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"Violência contra mulher tem correlação com transtornos mentais comuns", afirma pesquisadora da UNB
Foto: CNS
Depressão, ansiedade, transtorno do sono, transtorno de estresse pós-traumático, ideação suicida e distúrbios mentais podem estar diretamente relacionados com relações abusivas e violentas contra as mulheres. É o que indicam pesquisadores que participaram da 336ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Saúde (CNS), para debater consequências da masculinidade sobre a saúde das mulheres, nesta quinta (10/11).
Para o encontro foram convidados Luciano França Ramos, diretor adjunto do Instituto Promundo, Ana Paula Procópio da Silva, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Valeska Zanello, professora da Universidade de Brasília (UNB).
A opressão de gênero também pode gerar problemas emocionais, cognitivos e comportamentais, como baixa autoestima, insegurança, crise de pânico e outros transtornos psicológicos, além da violência física.
Para Valeska, que pesquisa a relação entre violência contra mulheres e saúde mental, há uma epidemia de violência contra as mulheres que é invisibilizada. “A violência contra a mulher tem uma alta correlação com transtornos mentais comuns. Tratar a questão psíquica é fundamental para as mulheres não entrarem em outra relação abusiva”, avalia.
A reprodução de paradigmas e a necessidade de tratar o assunto com olhar voltado às categorias de raça, gênero sexualidade e classe, também foram abordadas pelos acadêmicos no debate. “Ainda temos situações e questões que nos remetem o tempo todo ao nosso passado, que não passou. Mulheres negras que na sociedade escravocrata serviam como instrumento de trabalho e objeto sexual”, completa Ana Paula Procópio, ao destacar a necessidade de se conquistar avanços com trocas de diálogos e experiências.
Masculinidade x Machismo
Segundo Luciano França Ramos, masculinidade e machismo são duas coisas diferentes. Ele pontua que a masculinidade é uma construção social, performance do que é ser homem na sociedade. “A gente aprende a ser homem e aprende a ser mulher socialmente e é frente ao diferente que vou me constituindo e me organizando como individuo”, afirma
Destaca ainda que todas as análises sobre masculinidade no Brasil foram influenciadas por uma visão europeia, que estimula o homem a seguir um modelo de masculinidade ideal. “É uma masculinidade hegemônica e para se chegar até ela é necessário também ser machista”, avalia.
Mudança social
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o quinto país no mundo no ranking de feminicídios. Em 2021, foram 1.319 casos, uma morte a cada sete horas.
Para desconstruir esse padrão de masculinidade tóxica e enfrentar o machismo na sociedade, os pesquisadores indicam a necessidade de se trabalhar com políticas intersetoriais, assistência social, saúde e educação que são fortes pilares socais que chegam a todas as classes.
"Precisamos trabalhar com assistência social e com a paternidade, que é uma janela importante para trabalharmos masculinidade. Quando falamos de parentalidade trabalhamos avó, tia e não trabalhamos a figura paterna que é muito importante, já que estamos falamos do desenvolvimento de estrutura familiar”, afirma Luciano.
Trabalhar com meninos na primeira infância, com adolescentes e jovens para que as relações não sejam baseadas na violência e opressão contra a mulher, capacitação de profissionais de saúde também estão entre as urgências apontadas para se mitigar os efeitos da masculinidade e machismo na sociedade.
“A gente precisa conversar sobre quem é o vetor da violência no nosso país, porque são eles que matam. Homens matam outros homens, matam mulheres e se matam entre si”, avalia Valeska.
Ascom CNS