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CNS debate estratégias de cuidados no enfrentamento à violência contra a pessoa idosa
Foto: CNS
O Brasil é apontado como um dos países mais rápidos do mundo em termos de processo de envelhecimento e cerca de 70% dos idosos usam o Sistema Único de Saúde de forma integral. É urgente, portanto, a necessidade de traçar estratégias que tratem da atenção e do cuidado à saúde da pessoa idosa. Em consonância ao Dia Mundial da Conscientização da Violência da Pessoa Idosa, neste 15 de junho, a 343ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Saúde reuniu pesquisadores e promotores de justiça para dialogar sobre estratégias de cuidados no enfrentamento a esta situação.
A mesa contou com as participações de Alexandre de Oliveira, promotor de Justiça do Ministério Público do Ceará, Letícia Cardoso, coordenadora-geral de vigilância de doenças e agravos não transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde (SVSA/MS), Lucélia Silva, coordenadora substituta de saúde da pessoa idosa da Secretaria de Atenção Primária do Ministério da Saúde e Marília Berzins, presidenta do Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento (Olhe).
O país também já alcançou a marca de 30 milhões de pessoas idosas, o que representa cerca de 14% da população. Com o aumento da esperança de vida em cerca de 30 anos, a projeção é que em 2050 teremos 30% da população acima dos 60 anos, ou seja, são 1 milhão de pessoas idosas a cada ano.
Trabalhando há quase 20 anos com foco na situação da pessoa idosa, o promotor Alexandre de Oliveira pontua que é preciso conquistar a adesão de instituições para esta temática do envelhecimento. “De qual idoso estamos falando? O envelhecimento ocorre de forma heterogênea e precisamos atentar que há pessoas envelhecendo nas ruas, em situação carcerária, nas comunidades e territórios indígenas, dentre outros, para isso precisamos dialogar entre conselhos e instituições”.
O promotor ressalta ainda que a natureza das violências que a população idosa sofre coincide com a violência social que a sociedade brasileira vivencia e produz nas suas relações e introjeta na sua cultura. Além da situação de desrespeito e violação dentro de casa, é perfeitamente cabível estender a questão também para a violência institucional e estatal, vide a epidemia de Covid-19, que matou 487.500 pessoas idosas no Brasil, representando cerca de 70% das vítimas totais.
Suicídio idoso também é questão de saúde pública
Dados da Pesquisa Nacional de Saúde, publicados em 2019, trazem que 1 a cada 10 pessoas idosas relataram ter sofrido algum tipo de violência ou abuso, sendo que a maior prevalência é a psicológica e as mulheres, as maiores vítimas. “Perpetuam nos ciclos de vida a violência contra a mulher”, declara Letícia Cardoso, da SVSA/MS.
Como fatores de riscos, Letícia mostra que a maioria das vítimas possuem 74 anos de idade e são do sexo feminino, possuem dependencia ou incapacidade relevante, baixa renda e dependência financeira, pouca interação social e situações de saúde mental advesas, em sua maioria a depressão. Já as características principais dos agressores são algum tipo de comprometimento de saúde mental, como depressão, uso de substâncias tóxicas e relação de dependência (financeira, emocional) com a vítima.
A pesquisadora chama atenção para o suicídio, considerada por ela uma questão de saúde pública entre idosos. “A maior taxa de suicídios no Brasil está entre os idosos, com destaque para os de 70 anos acima, principalmente entre os homens", dispara. A razão entre a tentativa e consumação é de 1 para 4 pessoas, sendo mais de 70% dos casos por enforcamento. “A questão da saúde mental é um ponto que precisamos prestar atenção por conta deste diagnóstico”, conclui.
Estratégias de enfrentamento
Acolhimento, atendimento, notificação, cuidados e encaminhamentos são apontados como estratégias eficientes para este cuidado, com destaque para a notificação, que possibilita entender a magnitude do agravo, traçar o perfil epidemiológico e definir prioridades para estabelecer políticas públicas de prevenção. Tudo isso destaca, portanto, a importância da Atenção Primária à Saúde neste processo.
Para Lucélia Nico, coordenadora substituta de Saúde da Pessoa Idosa, compreender a violência como problema de saúde pública e expandir a notificação de violência nos serviços, investindo na formação acadêmica dos profissionais de saúde e promover ações integradas na rede de atenção e proteção, são essenciais para formar uma rede de proteção eficiente aos idosos e idosas.
Assista a discussão na íntegra no Canal do CNS no Youtube
Ascom/CNS