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Sofrimento psíquico no ambiente de trabalho: pesquisadoras apontam situação epidêmica na Saúde Mental no Brasil
Fotos: CNS
Em proposição da Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (Cistt) do Conselho Nacional de Saúde, a 342º Reunião Ordinária do CNS trouxe dados alarmantes sobre como a ansiedade, o estresse e o suicídio tem afetado a população ativa no Brasil. A mesa “Transtorno mentais e de adoecimento no ambiente de trabalho: ações e intervenções para proteger a saúde e a segurança dos trabalhadores e trabalhadoras” revelou que a situação de saúde mental no Brasil é preocupante e deve ser analisada como epidêmica.
Marcia Bandini, professora do Departamento de Saúde Coletiva da Unicamp, Tânia Maria de Araújo, professora da UEFS e Thaís Oliveira, professora da UFPB, pesquisadoras convidadas para a atividade, revelaram como são urgentes a construção de políticas públicas voltadas à saúde mental que superem o estigma do sofrimento psíquico no ambiente de trabalho.
“O problema é absolutamente complexo e não adianta a gente trazer o assunto unicamente ao Conselho Nacional de Saúde, pois não existe uma única resposta para este problema”, desabafou a professora da Unicamp Márcia Bandini.
Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, apontou que 10,2% das pessoas com 18 anos ou mais receberam o diagnóstico de depressão. Dados oriundos do sistema de informação de óbitos dão conta que o crescimento do suicídio é exponencial e a ocorrência desencadeada por adoecimento no trabalho é notória: neste mesmo ano foram notificados 13 mil suicídios no país, sendo quase 12 mil casos em população de 14 a 65 anos. Destes, 10 mil casos ocorreram em pessoas em atividade de trabalho. 77% dos suicídios ocorreram entre homens.
Considerando as categorias de atividade, agricultores e profissionais que atuam nas áreas de pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura são as mais afetadas, sendo 89,5% dos casos de suicídio cometidos por pessoas do sexo masculino. Policiais, bombeiros e agentes carcerários seguem no ranking, seguidos pelos trabalhadores da enfermagem, da construção civil e de transportes.
Os transtornos mentais relacionados ao trabalho (TMRT) são a terceira maior causa de afastamento do trabalho e os dados apontam tendência de crescimento, segundo Tânia Maria de Araújo, pesquisadora da UEFS. “Trata-se de uma situação que tem o desenho claramente definido de uma epidemia e precisamos, de fato enfrentar, este problema”.
Já para Thaís Oliveira, da UFPB, os dados não traduzem a realidade da situação, uma vez que a subnotificação dos casos, ocasionada pelo medo e pela falta de acolhimento que o trabalhador enfrenta, é grande. “Há medo e receio da culpabilização pelo sofrimento em termos individuais, e isso historicamente gera a invisibilidade da situação", pondera.
Promover a saúde e prevenir o adoecimento
Os trabalhadores e trabalhadoras têm sido vítimas de assédio moral constante e isso precisa ter um fim. “Enquanto política precisamos chegar na gestão e essa gestão não pode ser particularizada, deve ser baseada na promoção de saúde e não na promoção da doença”, pondera Thaís, que refuta também a naturalização e a romantização do estresse.
Por meio de representações sindicais, do controle social e das universidades é possível resgatar os coletivos de trabalhadores como protetivos também da saúde mental, proporcionando espaços seguros de escuta e diálogo. Por outro lado, há uma boa maturidade na área de Saúde Mental e do Trabalho onde há um corpo sólido de evidências associadas aos fatores ligados ao adoecimento no trabalho.
Como propostas, as pesquisadoras sugeriram a elaboração de políticas públicas que garantem a Saúde Mental nos espaços organizacionais e também no SUS, a promoção e a formação de gestores públicos e privados com foco na saúde do trabalhador, o fortalecimento dos coletivos e das entidades de representação trabalhistas, a criação de espaços de acolhimento (denúncia) e o aprimoramento da rede de saúde mental, para que de fato ela esteja preparada para receber esses pacientes.
A Cistt foi também convidada a endossar o movimento de criação do Observatório Nacional em Saúde Mental e Trabalho. A ideia é formar um agrupamento dos vários órgãos que estão já estabelecidos e atuantes no campo da saúde mental e do trabalho para que se produzam insumos para uma política nacional focada nesta pauta.
Confira a galeria de fotos da 342º Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Saúde
Ascom CNS