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Ciência, tecnologia e inovação para quem?
Foto: ASCOM/CNS
Ciência, tecnologia e inovação podem soar como assuntos distantes do cotidiano e do interesse imediato das pessoas. E para que políticas públicas neste âmbito sejam construídas e implantadas de maneira eficiente, o caminho é justamente promover um espaço de escuta que seja tão diverso e plural como a população brasileira. Foi sob esta perspectiva desafiadora que o Projeto Integra realizou a Conferência Livre Ciência, Tecnologia e Inovação, Participação Social e Saúde nesta terça-feira (12/3), na Fiocruz Brasília.
A conferência livre integra a etapa preparatória da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação - 5ª CNCTI, que será realizada em junho de 2024, em Brasília, após um hiato de 14 anos desde a última edição. Implementadas com êxito na área da Saúde desde meados de 2017, o modelo de conferências livres é considerado como a radicalização da democracia participativa justamente por abrir campo para que todas as pessoas que usam, trabalham ou administram o Sistema Único de Saúde (SUS) possam ter voz para defender e exigir os direitos instituídos dentro da Constituição Federal.
Coordenadora da “Livre” de Ciência e Tecnologia, a farmacêutica Silvana Nair Leite reforçou, na abertura do encontro, que uma política pública sólida deve atender às diversidades e demandas do país. “Ciência, tecnologia e inovação precisam ter investimento para fomentar uma política sólida e concreta que realmente atenda às necessidades e expectativas no país. Devemos tratar da participação da sociedade do ponto de vista do engajamento e do reconhecimento de necessidades para a ciência e a tecnologia, especialmente na saúde”, declarou.
Dalmare Anderson Sá, também participante da conferência livre, atua na Assistência Farmacêutica da rede de Atenção Primária à Saúde em Recife. Ele revela que seu trabalho diário é fazer atendimentos domiciliares. Com esta experiência de trabalho no SUS que acontece no território, ele indaga como, a partir do processo da Conferência de Ciência e Tecnologia e Inovação (CT&I) e até mesmo da 17ª Conferência Nacional de Saúde, é possível ampliar o fomento para, consequentemente, ampliar o cuidado às pessoas.
“Como vamos aprimorar a tecnologia do dia a dia das pessoas, que é tão importante quanto a alta tecnologia? E como podemos elaborar métodos e criar inovações para que esses profissionais de saúde adentrem na casa das pessoas”, questiona, o farmacêutico, que faz coro a outros participantes ao afirmar que o SUS é também uma inovação. “Quando vamos valorizar as grandes inovações que temos no Brasil, como o SUS? Este sistema é um modelo de inovação para o mundo. Precisamos pensar em um memorial do SUS que transmita a importância deste sistema para o povo brasileiro”, sugeriu.
A Ciência voltou
“A ciência é o rumo do Brasil neste momento, e, por meio da educação, da cultura e da saúde pública, constitui um eixo estratégico de atuação do controle social e também do Governo Federal”, declarou Débora Melecchi, coordenadora da Comissão Intersetorial de Ciência, Tecnologia e Assistência Farmacêutica do Conselho Nacional de Saúde (Cictaf/CNS).
Débora foi uma das convidadas da mesa que abriu as discussões da Conferência Livre: “Participação social na Política de Ciência, Tecnologia e Inovação”. Na ocasião, ela explicou como a Cictaf, dentro do seu planejamento de trabalho, traz como essência debater as estratégias de CT&I vinculadas com a saúde. Para ganhar materialidade, as táticas de ação devem ser voltadas às pessoas. “A escuta das pessoas na diversidade que temos na sociedade é fundamental e deve ser o eixo disso. No campo da Saúde, conquistamos o SUS e o controle social do SUS, com a participação ampla e plural de diferentes olhares para levar os nossos conhecimentos e saberes para a construção das políticas públicas”.
Para Melecchi, esse olhar para as pessoas não se refere ao conhecimento, mas ao olhar para o território, enxergando suas necessidades e valorizando os diferentes saberes. “É essa soma coletiva que vai construir um dia melhor para todas as pessoas”, finalizou.
Também participante da mesa sobre participação social, Fernanda Magano, conselheira nacional de saúde, reforça o norte humanizado que ciência, tecnologia e inovação devem seguir, por meio da participação social, apontado por Melecchi. “A tecnologia deve olhar o ser humano, os afetos e as relações. Essa perspectiva da construção da tecnologia do cuidado é fundamental para garantir a saúde. Precisamos avançar e valorizar o SUS nesse modelo e exemplo de participação social”, ponderou.
Integração e Inovação contra iniquidades
A conferência livre integra duas pautas ministeriais, no caso da Saúde e CT&I, expressando uma mobilização para construção de agendas que permitam avançar de forma inclusiva e democrática. “Seguimos neste espaço enfrentando desigualdades, seja para garantir acesso à medicamentos, seja para garantir a implementação das tecnologias promotoras da saúde. Cada vez mais estaremos unidos pela ciência e em sua defesa, para que ela não seja questionada em nenhum momento”, aponta Fabiana Damásio, diretora da Fiocruz Brasília.
Essas desigualdades e iniquidades apontadas por Fabiana são observadas em outras falas proferidas no encontro, como a da pesquisadora da Universidade Estadual de Londrina Marcele Carvalho, que confronta os presentes: “Como vamos enfrentar (as desigualdades), como comunidade científica e enquanto participação social, sem falar da participação das mulheres nesses espaços, se ainda precisamos ouvir que a maternidade é um fator contra produtividade científica, por exemplo”. Mencionando o projeto Parent in Science, ela também crava “somos sim produtivas, contribuímos sim para a ciência e tecnologia mas não na velocidade que a ciência machista e racista nos obriga, e isso precisa ser colocado em debate”.
Após um rico dia de escuta, com participações de pessoas trabalhadoras, gestoras e pesquisadoras do SUS, a Conferência Livre Ciência, Tecnologia Inovação, Participação Social e Saúde levará para a 5ª CNCTI a força transformadora democracia participativa, tão fundamental para o SUS.
Confira a transmissão da Conferência na íntegra
Ascom/CNS