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REPARAÇÃO HISTÓRICA
Herança dos povos originários, Manto Tupinambá é apresentado oficialmente ao país
Foto: Tarcisio Boquady/ MinC
“O retorno desse ancião representa a retomada de uma história que foi apagada, uma história que precisa ser contada e preservada”, disse o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia oficial de recondução do Manto Tupinambá ao Brasil, nesta quinta-feira (12), no Museu Nacional do Rio de Janeiro.
Produzido com milhares de penas vermelhas de pássaros Guará e com 1,80m de altura, o Manto Tupinambá, vestimenta sagrada para essa etnia brasileira, impressiona pela suntuosidade e resistência ao tempo. São quase 400 anos desde sua confecção, 335 deles passados no Museu Nacional da Dinamarca. A recondução faz parte de um movimento global que está trazendo artefatos de volta aos países que foram colonizados. E foi acompanhada por representantes da etnia.
O retorno do manto, até então parte do acervo do Museu Nacional da Dinamarca, é um marco e o começo de uma nova história de conquista do povo indígena.
"Trata-se do primeiro item indígena de simbolismo espiritual a voltar ao país depois de tantos anos ausente. Talvez, para os não-indígenas, seja difícil imaginar a dimensão espiritual que o manto sagrado tem para os Tupinambás. É forte e muito bonito conhecer o seu real significado, que para nós é uma obra artística de rara beleza, mas para o Tupinambá é uma entidade", completa Lula.
O secretário-executivo do Ministério da Cultura (MinC), Márcio Tavares, celebrou o momento histórico. “O retorno do Manto Tupinambá ao Brasil é mais que um ato simbólico, o Manto veio nos comunicar sobre a importância da conexão com a nossa ancestralidade. Para o povo originário, esta é uma vestimenta espiritual que liga passado e presente. Representa a resistência dos saberes”. Além dele, representaram o MinC, a secretária de Cidadania e Diversidade Cultural, Márcia Rollemberg; e a presidenta da Fundação Nacional das Artes (Funarte), Maria Marighella.
Segundo Márcio, ao compreender que os debates sobre patrimônio cultural devem ter por premissa uma consciência histórica, defende-se que esses processos permitam a elaboração de narrativas dos próprios povos detentores das memórias vinculadas a essas referências culturais.
Para a ministra dos povos indígenas, Sônia Guajajara, o retorno do Manto marca o compromisso do governo em olhar para o passado colonial do país de maneira crítica. “Visibilizando também a atuação política dos povos indígenas e a construção de um futuro de justiça, dignidade e de respeito”.
"Celebramos um momento histórico para o Brasil com o retorno do Manto Tupinambá, um símbolo da cultura indígena brasileira e um elo com a ancestralidade da nossa nação. É um ato de justiça devolver ao Povo Tupinambá um patrimônio sagrado. Mas também reforça o nosso compromisso na promoção das culturas indígenas e na valorização do patrimônio cultural brasileiro, ao reafirmar que os bens culturais não são meros objetos musealizados, mas elementos vivos da cultura", avalia a secretária de Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC) do MinC, Márcia Rollemberg.
Antes da cerimônia oficial de retorno, o presidente e a comitiva visitaram o Manto que está acondicionado na biblioteca central do Museu Nacional, em uma sala com vidros escuros, um espaço pequeno que tem controle de temperatura, umidade baixa e luminosidade reduzida. Em vigília desde terça-feira (10), os tupinambás viajaram de ônibus da Bahia ao Rio de Janeiro, para prestar homenagens ao artefato ancestral.
Ações do MinC
O Ministério da Cultura tem trabalhado para promover ações de valorização e preservação da diversidade cultural dos povos indígenas. Como a política de cotas para a população indígena dentro da Lei Paulo Gustavo (LPG) e da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB); esforços por meio da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do MinC, para que etnias indígenas sejam reconhecidas como Pontos de Cultura para acessarem os editais e recursos; criação de um grupo de trabalho com a participação de lideranças indígenas, para a construção do Plano Nacional de Culturas Indígenas.
No âmbito do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), o incentivo para museus brasileiros utilizarem o Cadastro Nacional de Bens Musealizados Desaparecidos, que é uma base de dados criada para difundir informações sobre acervos musealizados ou declarados de interesse público, que estejam desaparecidos.
Já o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), conduz o Inventário Nacional de Línguas Indígenas, ferramenta para a preservação e valorização da diversidade linguística do Brasil. O inventário contribui para garantir os direitos linguísticos dessas comunidades, promovendo o respeito à sua cultura, além de ser um recurso para pesquisadores e educadores, permitindo o estudo das línguas e a inclusão do conhecimento indígena nos currículos escolares.
Participaram ainda da cerimônia a primeira-dama Janja da Silva; o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues; e a presidente da Funai, Joenia Whapichana.