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RÚSSIA
“A cultura é fundamental para um desenvolvimento sustentável e inclusivo”, diz ministra em reunião do Brics
Fotos: Ministério da Cultura da Rússia
Na manhã desta quarta-feira (11), em São Petersburgo, na Rússia, a ministra da Cultura, Margareth Menezes, participou da 9ª Reunião de Ministros de Cultura do Brics, no Museu Russo de Etnografia. O encontro é realizado desde 2015 e, na agenda, está o Plano de Ação para a Implementação do Acordo entre os Governos dos Estados do Brics sobre Cooperação no Campo da Cultura (2022-2026).
Em seu discurso, a ministra ressaltou que a cooperação cultural tem o potencial de promover dinâmicas positivas nas nossas economias e sociedades. O tema da difusão da economia criativa e das indústrias culturais foi destaque. “É por isso que a cultura é fundamental para um desenvolvimento sustentável e inclusivo. Desde a recriação do Ministério da Cultura, em 2023, estamos realizando ações de promoção das economias criativas e das indústrias culturais, que são propulsores de novos negócios, gerando renda e emprego, combatendo a pobreza e promovendo a inclusão social. É no ambiente da economia criativa que temos o maior ativo humano: que é a criatividade e a diversidade humana”, declarou.
“Nossa Declaração de Ministros aponta para esse caminho. Propomos criar uma plataforma de trabalho focada na economia criativa, fortalecendo aspectos como a criação de metodologias de medição da contribuição da cultura para o PIB, além do compartilhamento de boas práticas sobre economia criativa. Estamos propondo, pela primeira vez, que o Brics explore formas de apoiar projetos comuns para financiamento da economia criativa via Novo Banco de Desenvolvimento do Brics. Isto é um marco muito importante. Será por meio da cooperação do BRICS com instituições financeiras, tais como o NBD, que poderemos encontrar meios de apoiar e financiar as indústrias criativas, além de criar oportunidades para trabalhadores do setor cultural e incentivar bens e serviços culturais entre nossos países”, completou.
A pauta do encontro deste ano incluiu a discussão e aprovação de ações referentes ao patrimônio cultural, indústrias criativas, direitos autorais, cooperação em festivais e a proposta brasileira de criação de mecanismo financeiro, via Banco do Brics, que apoie as economias criativas.
Durante a reunião, foi aprovada a criação de uma plataforma para tratar das indústrias criativas no âmbito do Brics. O grupo tem como tarefa promover o intercâmbio de conhecimentos, capacitação técnica e o desenvolvimento de políticas comuns que fortaleçam o setor nos países do bloco.
Além disso foram anunciadas a Aliança de Festivais e a continuidade do Festival de Cinema do Brics, plataformas para a promoção das artes. “Para o próximo ano, esperamos organizar o Festival de Cinema do Brics, seguindo o exemplo das presidências anteriores, que estabeleceram um legado de excelência na promoção de nossos talentos culturais por meio dessas iniciativas. Ficamos felizes de também propor que este festival esteja ligado ao mercado, promovendo negócios entre nossos produtores e distribuidores”, comentou a ministra.
Questões climáticas
Margareth Menezes lembrou ainda que no ano que vem a África do Sul ocupará a presidência do G20 e o Brasil presidirá o Brics. Período oportuno, segundo a ministra, para elevar a voz dos países do sul global e convergir nossas agendas em torno de temas como a promoção das economias criativas, os diálogos entre cultura e meio ambiente, cultura e desenvolvimento sustentável, cultura e direitos autorais.
“Da mesma forma, temos de fortalecer e promover maior debate sobre a relação entre cultura e mudança climática. Nossa Declaração de Ministros, também pela primeira vez, traz nosso consenso em torno da ligação entre cultura e mudança do clima. Acreditamos que a cultura tem um papel vital na conscientização e na mobilização em torno das questões climáticas. A preservação do meio ambiente e o combate às mudanças climáticas são desafios globais que demandam uma resposta conjunta, e a cultura pode ser uma aliada poderosa nessa luta”, concluiu.
Ao final da reunião, Margareth Menezes, entregou à anfitriã, a ministra da Cultura da Rússia, Olga Lyubimova, uma escultura feita por artesãos indígenas da etnia Waurá, do Mato Grosso (MT).
Também participaram da atividade os ministros de Cultura Gayton McKenzie (África do Sul), Ahmed Fouad (Egito), Xeique Salem Bin Khalid Al Qassimi (Emirados Árabes Unidos), o vice-ministro de cultura da Índia, Arunish Chawla, bem como representantes da Etiópia, Irã, China.
