Notícias
G20
Criatividade como ferramenta de combate à mudança do clima? Painel discute recurso como alternativa
Fotos: Victor Vec/ MinC
Quando a maré sobe, os moradores que precisam fazer a travessia entre Santos e o distrito de Vicente de Carvalho, no Guarujá, litoral de São Paulo, têm duas opções: abaixar dentro das embarcações e passar rente à estrutura de concreto do porto ou aguardar a água baixar. “Mas quem quer contar essa história?”. A provocação de Georgia Nicolau, fundadora e diretora-executiva do Instituto Procomum, evidenciou formas possíveis para falar sobre os impactos das mudanças do clima.
Durante o painel Como criatividade e inovação podem contribuir com o debate acerca do combate às mudanças climáticas?, que integra a programação do Seminário Internacional sobre Cultura e Mudança do Clima, a ativista e empreendedora social com mais de 20 anos de experiência compartilhou vivências e, usando o exemplo das embarcações rústicas tradicionais para a localidade paulista, mostrou os efeitos das transformações do meio ambiente na ponta.
Já Cristiane Fontes, a Krika, diretora-executiva do WRI Brasil, pontuou que o maior desafio colocado hoje para ampliar o alcance do debate acerca das mudanças climáticas é encontrar formas criativas de falar com um público não engajado. “Os atores que trabalham com ativismo ainda têm uma linguagem pouco acessível, entranhada de jargões. Precisamos envolver influenciadores não apenas em ações pontuais e emergenciais, mas de maneira longeva”.
“Transição justa se tornou a nova ‘sustentabilidade’. É um termo que pode se esvair de sentido e que está em disputa”, completou, ao dizer que muitos atores tem se apropriado de termos e expressões que acabam sendo esvaziadas de sentido, até por isso, é desafio comunicar o que significam efetivamente.
Graciela Guarani iniciou sua fala com uma saudação Guarani Kaiowá. A produtora cultural, comunicadora, cineasta, curadora de cinema e professora tratou da dificuldade em transpor o fazer cultural para fora da comunicação nichada atribuída aos profissionais indígenas e como o conhecimento milenar dessa população pode enriquecer o debate sobre os aspectos ambientais e climáticos.
“Eu consegui transformar, com muito esforço, o pouco que eu tinha em uma pequena produtora. Imagina se a gente conseguisse alcançar esses mais de 300 povos? Não tô falando de levar a todos, mas de transpor essas paredes e mostrar isso a outros produtores e localidades”, explica.
Para Graciela, “estamos tirando o mínimo para destruir o resto”. Perspectiva imediatista, que não pensa a médio e longo prazo, mas, acima de tudo, nem considera os povos originários, profundos conhecedores do tema. “Quando a gente fala de democratização do acesso é poder participar, colocar nossas ideias. Oportunizar os vários trabalhos que a gente faz com imagem só funciona se a gente está junto”, finalizou.
Estela Renner chief creative officer, sócia e cofundadora da Maria Farinha Filmes, cocriou, coescreveu e dirigiu a série roteirizada Aruanas, vista por 35 milhões de pessoas. Ela explica que, apesar da temática comumente dividir opiniões, já que a obra aborda temas densos como o direito indígena, o garimpo, exploração sexual de crianças e a poluição da água, a série já garantiu uma segunda temporada porque soube encontrar recursos, na narrativa, para despertar interesse do público.
“A gente fica feliz em ver como o Brasil acredita no conceito de floresta em pé”, revelou ao explicar que em uma pesquisa realizada logo após a primeira temporada, as pessoas revelaram acreditar na necessidade da preservação e de discussões qualificadas sobre o tema, de olho não apenas no futuro, mas no agora.
A mesa foi mediada pela gerente de Assuntos Governamentais e Políticas Públicas do YouTube, Brasil e Mercados Emergentes, Erika Alvares.
O Seminário Internacional sobre Cultura e Mudança do Clima é uma realização do Ministério da Cultura em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e a Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil (OEI), com apoio do Governo da Bahia, da prefeitura de Salvador, do BYD, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Universidade Federal da Bahia (UFBA) e patrocínio do YouTube.
Acompanhe mais nas nossas redes
Flickr: https://www.flickr.com/photos/ministeriodaculturaoficial/albums
Instagram: https://www.instagram.com/minc