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Saúde é direito de todas
Cismu/CNS debate masculinidades e misoginia pela perspectiva da saúde pública
Foto: CNS
Acolhimento sem discriminação, direito à informação, sensibilidade e respeito às diversidades estão entre os desafios enfrentados pelas mulheres que vivem com HIV/Aids para um atendimento integral e equânime, na promoção, prevenção e tratamento da doença no sistema público de saúde. O assunto foi um dos temas discutidos no Seminário sobre Misoginia, Masculinidades e Saúde das Mulheres, promovido pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS), nesta quarta (27/11) e quinta (28/11), em Brasília.
A iniciativa da Comissão Intersetorial de Saúde das Mulheres (Cismu) do CNS contou com participação online e foi realizada para discutir os conceitos de masculinidades, patriarcado, misoginia e machismo estrutural, além de promover a reflexão e conscientização sobre as questões de gênero que impactam a saúde das mulheres vivendo com HIV/Aids.
Dados
Estima-se que, atualmente, um milhão de pessoas vivem com HIV no Brasil. Desse total, 650 mil são do gênero masculino e 350 mil do gênero feminino. De acordo com o Relatório de Monitoramento Clínico do HIV, realizado pelo Ministério da Saúde, na análise considerando o gênero atribuído no nascimento, as mulheres apresentam piores desfechos em todas as etapas do cuidado.
Enquanto 92% dos homens estão diagnosticados, apenas 86% das mulheres possuem diagnóstico; 82% dos homens recebem tratamento antirretroviral, mas 79% das mulheres estão em tratamento; e 96% dos homens estão com a carga viral suprimida – quando o risco de transmitir o vírus é igual a zero – mas o número fica em 94% entre as mulheres.
Em 2022, o Ministério da Saúde registrou 10.994 óbitos tendo o HIV ou aids como causa básica, 8,5% menos do que os 12.019 óbitos registrados em 2012. Apesar da redução, cerca de 30 pessoas morreram de aids por dia no ano passado. Do total, de acordo com o novo Boletim Epidemiológico sobre HIV/Aids do Ministério da Saúde, 61,7% dos óbitos foram entre pessoas negras (47% em pardos e 14,7% em pretos) e 35,6% entre brancos.
Os dados reforçam a necessidade de considerar os determinantes sociais para respostas efetivas à infecção e à doença, além de incluir populações chave e prioritárias. “No campo do HIV/Aids, apesar dos indicadores, ainda não vemos avanços para ações de prevenção, diagnóstico e tratamento para mulheres negras ou que vivem em situação de vulnerabilidade”, afirma Cláudia Fonseca Santamarina, pesquisadora no Instituto Fernandes Figueira.
“As campanhas ainda não chegaram às comunidades indígenas, quilombolas, à periferia. E é isso o que a gente quer fazer, levar a prevenção para os lugares mais remotos. As nossas ações precisam chegar às mulheres pretas e periféricas”, completa Renata Souza, do Movimento das Cidadãs Posithivas.
Masculinidade é questão de saúde pública
O Seminário de Saúde das Mulheres contou com dois dias de programação. Após o destaque às mulheres vivendo com HIV/Aids no primeiro dia do evento, o foco nos temas relacionados à misoginia, masculinidades e a saúde das mulheres foi o tema do segundo dia do Seminário, realizado na quinta-feira (28/11). Helena Piragibe, coordenadora da Cismu/CNS, apontou que a pauta masculinidade é questão de saúde pública e deve ser discutida em todos os territórios, pois todas as pessoas sofrem o efeito do patriarcado.
“A gente compreende que falar do SUS, do sistema de saúde, é falar para todas as pessoas. Não é possível a gente achar que só mulheres podem falar sobre a opressão, pois precisamos de toda a sociedade”, declarou.
A construção das masculinidades misóginas foi destacada também pelo pesquisador da Fiocruz Marcos Nascimento. “É preciso pensar e aprofundar as questões relativas à saúde sexual e reprodutiva e o papel que a misoginia impõe sobre isso. Falamos muito sobre a ideia de consentimento e que não é não, mas é preciso questionar se toda mulher pode dizer não, ou quais as consequências desse não?”, questiona o pesquisador.
A atividade foi encerrada com o debate sobre a importância da participação social e os desafios para a construção de novas masculinidades. Como colocado na abertura do evento por Heliana Hemetério, conselheira nacional de saúde e integrante da mesa diretora do CNS, é sempre preciso falar sobre a saúde das mulheres, considerando os impactos que raça e classe impõem nesse contexto. “Nós, mulheres, sempre estamos em momentos difíceis, mas às vezes parece que fica mais difícil. Mas estamos aqui e a esperança é nosso grande verbo”, finalizou.
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Ascom
Conselho Nacional de Saúde