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CNEN e Rosatom discutem ampliação de cooperação em diferentes modalidades de C&T
VIENA, Áustria – A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e a Rosatom, corporação estatal russa de energia nuclear, realizaram, nesta segunda-feira, 16, uma reunião para explorar a possibilidade de um novo Memorando de Entendimento (MoU). O encontro marca um passo significativo na ampliação da cooperação entre o Brasil e a Rússia no setor nuclear.
Francisco Rondinelli Junior, presidente da CNEN, estava acompanhado dos diretores Wilson Calvo (Pesquisa e Desenvolvimento - DPD), Pedro Maffia (Gestão Institucional - DGI) e Alessandro Facure (Radioproteção e Segurança Nuclear - DRS), da assessora de Relações Internacionais, Viviane Simões, do chefe de Gabinete, Rogério Mamão Gouveia, e da coordenadora de Comunicação Social, Ana Paula Freire Artaxo.
Yuri Olenin, diretor adjunto de Ciência e Estratégia da Rosatom, liderava a comitiva russa. Além dele, participaram Vasily Konstantinov, diretor-geral do Consórcio MBIR e, pela empresa JSC Isotope, estavam Petr Zelenov, diretor executivo adjunto de Desenvolvimento Corporativo e Negócios Internacionais, Ciência e Inovação; Konstantin Panin, chefe de Negócios Internacionais, Ciência e Inovação, e Anastasia Muss, líder de Projeto de Ciência e Inovação.
As delegações de Brasil e Russa estão em Viena, Áustria, para a 68ª Conferência Geral da Agência Internacional de Energia Atômica e do Fórum Científico “Átomos para Alimentos”, que ocorre de 16 a 20 de setembro, na sede da AIEA, vinculada à ONU. Durante a reunião, foram discutidas novas áreas de colaboração e oportunidades para fortalecer ainda mais os laços entre os dois países, no campo da energia nuclear.
CNEN e Rosatom já mantêm relação comercial estabelecida, com destaque para a importação de molibdênio-99, isótopo crucial para a produção de geradores de tecnécio-99m, usados nos diagnósticos em medicina nuclear, no Brasil. Inclusive, recentemente, firmou-se um contrato de 50 milhões de dólares para garantir o fornecimento de molibdênio-99, iodo-131 e lutécio-177, dente outros radioisótopos, por cinco anos.
O dirigente russo enfatizou o interesse em manter essa colaboração e destacou a complexidade na produção de molibdênio-99, que exige um processamento especializado, em consonância a uma necessidade que virá com o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), conforme assinalou o presidente da CNEN. “É fundamental que o Brasil domine essa técnica no RMB”, disse Rondinelli.
Embora o Brasil já tenha um acordo de colaboração com a companhia argentina INVAP, vinculada à Comissão Nacional de Energia Atômica (CNEA), para o processamento de alvos e produção de molibdênio-99, a Rosatom se colocou à disposição para transferir sua tecnologia.
"A parceria com a Argentina no consórcio RMB e o reator nuclear de pesquisa argentino RA-10 visa garantir o sistema de backup na produção e fornecimento de radioisótopos para indústria e saúde, aos dois países", afirmou Wilson Calvo, diretor de P&D da CNEN, acrescentando, contudo, que o Brasil está aberto a outras possibilidades de colaboração nessa área.
Yuri Olenin também ofereceu a perspectiva de a Rosatom fornecer equipamentos, componentes e instrumentação nuclear ao RMB, ressaltando a expertise da Rússia na construção de reatores nucleares.
Fusão Nuclear e novas parcerias
Outro ponto destacado por Yuri Olenin foi a ampla rede de instituições de pesquisa e universidades russas que podem colaborar com o Brasil em áreas como fusão nuclear, reatores de pesquisa e produção de novos radioisótopos e radiofármacos.
A CNEN já tem uma parceria com o Moscow Engineering Physics Institute (MEPhI) desde 2019, envolvendo intercâmbio de alunos e professores do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Nuclear do IPEN/USP, além da realização de cursos presenciais no Brasil.
“Temos uma tradição de colaboração com a Rússia na área de ensino, e com a Rosatom, especificamente, no fornecimento de radioisótopos, via empresa subsidiaria JSC Isotope. Acreditamos que um novo MoU com a Rosatom nos permitirá expandir para novas áreas da ciência, ainda não exploradas. Trabalhamos, no momento, na assinatura do MoU com o Joint Institute for Nuclear Research (JINR)”, complementou Calvo.
Segundo ele, com o novo acordo em construção, a CNEN e suas unidades técnico-científicas poderão ampliar as oportunidades, incluindo fusão nuclear e, dentre outras reatores nucleares rápidos de pesquisa. “Isso nos oferece uma vantagem significativa no que diz respeito a acordos bilaterais”, concluiu o diretor de P&D, acrescentando que foi sugerida a criação de grupos bilaterais de pesquisa para discutir temas de interesse comum, o que, segundo Calvo, representa um importante diferencial.
Texto e foto: Ana Paula Freire Artaxo/CNEN