Reuniões
A 1ª reunião de ministros de Cultura do Brics foi organizada em 2015, quando foi assinado o acordo entre os governos dos estados do grupo sobre colaboração na área. No ano passado, o secretário-executivo do Ministério da Cultura (MinC), Márcio Tavares, representou a Pasta na 8ª Reunião de Ministros de Cultura, em Mpumalanga, na África do Sul. No encontro foi assinada a declaração sobre retomada do impulso à cultura após a pandemia.
Gala
Também nesta quarta, a ministra prestigiou a noite de gala do Brics, no Teatro Alexandrinsky, um dos mais antigos da Rússia. Na ocasião foi realizado concerto com a participação de artistas de países integrantes do grupo. O Brasil esteve representado pelo violonista Esdras Maddalon, de São José dos Campos (SP). O músico que vive em Milão, na Itália, ganhou reconhecimento por meio de seu canal no YouTube, no qual compartilha performances e tutoriais de violão clássico e tem mais de 53 mil inscritos e cerca de 295 mil visualizações.
Sobre o Brics
O Brics é uma parceria entre cinco das maiores economias emergentes do mundo: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Eles representam mais de 42% da população mundial, 30% do território do planeta, 23% do Produto Interno Bruto (PIB) global e 18% do comércio internacional.
O diálogo entre os países tem como pilares principais: cooperação em política e segurança, cooperação financeira e econômica, e cooperação cultural e pessoal. Cerca de 150 reuniões são realizadas anualmente.
Desde janeiro, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos passaram a fazer parte do grupo. A Rússia está na presidência rotativa do Brics e, em 2025, o Brasil irá assumir o posto.
Leia a íntegra do discurso da ministra da Cultura, Margareth Menezes:
Gostaria de começar agradecendo à Federação Russa, em especial à ministra da Cultura Olga Liubimôva, pela calorosa recepção nesta bela cidade São Petersburgo.
É a primeira vez que estou na Rússia, em São Petersburgo, uma cidade com um rico patrimônio cultural, berço de artistas, escritores e compositores que moldaram a cultura mundial. Agradeço a hospitalidade com que fomos recebidos aqui.
É com imensa honra que me dirijo a todos nesta 9ª Reunião de Ministros da Cultura do Brics.
Gostaria de saudar os países do Brics - Rússia, China, Índia e África do Sul pela nossa parceria já de algum tempo. E saudar aos novos membros - nosso encontro este ano ganha ainda mais relevância com a presença dos cinco países que se juntam ao Brics: Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.
A adesão dessas nações é motivo de celebração, pois elas trazem tradições culturais e perspectivas únicas, que enriquecerão ainda mais nossas trocas.
A 9ª Reunião de Ministros da Cultura do Brics marca mais um importante passo na trajetória de cooperação entre nossas nações, onde a cultura serve como ponte de diálogo, aproximação e entendimento mútuo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um entusiasta do Brics, tem reavivado e fortalecido o papel do Brasil na arena internacional, e tem defendido que, por meio da cultura, podemos aprofundar nossa cooperação e nosso desenvolvimento
Assim, a partir de nossa diversidade, da pluralidade de nossas histórias, tradições e valores culturais temos condições de enriquecer e fortalecer nossa cooperação.
A expansão do Brics para além dos cinco países fundadores fortalece nosso papel global, promovendo uma nova ordem mundial multipolar, mais representativa e mais inclusiva.
A promoção da cultura e da diversidade cultural são fundamentais para garantir espaços de diálogo e entendimento que ampliam nossos horizontes e possibilitam a construção de uma comunidade global mais coesa, pacífica e focada no desenvolvimento mútuo dos nossos povos.
Compartilhar a cultura amplia a nossa humanidade e acende em nós uma maior capacidade de criar e construir juntos.
Com a cultura somos capazes de transformar vidas, de oferecer novas oportunidades para a juventude e de fortalecer a coesão social. Neste contexto, as políticas culturais que promovemos no âmbito do Brics podem e devem ser entendidas como pilares de um desenvolvimento que não deixa ninguém para trás.
Senhoras e senhores,
Gostaria de ressaltar a dimensão cultural da nossa cooperação. Ela tem a capacidade de promover dinâmicas positivas nas nossas economias, nas nossas sociedades. É por isso que a cultura é fundamental para um desenvolvimento sustentável e inclusivo.
De acordo com dados de uma pesquisa recente da Unesco, de 2024: as indústrias culturais e criativas representam aproximadamente 6,1% do PIB mundial, com um valor estimado de 4,3 trilhões de dólares por ano; e geram receitas anuais de mais de 2,25 trilhões de dólares; empregam cerca de 30 milhões de pessoas em todo o mundo, especialmente jovens entre 15 e 29 anos.
