Notícias
DEBATE
Festival celebra a mulher negra, indígena, latino-americana e caribenha
Foto: Filipe Araújo/ MinC
A reza cantada de Cintia Guajajara marcou a abertura do painel Bem Viver, Políticas Públicas e Urgências Sociais - mesa inaugural do Festival Latinidades - uma celebração às mulheres negras, que se estende também às indígenas e caribenhas. E foi, exatamente, o canto da representante da Aldeia Lagoa Quieta, na Terra Araribóia, no Maranhão, que embalou a chegada da ministra da Cultura, Margareth Menezes, ao evento.
A líder do MinC foi uma das convidadas na discussão sobre políticas públicas como fomentadoras do bem viver. Os programas, editais e leis executadas pelo ministério nesses primeiros seis meses, explicou, contemplaram raça, gênero e origem social, com um modelo único de descentralização de recursos. “São medidas e cotas para atender as artistas, as mulheres negras, afro-indígenas, porque nós entendemos que o povo brasileiro precisa reconhecer a necessidade dessas ações de reparação para equilibrar as coisas, precisamos fazer a diferença nesse Brasil”.
Margareth Menezes detalhou duas ações em andamento: o edital Ruth de Souza, que vai investir R$ 20 milhões em 10 propostas de longas-metragens dirigidos por mulheres estreantes. Cada projeto escolhido terá um financiamento no valor de R$ 2 milhões. E o Prêmio Carolina Maria de Jesus de Literatura Produzida por Mulheres em 2023. A iniciativa proporcionará R$ 2 milhões em recursos públicos para reconhecer trabalhos inéditos escritos por mulheres, o que torna o edital o maior desse tipo na história do Brasil. Das 40 obras selecionadas, ao menos 20% serão de mulheres negras, 10% de mulheres indígenas, 10% de mulheres com deficiência, 5% de mulheres ciganas e 5% de mulheres quilombolas.
Antes de iniciar sua fala, a ministra Anielle Franco saudou as mulheres negras e as mais velhas, “porque a gente tem que reconhecer quem veio antes de nós”. Em seis meses à frente do Ministério da Igualdade Racial, elencou as ações de reparação e fortalecimento do público alvo do Festival. “O bem viver é uma política pública e uma urgência social. Os desafios não podem nos fazer perder esse horizonte”.
Ela reforçou ainda que o dia 27 de julho, portanto dois dias após a data escolhida para o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, comemora-se também o aniversário de sua irmã, Marielle Franco. Muito emocionada ao citar o legado da vereadora assassinada em março de 2018, ela foi categórica: “A política vai ter que aguentar a mulher preta do jeito que ela é”.
Com a promessa de “mulherizar, reflorestar e indigenizar a política”, a deputada federal Célia Xakriabá elencou episódios sistêmicos de discriminação às mulheres no ambiente parlamentar, e citou a campanha #ElasFicam, que trata de seis deputadas com seus mandatos sob risco. Erika Kokay (PT/DF), Fernanda Melchionna (PSOL/RS), Juliana Cardoso (PT/SP), Sâmia Bomfim (PSOL/SP), Talíria Petrone (PSOL/RJ) e a própria Célia enfrentam processos no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados e correm o risco de perderem seus mandatos no que ela classifica como uma "ofensiva violenta contra mulheres que foram democraticamente eleitas pelo povo". E brincou usando a rica Língua Portuguesa: “Querem nos cassar? Logo nós que somos caçadoras!”
Rita Cristina de Oliveira, secretária Executiva do Ministério dos Direitos Humanos (MDH), compartilhou vivências dos dez anos em que atuou como defensora pública e como essa experiência é fundamental ao trabalho desenvolvido hoje no MDH.
A mediação da mesa foi feita por Carmela Zigone, do Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC).
Festival
O Festival Latinidades começa hoje (6) e segue até o dia 30 de julho em quatro cidades: Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador. Com multilinguagens, diálogos com o poder público, organizações não-governamentais, movimentos sociais e culturais, universidades, redes, coletivos e outros grupos.
O projeto foi pioneiro em dar visibilidade ao dia 25 de julho, que tem ganhado força como uma espécie de 8 de marco da mulher negra. Anualmente aborda temáticas que se desdobram em oficinas e mesas de debate com especialistas de todo o país, bem como convidadas internacionais. O resultado das experiências e falas dessas especialistas resultaram em 6 publicações-referência.
As ações que compõem a programação do festival são: debates, palestras, oficinas, vivências, painéis, conferências, lançamentos literários, rodada de negócios, desfiles e apresentações de dança, teatro e música.
Acesse a programação completa do Festival Latinidades aqui.