Tecnologia para conectar a ancestralidade é assunto da palestra magna do MICBR

A tecnologia como ferramenta de visibilidade das questões indígenas e das populações extrativistas do Norte do Brasil, bem como elemento de conexão da juventude com a ancestralidade, foram temas da palestra magna Amazônias, tecnologias e juventude: O futuro que queremos. A atividade foi realizada nesta sexta-feira (10), no Palco Amazônia Futurista, durante a programação do Mercado das Indústrias Criativas do Brasil (MICBR) 2023, em Belém.

“A tecnologia me possibilita levar essa existência que eu sou e a existência dos povos (indígenas), possibilita a gente transitar entre vocês sem ser visto como exótico, o diferente, que vem condicionado à inferiorização”, destacou a cineasta e roteirista indígena Graciela Guarani. Ela dividiu a mesa com o escritor e cineasta Sérgio Carvalho, há 20 anos radicado no Acre, e com o diretor-presidente do Instituto Cultural Vale, Hugo Barreto. A mediação foi do apresentador e empresário A. D Júnior.

“Há 37 anos eu negocio a minha sobrevivência através da imagem. A imagem veio trazer para mim a interculturalidade, percebi que as pessoas conseguiam me escutar e me entender minimamente”, destacou. Para Graciela, a visibilidade não é suficiente, mas o fortalecimento da oralidade indígena e a desconstrução do preconceito que a possibilite sobreviver como profissional comunicadora e de imagem.

Sérgio Carvalho é natural de São Paulo e contou que, antes de chegar ao Acre, imaginou um lugar repleto de palafitas, mas se surpreendeu e se apaixonou pela realidade social, ambiental e cultural encontrada. “Passo por processo constante sobre descolonização do meu olhar sobre o território em que vivo hoje. É um estado progressista cheio de ideias, de coisas acontecendo do ponto de vista social, ambiental e cultural”.

Empenhado em interagir com povos indígenas e de populações extrativistas, ele comparou a tecnologia com os conhecimentos ancestrais, que historicamente apontaram soluções para as necessidades sociais em diversos aspectos, “vivendo da floresta sem destruir a floresta”, definiu. Ele enalteceu a juventude que, de posse das ferramentas da tecnologia, se mantém conectada à ancestralidade.

Investimentos

Já Hugo Barreto falou das ações fomentadas pelo Instituto Cultural Vale, criado em 2020. A Vale atua há 20 anos na promoção do acesso à cultura, diversidade e ao desenvolvimento de comunidades. “Este ano, estamos com mais de 100 projetos na Amazônia Legal e mantemos dois institutos na Amazônia: o Centro Cultural Vale Maranhão e a Casa da Cultura de Canaã dos Carajás, no Pará”, destacou.

Entre as ações realizadas está o patrocínio da Bienal das Amazônias, que reúne obras de 121 artistas da região, e que levará, de barco, a arte para comunidades sem equipamentos de cultura. Além disso, ele contou que o programa Vale Música formou mais de 20 mil crianças e jovens oriundos de escolas públicas, sendo mais de 77% negros e indígenas; entre outros projetos como Hacklab, um micro-ônibus adaptado que mistura ateliê, oficina, galeria de arte, museu de engenhocas e feira de ciências itinerante; e o patrocínio de eventos como o Festival Amazônia Mapping. “O futuro está sendo criado hoje com conexões em rede. Só podemos criar futuros sustentáveis se estivermos juntos nessa rede”, finalizou Hugo.