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INTERCÂMBIO
Com representação do Iphan, Brasil participa de intercâmbio no campo do Patrimônio Cultural de matriz africana
Foto: Iphan
A museologia e a cultura afro do Brasil e Estados Unidos tiveram um encontro direto no Programa Afro-Connections, em Washington DC, capital americana. Durante sete dias, representantes de instituições culturais dos dois países trocaram experiências no campo do Patrimônio Cultural de matriz africana e de comunidades afrodescendentes. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) foi representado pela arqueóloga Raquel da Silva Santos, que integrou a delegação brasileira formada por dez especialistas.
Os representantes brasileiros se reuniram com pesquisadores do Centro de Patrimônio Cultural do Departamento de Estado dos EUA. Os principais temas abordados nos encontros foram o patrimônio cultural afro-diaspórico, a construção coletiva de novas memórias para a população negra e a reivindicação de direitos.
“Com essa experiência, pudemos observar como os Estados Unidos têm lidado com a questão do patrimônio afro-americano, especialmente em relação à repatriação de acervos, gestão compartilhada e construção de museus comunitários. É uma troca de conhecimento que vai favorecer muito as nossas políticas públicas, assim como nossa atuação no campo do patrimônio”, explica Raquel Santos, arqueóloga do Centro Nacional de Arqueologia (CNA/Iphan) e integrante do Comitê Permanente de Preservação do Patrimônio Cultural de Matriz Africana (Copmaf/Iphan).
Cais do Valongo em exposição
Um dos principais eventos dessa cooperação foi a participação brasileira na exposição In Slavery’s Wake: Making Black Freedom in the World (Na esteira da escravidão: conquistando a liberdade negra no mundo), que contou com parte do acervo do Cais do Valongo, reconhecido como Patrimônio Mundial pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). A exposição foi organizada pelo Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana (NMAAHC) do Smithsonian e narra a trajetória das populações negras em diáspora.
“A exposição traz toda a memória do que aconteceu e que não queremos que se repita. Para isso, cedemos durante um tempo peças do acervo do Cais do Valongo para poder retratar esse passado e, ao mesmo tempo, refletir sobre o nosso futuro. Com isso, conseguimos constituir uma ação antirracista, de promoção da igualdade racial, juntamente com todos os envolvidos nessa exposição”, detalhou Gracy Mary Moreira, presidente bipartite do Comitê Gestor do Cais do Valongo e gestora da Casa da Tia Ciata. Outros museus, como o de Arte Africana, também foram visitados pelos pesquisadores brasileiros.
A ideia do Afro-Connections é promover práticas museológicas éticas e inclusivas, com foco em participação social e na amplificação das vozes dos agentes que atuam com o Patrimônio Cultural das comunidades afrodescendentes. Para Raquel Santos, iniciativas como esta são fundamentais para a proteção da dignidade e da cidadania das pessoas negras ao dar visibilidade ao protagonismo dessa população na construção de sua própria história e à contribuição delas à formação histórico-cultural de ambos os países, apagados pelo contexto colonial.
“A valorização do patrimônio de matriz africana e as pesquisas nesse campo permitem o reconhecimento de memórias que foram historicamente soterradas e a reivindicação de direitos sociais tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Há um resgate dessas identidades marginalizadas ao longo do tempo”, completou a arqueóloga.
Até novembro de 2025, o grupo participará de atividades de aprendizado e formação e intercâmbio de práticas focadas na proteção, salvaguarda e promoção da história e da cultura afros, em instituições tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. De modo virtual, serão realizadas reuniões de trabalho que darão seguimento ao desenvolvimento dos conceitos e planos iniciados durante a visita aos Estados Unidos.
Afro-connections e as relações entre Brasil e Estados Unidos
O Afro-connections é promovido e implementado pelo Escritório de Assuntos Globais do Smithsonian, com o apoio do Centro de Patrimônio Cultural do Departamento de Estado dos EUA e da Embaixada dos EUA no Brasil.
O programa terá duração de dois anos e contará com a participação de 34 brasileiros, incluindo representantes do Iphan, do Ministério da Cultura (MinC), do Ministério da Igualdade Racial, do Museu da História e da Cultura Afrobrasileira – Muhcab, da Fundação Palmares, do Comitê Gestor do Sítio Arqueológico Cais do Valongo, do Museu Histórico Nacional (RJ), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Diáspora Black, entre outras. A realização do intercâmbio faz parte das comemorações dos 200 anos das relações diplomáticas entre os dois países.