou por conta de uma formação inédita composta por músicos de bandas do IFPA de quatro campis diferentes: Belém, Castanhal, Tucuruí e Itaituba. No repertório, clássicos da música paraense como “Ao pôr-do-sol”, de Teddy Max, com a regência do professor do Campus Castanhal, Hudson Trindade, e “Palavras”, de Marcello Wall, com a regência da professora do Campus Belém, Weiller Pessoa.
O I Encontro Regional Norte de Agentes Territoriais de Cultura vai até o dia 20 de março e a expectativa é de que o evento proporcione debates qualificados, além de trocas de experiências, e colabore para a construção de estratégias de fortalecimento da cultura em cada território representado.