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CTI na Mídia: Mulheres ganham cada vez mais espaço na ciência
A participação das mulheres no campo científico, assim como em universidades e institutos de pesquisa do Estado de São Paulo registra forte crescimento nos últimos anos. Relatório elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em parceria com o British Council, aponta que as mulheres representam 46% do total de pesquisadores nos países da América Latina e do Caribe. O programa Futuras Cientistas que ocorre em todo o território nacional é voltado para despertar em adolescentes o desejo de atuar como pesquisadora nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Em Campinas é oferecido no Centro de Tecnologia da Informação (CTI) Renato Archer e no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).
No quadro de 89 pesquisadores contratados na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), 63 são mulheres. Na pós-graduação, dos 14.551 alunos matriculados na universidade, 7.295 são mulheres, o que representa pouco mais da metade. Especialistas atribuem esse aumento da participação feminina ao maior acesso à educação, informação e oportunidades.
Larissa Ampese, 27 anos, cursa doutorado na Unicamp na área de Engenharia de Alimentos e recebe uma bolsa custeada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Ela atua no Laboratório de Bioengenharia e Tratamento de Águas e Resíduos (BIOTAR), que foca na elaboração de alternativas sustentáveis para o tratamento de resíduos na indústria de alimentos. Larissa estuda a disgestão anaeróbica, ou seja, o processo de degradação da matéria orgânica por microrganismos, do bagaço de maçã para obtenção de energia elétrica e térmica. A partir desse estudo, ela entende que está dando os primeiros passos para viabilizar atividades que evitam o máximo possível o consumo de combustíveis fósseis e emissão de gases de efeito estufa para o ambiente.
Para as meninas interessadas no campo científico, Larissa destaca que a ciência é fantástica, mas que exige muito estudo e dedicação. “É importante acessar conteúdos diversos e manter-se sempre curiosa acerca das coisas. Mais importante de tudo, diria para essas meninas nunca desistirem dos seus sonhos”, aconselhou.
O Programa Futuras Cientistas visa contribuir com a equidade de gênero no mercado profissional. Para isso, as adolescentes de escolas públicas vão até os laboratórios nas férias, onde assistem palestras com especialistas de diversas áreas e realizam experimentos em laboratórios.
A responsável pelas atividades do Programa Futuras Cientistas no CTI Renato Archer e também subcoordenadora do projeto na região sudeste, Cleide Elizeu, disse que o programa significa a esperança da transformação da sociedade em um espaço com menos preconceitos. “Programas como o Futuras me dão a esperança de que no futuro, nossas descendentes do sexo feminino terão a real oportunidade de escolher onde querem estar”, disse.
Cleide Elizeu afirmou que as meninas que participam do programa saem transformadas. “É nítido o fortalecimento da autoconfiança delas e posicionamento para buscar e aproveitar oportunidades futuras”, relatou. A subcoordenadora disse que as meninas devem persistir para virar cientistas. “Busquem, persistam. Lembrem-se, a ciência, assim como todas as outras áreas, também é lugar de mulher”, reforçou.
Nas férias, antes de iniciar o terceiro ano do Ensino Médio, a estudante Ana Elisa Rocha, de 17 anos, saiu de Sandovalina (SP) e veio até Campinas para participar do Programa Futuras Cientistas. “Vi o projeto como uma oportunidade de obter conhecimento e me dar um ‘norte’ sobre meu futuro. Sempre percebi a desvalorização da mulher em todos os âmbitos da sociedade, principalmente na ciência, que é a área que pretendo ingressar, então procurei essa proximidade com meu sonho”, disse a jovem que deseja ingressar na área médica para contribuir no avanço da ciência. Ela disse que o projeto a incentivou ainda mais a ingressar nessa área, pois viu mulheres ocupando o lugar que sonha um dia integrar. “A representatividade ao ver mulheres, mães, mestras, doutoras, ocupando cargos, dirigindo pesquisas incríveis, transmitindo tanto conhecimento e me mostrando que também sou capaz de chegar lá”, concluiu.
Participante da edição de janeiro de 2023, Letícia Cavalcante, 16 anos, também cursando o terceiro ano do Ensino Médio, disse que quis participar do projeto para ter mais contato com a área que sempre teve interesse. “A minha experiência foi muito enriquecedora, aprendi muito acerca de diversos âmbitos da ciência e me relacionei com diferentes pessoas. Foi muito bom para o meu desenvolvimento pessoal e intelectual”, relatou a jovem empolgada, que afirmou ter mais clareza do que deseja para o furuto após passar pelo projeto, que é seguir na área de ciências biológicas. Letícia Cavalcante refletiu que, mesmo vivendo em uma sociedade desigual, ser mulher não pode ser um fator limitante. “Podemos ser o que queremos ser. Portanto, se deseja ser cientista, corre atrás porque você é capaz”, disse a jovem.
Liderança
Mesmo que a participação feminina nos laboratórios de pesquisa tenha aumentado, quase atingindo a paridade, poucas mulheres atuam em posições de liderança nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, segundo aponta o relatório da ONU e da British Council. Contribuindo com o aumento da presença femina nos cargos de gestão, a pesquisadora na área de Química Analítica, Alessandra Borin, atua como coordenadora da Pró-Reitoria de Pesquisa e Extensão na Pontíficia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Ela disse que nos últimos anos acompanhou um aumento no número de mestres e doutoras. Segundo ela, isso permite um ambiente mais rico e diverso. “Entendo que ao longo dos anos este aumento pode ter vários motivos. Como o maior acesso à educação, às informações e oportunidades”, explicou.
Alessandra Borin comemora esse aumento, mas considera que há espaço para melhorias, como manutenção da bolsa da CAPES no período de licença maternidade. “É necessária uma rede de apoio para que todas possam seguir suas carreiras e vidas pessoais. É importante existir políticas de apoio”, finalizou.
(Texto do Correio Popular: https://correio.rac.com.br/campinasermc/mulheres-ganham-cada-vez-mais-espaco-na-ciencia-1.1350372