Notícias
NA ONDA DO RÁDIO
Dia Nacional da Radiodifusão: Mais de um século influenciando a formação cultural no Brasil
Eu sou uma Maria quarquér, uma dessas muié, qui vivi na roça, qui viaja di carroça, di cavalo ou a pé. Eu sô uma Maria quarqué. Dessas que acorda cedin, faz o bolo i o café, cuida da casa, du quintá, dus bichin, dos animá, qui sustenta o brasí di pé. O trecho do poema Uma Maria quarquér, que retrata a vida de trabalhadoras rurais do país, mudou a vida da produtora rural e escritora, Kennia Silva, ao ser lido em 2006, no programa de rádio Viva Maria, veiculado pela Rádio Nacional da Amazônia, emissora da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
Essa e outras histórias que alcançam, pelas ondas do rádio, ouvintes de todo país, ilustram o poder desse meio de comunicação que faz 101 anos sendo ferramenta de democratização da cultura e da informação.
Moradora de uma zona rural em Xinguara, no Pará, Kênnia, ouvinte assídua do Viva Maria, sensibilizou-se e começou a escrever a poesia ao ouvir, pela voz da jornalista Mara Régia di Perna, o pedido de ajuda de uma mulher que não conseguia se aposentar. A poesia ficou incompleta no papel e anos depois, Kennia retomou a história de Maria ao sofrer uma situação de injustiça social. Ela enviou a poesia para ser lida por Mara em seu programa.
“A partir daí começou uma transformação na minha vida e de muitas mulheres que se identificaram com a poesia. Quando eu resolvi escrever essa poesia, eu tinha a 5ª série do Ensino Fundamental, morava numa casinha de tábua na zona rural, sem energia elétrica, com filhos pequenos, realidade de muitas Maria dessa Amazônia de meu Deus e o rádio não só me ouviu, não só acolheu a minha poesia, como foi um divisor de águas na minha vida”, explica Kênnia, que hoje possui três graduações e é embaixadora da campanha mulheres rurais, mulheres com direito.
Maria Régia, pioneira na democratização da rádio pública no Brasil, há mais de 40 anos navega nas ondas da Rádio Nacional da Amazônia. Ela conta que o programa Viva Maria, traduz o aplauso que a sociedade deve fazer em relação às mulheres pioneiras que começaram sua luta na cultura. “A história do Viva Maria traduz com muita singularidade a importância da comunicação pública no Brasil”.
“Só conhece o Brasil quem conhece a Amazônia, não só pela sua biodiversidade, mas acima de tudo pela qualidade das gentes que estão por lá. A rádio Nacional da Amazônia é uma potência, você não tem nenhuma outra emissora no país, quiçá no mundo, que converse com os 9 estados da Amazônia”, exemplifica.
Thiago Regotto, Gerente Executivo de Rádios da EBC, explica que o rádio no Brasil tem um papel de integrar esse país tão continental. “O rádio ajudou a formar o que a gente tem hoje na sociedade. Foi através de emissoras públicas que o Brasil conseguiu se consolidar não só no gênero radiofônico, mas também nas culturas que a gente tem até hoje. O rádio público através de emissoras de todo país tem esse papel de falar com o brasileiro independente de quem ele seja e onde ele esteja, e dar acesso à educação, à cultura, à cidadania, a todo tipo de serviço que o rádio tem como oferecer”, comenta.
“O rádio é parceiro constante da cultura. A cultura anda casada com a rádio pública, toda a difusão cultural no século passado deve muito ao rádio. A MPB se formou através do rádio, a difusão de música clássica que a rádio MEC faz tem o seu caminho por conta do rádio, você tem a cultura do audiovisual, que vem da história do rádio e vai para a TV, o cinema”, conclui Thiago.
Não a toa, o veículo é presença constante nas ações do Sistema MinC. Apenas no segundo semestre de 2023, houve participação de presidentes de entidades vinculadas, como Fernanda Castro, do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), da secretária de Cidadania e Diversidade Cultural, Márcia Rolemberg; do secretário de Formação Livro e Leitura, Fabiano Piúba; além do secretário-Executivo do MinC, Márcio Tavares; e da própria ministra da Cultura, Margareth Menezes, em programas nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sul, bem como, no tradicional Voz do Brasil, de alcance nacional.
O secretário-Executivo do MinC, Márcio Tavares, que também é membro do Conselho de Administração da EBC, celebra o poder das rádios públicas para a democratização da cultura. “Muitas vezes é por meio das rádios públicas que chegamos aos rincões do país e essa é uma premissa fundamental do Ministério da Cultura, valorizar a cultura regional, os fazedores de cultura de todas as regiões, abrindo espaço e fazendo com que essas populações se reconheçam enquanto agentes culturais, agentes de direitos”.
Dia Nacional do Rádio
O Dia Nacional do Rádio é comemorado todo dia 25 de setembro, em homenagem ao nascimento de Edgar Roquette-Pinto, considerado o pai da radiodifusão no Brasil. Roquette-Pinto fundou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, hoje a Rádio MEC, emissora de rádio mais antiga do Brasil.