Essas indústrias contribuem para diversificação econômica e a geração de empregos, promovem a inovação e identidade cultural. E são essenciais para um desenvolvimento econômico que seja inclusivo, que promova o enfrentamento das desigualdades e que nos permite alcançar as metas de desenvolvimento sustentável
O Brasil tem se empenhado fortemente nessa direção. Desde a recriação do Ministério da Cultura, em 2023, estamos realizando diversas ações de promoção das economias criativas e das indústrias culturais, que são propulsores de novos negócios, gerando renda e emprego, combatendo a pobreza e promovendo a inclusão social. É no ambiente da economia criativa que temos o maior ativo humano: que é a criatividade e a diversidade humanas.
Nossa Declaração de Ministros aponta para esse caminho. Propomos criar uma plataforma de trabalho focada na economia criativa, fortalecendo aspectos como a criação de metodologias de medição da contribuição da cultura para o PIB, além do compartilhamento de boas práticas sobre economia criativa. Promoveremos o intercâmbio de conhecimentos, capacitação técnica e o desenvolvimento de políticas comuns que fortaleçam este setor em nossos países.
Neste mesmo espírito de cooperação, estamos propondo, pela primeira vez, que o Brics explore formas de apoiar projetos comuns para financiamento da economia criativa via Novo Banco de Desenvolvimento do Brics - NBD. Isto é um marco muito importante da nossa trajetória, que poderá trazer grandes benefícios para a economia da cultura dos nossos países.
Será por meio da cooperação do Brics com instituições financeiras, tais como o NBD, que poderemos encontrar meios de apoiar e financiar as indústrias criativas, além de criar novas oportunidades para trabalhadores do setor cultural e incentivar bens e serviços culturais entre nossos países.
As demais iniciativas, como a Aliança de Festivais e a continuidade do Festival de Cinema do Brics criam plataformas fundamentais para a promoção das artes em nossas nações. Esses eventos celebram a riqueza e a diversidade cultural de nossos países, proporcionando um espaço mais amplo para o intercâmbio e a divulgação de expressões artísticas e culturais. Saudamos as iniciativas de festivais aprovadas nesta reunião.
Para o próximo ano, esperamos organizar o Festival de Cinema do Brics, seguindo o exemplo das presidências anteriores, que estabeleceram um legado de excelência na promoção de nossos talentos culturais através dessas iniciativas. Ficamos felizes de também propor que este festival esteja ligado ao mercado, promovendo negócios entre nossos produtores e distribuidores.
Excelências,
Este ano, o Brasil ocupa a Presidência do G20. No Grupo de Trabalho da Cultura, temos buscado imprimir vigor às discussões sobre diversidade cultural e inclusão social; direitos autorais no ambiente digital; economia criativa e desenvolvimento sustentável; salvaguarda, promoção e proteção do patrimônio e da memória.
Estamos confiantes de que nossa presidência poderá dar contribuição importante para avançarmos as pautas da cultura no mundo. Contamos com nossos colegas do Brics para que, juntos, possamos levar adiante a voz dos países em desenvolvimento neste importante foro.
No próximo ano, a África do Sul ocupará a presidência do G20 e o Brasil presidirá o Brics. É, portanto, um período muito oportuno para que possamos elevar a voz dos países do Sul Global e convergir nossas agendas em torno de temas tão importantes para nós como: a promoção das economias criativas, os diálogos entre cultura e meio ambiente, cultura e desenvolvimento sustentável, cultura e direitos autorais.
Da mesma forma, temos de fortalecer e promover maior debate sobre a relação entre cultura e mudança climática.
Nossa Declaração de Ministros, também pela primeira vez, traz nosso consenso em torno da ligação entre cultura e mudança do clima. Acreditamos que a cultura tem um papel vital na conscientização e na mobilização em torno das questões climáticas. A preservação do meio ambiente e o combate às mudanças climáticas são desafios globais que demandam uma resposta conjunta, e a cultura pode ser uma aliada poderosa nessa luta.
Gostaria de aproveitar esta oportunidade para convidar os países do Brics a se unirem ao Grupo de Amigos da Ação Climática Baseada na Cultura, iniciativa que tenho a honra de copresidir ao lado do meu colega, o Ministro Xeique Salem bin Khalid Al Qassimi.
Senhoras e Senhores,
A cooperação cultural que promovemos no Brics serve não apenas aos interesses de nossos governos, mas aos nossos povos, conectando suas histórias, suas tradições e suas aspirações por um futuro comum de paz e prosperidade.
Reitero nosso compromisso com a promoção da cultura como um pilar essencial do desenvolvimento e da inclusão. O Brasil acredita firmemente que a cultura não apenas reflete nossas identidades nacionais, mas também tem o poder de transformar nossas sociedades.
Como Ministra de Estado da Cultura do Brasil, reafirmo que estamos prontos para colaborar de maneira construtiva e ativa com todos os países do Brics, em busca de um futuro mais próspero e sustentável para todos.
Muito obrigada!