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“A cultura pode transformar mentalidades e comportamentos em prol da melhora para o mundo”, diz Alison Tickell
Fotos: Maiara Cerqueira/MinC
O alinhamento da economia criativa com as pautas de enfrentamentos às mudanças climáticas em todo mundo foi debatido durante o primeiro painel do Seminário Internacional sobre Cultura e Mudança do Clima, nesta segunda-feira (4), em Salvador (BA). A mesa de estreia reuniu Alison Tickell (Reino Unido), Kumi Naidoo (África do Sul), Marcele Oliveira (Brasil), Karina Larsen (Suécia) e Tomas Saraceno (Argentina). O tema Crise Climática, uma crise de imaginação, levantou perspectivas e desafios para o setor cultural frente aos desastres ambientais, aquecimento global, emissão de CO², entre outros problemas ambientais.
A ativista Alison Tickell destacou como a transversalidade da pauta ainda é novidade e como é importante ser reconhecida institucionalmente, como ocorre de maneira inédita no Brasil. “É a primeira vez que vejo tantos ministros falando sobre esse tema com tamanha paixão. O momento que estamos vivendo é excepcional e, sem dúvidas, terá consequências significativas. Assumir o cuidado com a natureza é uma parte necessária para a cultura. A crise climática é reflexo de valores extrativistas, a cultura pode transformar mentalidades e comportamentos em prol de uma melhora para o mundo”, afirmou.
Segundo ela, a direção para o desenvolvimento de soluções está em atrelar manifestações culturais e criativas em torno da sustentabilidade. “Indústria criativa é o coração da humanidade, está em todas as partes, se não for entrelaçada com a justiça para o meio ambiente e natureza estamos perdidos”, alertou.
O sul-africano Kumi Naidoo trouxe uma apresentação interativa. Com a presença da ministra da Cultura do Brasil, Margareth Menezes, entoou canções e provocou o público sobre a análise de cenário que estamos vivendo em relação aos desastres climáticos. “Onde estamos enquanto humanidade na abordagem para mudança climática? Estamos perdendo vidas, vendo catástrofes. Temos que evitar a chegar em um ponto que não conseguimos recuperar. Inteligência e criatividade podem mudar todo cenário. Ainda há uma janela”, disse. Naiddo explicou que o uso da arte e da cultura precisa ser resgatado urgentemente. “Se queremos mudar as coisas temos que nos fazer entender da melhor forma. A cultura é fundamental nesse sentido. Não usar a arte e a cultura para mudar o rumo do planeta nos fará falhar”, completou.
O termo “ansiedade climática e desespero climático” foi apresentado pelo ativista como uma novidade, que veem afetando as gerações mais jovens. “Tem pessoas com diversos relatos mundo a fora, tem gente tirando a vida. Eu perdi um filho”, comentou ele emocionado.
Games, músicas e mudanças práticas
Para Karina Larsen, a cultura dispõe de várias linguagens e manifestações que podem transformar o comportamento das pessoas: “A indústria criativa tem influência sem paralelo em relação ao estilo de vida. Músicas, games, danças, temos a oportunidade de usar isso para mobilizar e mudar atitudes em todo mundo, promovendo empatia e o sentido de compartilhamento de responsabilidade com o meio ambiente. Arte, cultura e entretenimento são dispositivos poderosos para mudanças significativas ao redor de todo mundo”, analisou.
As mudanças práticas e palpáveis foram defendidas pelo artista argentino Tomas Saraceno. “Muito se fala, mas pouco se faz. Precisamos mudar esse cenário. Há anos falamos que é preciso se preocupar com o meio ambiente, com aquecimento global. Fazemos eventos, reuniões, mas o que estamos fazendo na prática? Se nós podemos mudar o clima em uma sala como essa nossa. Podemos sim mudar e melhorar a questão climática em todo mundo. Já está quase impossível viver sem ar condicionado. Se chegamos por aqui e, por exemplo, nomearmos nossos copos para gerar menos lixo? Já é alguma coisa”, incentivou.
A brasileira Marcele Oliveira fechou o painel apresentando conceitos inovadores como justiça climática e racismo ambiental. A pesquisadora defendeu que as pessoas precisam ser vistas como humanos e não como máquinas, além de reconhecerem a cultura como uma ciência. “A cultura fala de assuntos espinhosos, precisamos dela para salvar vidas. Na escola a gente aprendia que tsunamis e desastres eram coisas de outro mundo e agora elas estão acontecendo. Temos que usar a cultura na preservação de patrimônios, territórios, legados e, principalmente, de futuro. Isso precisa ser feito com planejamento, cronograma e financiamento”, finalizou.
O Seminário Internacional sobre Cultura e Mudança do Clima é uma realização do Ministério da Cultura em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e a Organização de Estados Ibero- Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil (OEI), com apoio do Governo da Bahia, da prefeitura de Salvador, do BYD, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Universidade Federal da Bahia (UFBA) e patrocínio do Youtube.
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