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Mês mundial do Alzheimer
Live promovida pelo CNS alerta sobre subnotificação da doença do Alzheimer no Brasil
Foto: Reprodução da internet
Nunca foi tão importante enfrentar o estigma da demência, promovendo uma melhor compreensão da doença e trabalhando em conjunto para reduzir o impacto nos indivíduos, na família, e nas comunidades. A Live “É hora de agir: setembro, mês mundial de conscientização da doença de Alzheimer”, realizada pela Comissão Intersetorial de Atenção à Saúde nos Ciclos de Vida (CIASCV/CNS) na última quinta-feira (19/9), apontou como o subdiagnóstico e a falta de informações sobre a doença de Alzheimer pode impactar a população.
Mais de 50 milhões de pessoas vivem com demência no mundo e a marca de 150 milhões de pessoas deve ser alcançada em 2050. O Brasil somava, até o ano de 2019, 1,8 milhões de pessoas com a doença. A projeção para 2050 é que 5,7 milhões de pessoas sejam diagnosticadas no país, um aumento de 206%.
“Isso se dá devido ao envelhecimento populacional previsto para este período”, declara Cleuza Ferri, docente do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina (Unifesp). O Brasil, atualmente, tem 32 milhões de pessoas idosas e a estimativa é que o número dobre em 25 anos, ou seja, em 2050 serão mais de 60 milhões de pessoas acima dos 60 anos.
Estigma e desinformação
A coordenadora de Atenção à Saúde da Pessoa Idosa da SAPS/MS, Lígia Gualberto, revela que a demência é a quarta causa morte (no Brasil) em pessoas acima de 70 anos e que cerca de 3% dos indivíduos com idade entre 65 e 69 anos a desenvolvem. A frequência sobe conforme a idade chega: depois dos 90 anos a incidência é de 43%. “O estigma e o desconhecimento da população geral sobre o tema acabam impactando no subdiagnóstico”, afirma.
As lacunas na formação dos profissionais de saúde e a concentração de serviços especializados para atendimentos concentrados nas capitais ou grandes centros urbanos também são fatores que endossam essa falta de notificação da doença no nosso país, que varia entre 70% a 80%, segundo dados apresentados por Lídia.
Além disso, como também ponderou Cleuza, a falta de conhecimento da própria população, que acaba não reconhecendo sintomas e não procurando ajuda e a dificuldade de encontrar serviços de saúde que, de fato, estejam preparados para receber o paciente e seus familiares também são agravantes para este alto índice de subnotificação brasileiro.
Setembro Lilás
Celena Pinheiro, presidente da Associação Brasileira de Alzheimer, reforça a importância da campanha do mês Setembro Lilás 2024, que tem por objetivo combater este estigma, que tanto atrapalha a prevenção e também o tratamento da doença. “Há muito a ser feito pelas pessoas e precisamos dar voz às pessoas diagnosticadas e também às pessoas que cuidam”, reforçou.
A presidente apresentou dados de um relatório realizado em 2019, que contou com a participação de 70 mil pessoas de 155 países, com participação robusta do Brasil. Duas a cada três pessoas ainda acreditam que demência é uma questão natural do envelhecimento, pensamento recorrente inclusive entre profissionais de saúde. Sobre prevenção, uma a cada quatro pessoas acreditam que não há nada a ser feito para prevenir demências. Apenas 25% dos casos são diagnosticados e em países do sul global essa notificação não ultrapassa os 10%.
A média no Brasil para se conseguir o diagnóstico é de três anos. “Um tempo valioso, que é perdido, quando a pessoa já poderia ter uma abordagem medicamentosa, ou não. O estigma afeta toda a jornada da pessoa com demência”, ressalta Celena.
Familiares e cuidadores também sentem-se sozinhos e não recebem o devido apoio. Em sua maioria, o papel do cuidado é destinado à mulheres, que saem precocemente do mercado de trabalho, sem suporte da previdência social, para se dedicar ao cuidado de um familiar diagnosticado com demência. O financiamento do cuidado e a segurança pessoal/doméstica são também apontadas como as necessidades mais comuns no grupo. Falta também treinamento e conhecimento sobre a doença, bem como instruções sobre como exercer o papel do cuidado.
Para Ricardo Nitrini, professor titular de Neurologia da USP, o poder público tem demonstrado maior conscientização sobre a importância da situação e endossa a importância da prevenção para o que é classificado como transtorno neurocognitivo. Ele explica que a doença de Alzheimer é a principal causa de transtorno cognitivo, mas não é necessariamente sinônimo de demência.
Causas e Prevenção
Há muitas causas desse transtorno, como desnutrição na infância, escolaridade baixa, pressão alta, diabetes, colesterol elevado, poluição ambiental, consumo de álcool, baixa atividade física, dentre outros. Mas também há possibilidades preventivas. “Se tomarmos medidas contra diabetes e pressão alta, por exemplo, é possível reduzir e prevenir os transtornos cognitivos, reduzindo outras agressões, aumentando a resistência do cérebro e mantendo a sinapse ativa”, orienta.
As medidas apontadas como controle da saúde de modo geral, como dieta equilibrada, atividade física, atividade mental e sociabilização devem ser implementadas antes e depois do diagnóstico. “Se conseguirmos que uma doença que teria início aos 70 anos , se inicie aos 80 anos, isso vai diminuir muito o número de afetados. Postergar o início significa reduzir muito a incidência e o sofrimento das pessoas”, finaliza.
Natália Ribeiro
Conselho Nacional de Saúde