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MEMÓRIA
8 de janeiro: relembrar para que nunca mais aconteça
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil
No fatídico dia 8 de janeiro de 2023, testemunhamos uma tentativa de golpe que não pode ser ignorada. O que transcorreu nesta data foi mais do que um ato isolado: foi a exposição brutal do ódio e desrespeito cultivado ao longo dos anos por um campo político por um campo político contra as instituições democráticas brasileiras e pelo nosso patrimônio artístico-cultural comum.
A hostilidade que se manifestou naquele dia tinha como alvo não apenas a figura do presidente da república e os demais poderes, buscava solapar os pilares fundamentais da democracia. O intento de destruir o aeroporto de Brasília na noite de Natal havia sido um sinistro prenúncio das ameaças que pairavam sobre nossa nação e que se confirmariam dias depois.
O governo democrático do presidente Lula representa a diversidade do povo brasileiro. É uma visão inclusiva, plural e que considera a história do povo negro, dos povos originários, onde todas as regiões são reconhecidas como parte integrante da construção de um projeto de nação. Assim, nosso presidente tem capitaneado políticas de reparação e justiça social, que valorizam e celebram nossa ancestralidade, saberes e tecnologias negras e indígenas; que buscam corrigir as desigualdades e discriminações originárias de nosso passado escravagista, em busca de um sociedade mais justa, diversa.
O pensamento aberto e fraterno irrita uma parte retrógrada da sociedade, levando a discursos de ódio, perseguições públicas e a disseminação irresponsável de fake news.
O tratamento desrespeitoso aos jornalistas, os xingamentos nos colóquios parlamentares, a perseguição à classe artística e a instalação do chamado "gabinete do ódio" dentro do palácio presidencial são sintomas de uma polarização que já resultou em mortes por motivação política.
No dia 8 de janeiro, uma massa bestial, alimentada pela ignorância, destruiu símbolos de nossa nação, de nossa história e nossas lutas. Queriam a volta da Ditadura, da tortura, da repressão e da censura. Este grupo desejava impor ideias limitantes da liberdade pela força, perpetuando uma mentalidade de supremacia e imposição de dogmas.
A destruição do patrimônio público, filmada e publicada sem remorso, foi vista por milhões de brasileiros. Ao longo de poucas horas, o prejuízo ao patrimônio histórico cultural brasileiro foi incalculável. Peças como o relógio de Balthazar Martinot, presente recebido por Dom João VI e fabricado pelo relojoeiro a pedido do rei francês Luis XIV no século XVII, o quadro "As Mulatas", de Emiliano Di Cavalcanti, e a tapeçaria de Burle Marx são apenas algumas das peças ilustrativas danificadas.
É imperativo que a sociedade brasileira encare o dia 8 de janeiro como um ponto de reflexão crucial. A democracia deve ser defendida todos os dias. A memória é um dos dispositivos mais importantes para sua preservação da democracia, bem como das liberdades e dos direitos.
Para isso, o governo federal, por meio do Ministério da Cultura, trabalha na criação do Museu da Democracia. Uma instituição destinada a refletir a histórica construção da nossa democracia, com seus percalços e realizações. Localizado junto da esplanada dos ministérios, o museu será um ponto de unidade do país em defesa dos valores da liberdade e igualdade política, para que jamais o autoritarismo prevaleça em nosso país.
O processo de construção do museu já se iniciou. Neste dia 08 de janeiro de 2024 o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) lança o repositório do Museu da Democracia, ambiente virtual para sistematizar e dar visibilidade às coleções da sociedade civil já existentes sobre a democracia brasileira e congregar novos conteúdos sobre o tema.
O Brasil, com sua história de lutas, derrotas e conquistas, merece ser contado de maneira completa. Estabelecer um Museu da Democracia é fundamental para confrontarmos nossos erros e promover uma compreensão mais profunda de nossa própria história.
A nossa memória, nossa cultura e nossa diversidade são elementos essenciais da nossa democracia e da nossa identidade brasileira. Defender nossa democracia significa defender nosso povo, em toda sua diversa riqueza.
Artigo da ministra da Cultura, Margareth Menezes, originalmente publicado no UOL.