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Transtornos mentais e adoecimento no ambiente de trabalho: como enfrentar?
Fotos: CNS
Tema que gera atenção e muita preocupação para o movimento sindical, para a academia e também para instituições que operam no âmbito da saúde pública, o adoecimento no ambiente de trabalho emerge como pauta imprescindível nas discussões que subsidiam políticas de saúde no Brasil e no mundo, especialmente após o período pandêmico da Covid-19.
Com o objetivo de chamar atenção para o Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho e Dia Nacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho, em 28 de abril, e também ao 1º de maio, Dia do Trabalhador e da Trabalhadora, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) por meio da Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (Cistt) promoveu a live: Transtornos mentais e adoecimento no ambiente de trabalho: como enfrentar?
A atividade está disponível no Youtube. A live contou com as participações de Márcia Bandini, professora e pesquisadora da Unicamp, Thais Oliveira, pesquisadora em Psicologia pela UFMG e Luciene de Aguiar Dias, coordenadora-geral de Vigilância em Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde. Jacildo de Siqueira Pinho, conselheiro nacional de saúde representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil (Contraf Brasil) e coordenador da CISTT e Ruth Guilherme, também conselheira e representante da Associação Brasileira de Nutrição endossaram o encontro.
Trabalho como meio de promoção da saúde
Luciene de Aguiar Dias, coordenadora-geral de Vigilância em Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde apresentou dados alarmantes sobre a insalubridade laboral no país. Entre 2006 e 2022 foram registradas quase 18 mil notificações por transtornos mentais relacionados ao trabalho. “E precisamos destacar a subnotificação desses dados, seja pela dificuldade de atendimento desses trabalhadores nos pontos de assistência do SUS, seja pela insegurança do trabalhador em procurar ajuda, então acreditamos que estes números sejam muito maiores”, ressalta a coordenadora.
Ainda segundo levantamento do Ministério da Saúde, as profissões mais acometidas por agravos na saúde mental neste período foram: técnico e auxiliar de enfermagem, agentes, assistentes e auxiliares administrativos, motoristas de ônibus, escriturários de serviços bancários e professores do ensino fundamental. Luciene pontuou que vínculos precários, dificuldades para deslocamento até o trabalho, baixos salários e a naturalização de situações de assédio são aspectos que transformam o trabalho em um ambiente de vulnerabilidade.
Risco à vida no trabalho
“Fala-se pouco, estuda-se pouco e publica-se pouco sobre este assunto. Talvez, por conta do estigma e dificuldade de lidar com o tema, que é extremo e muitas vezes é patologizado, o que é um grande erro”, aponta a pesquisadora da Unicamp Márcia Bandini, ao trazer a questão do suicídio ocasiondo por más condições de trabalho. “É preciso combater o estigma e desvincular a ideia do suicídio como sendo uma manifestação de uma doença, embora existam sim quadros relacionados, mas não é uma regra”, declarou.
A exemplo, a professora menciona um estudo publicado na Revista Saúde e Debate que aborda o risco de suicídio no trabalho a partir de uma revisão integrativa, partindo também de estudos internacionais. Há uma associação significativa entre o risco e/ou tentativa de suicídio com situações de assédio no trabalho, excesso de demandas de trabalho, baixa autonomia, baixo apoio social, medo de perder o emprego e insatisfação no trabalho. “Alertamos para a necessidade de adoção de políticas e práticas que promovam ambientes que respeitem a dignidade humana, que sejam intolerantes com situações de assédio e promovam relações interpessoais mais saudáveis”.
Saúde mental e estigma
Experiências internacionais mostram também que a exigência de políticas públicas e de ações dentro das organizações de trabalho podem sim impulsionar iniciativas que promovam um trabalho mais saudável, menos violento e adoecedor. A professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal da Paraíba, Thaís Oliveira, destaca que há aumento das demandas em saúde mental em várias categorias profissionais. “Temos escutado em todos os espaços que vamos sobre essas questões, e apesar das subnotificações e invisibilidade, ainda assim, os dados são altos”.
A professora revela que o INSS da Paraíba trouxe ao seu departamento dados que apontam o transtorno mental como a segunda causa de adoecimento e “Há muita dificuldade das instituições em saber como lidar com o adoecimento mental. Vemos que empresas não sabem como desenvolver e implementar estratégias, bem como o próprio SUS seja na atenção básica e na especializada”.
Outro ponto que chama atenção é que muitas vezes essas questões são interpretadas como individuais, ou seja, há um silenciamento desse sofrimento e, quando de fato chegam na rede ou no sindicato, a situação de adoecimento já é agravada pois não existiu a possibilidade de uma intervenção anteriormente. Ou seja, ainda estamos em um contexto do estigma relacionado ao sofrimento mental e há ausência de uma política de formação para gestores que possibilite o desenvolvimento da gestão de forma a promover a saúde e o desenvolvimento no trabalho.
Jacildo de Siqueira, coordenador da Cistt e representante da Contraf Brasil relembra que o tema está em voga no país e todos que passaram pelo período pandêmico sabem como essas questões perduraram e foram ampliadas. “Atento e sensível a esta demanda o CNS, por meio da Cistt, quer trazer essa discussão também para embasar a realização da 5ª Conferência de Saúde Mental, a ser realizada em outubro deste ano.
Ascom CNS