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Pandemia da covid-19 escancarou as desigualdades, revela estudo da OXFAM sobre acesso à vacinação
Foto: CNS
Relatório lançado no 13º Abrascão aponta atuação negligente e desordenada do governo federal, em razão do atraso na implementação do Plano Nacional de Imunização, da demora para aquisição de vacinas e de adoção de uma política negacionista de combate ao vírus
A pandemia de covid-19 iniciada no Brasil em 2020 escancarou as desigualdades regionais brasileiras no acesso à vacinação contra covid-19. É o que aponta o relatório Desigualdade no Acesso a Vacinas Contra a Covid-19 no Brasil, que acaba de ser lançado no 13º Congresso de Saúde Coletiva promovido pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), em Salvador (BA). O estudo analisou a gestão sanitária e estratégica do governo federal durante a pandemia e oferece uma série de propostas e recomendações para que os erros não se repitam.
A atuação negligente e desordenada do governo federal, a ausência de campanhas públicas informativas, a gestão inadequada e falta de estratégia nacional entre a União e os estados estão entre os principais fatores que impediram o país de atingir a meta vacinal.
De acordo com a professora da Faculdade de Saúde Pública da USP, Deysi Venutura, não houve falta de conhecimento técnico para enfrentar a vacinação no Brasil, mas sim vontade política. “Continuamos vivendo uma emergência de saúde pública internacional do ponto vista científico. E se não temos a mais ampla cobertura vacinal eu não controlo o vírus, portanto não chego ao nível de segurança em relação a resposta de urgência.
CNS foi ouvido no Levantamento
Além da coleta de dados baseada em raça, cor, gênero e renda, para a composição do estudo foi realizada pesquisa quantitativa com especialistas que acompanham o processo de vacinação, entre eles o presidente do Conselho Nacional de Saúde, Fernando Pigatto.
No Brasil, 80,1% da população estava totalmente vacinada no final de julho de 2022, sendo o quarto país do mundo com o maior número de doses aplicadas – 465 milhões –, atrás apenas de China, Índia e Estados Unidos.
O alto percentual de vacinação no Brasil acaba ofuscado, entretanto, pelo impacto de ações e omissões governamentais em resposta à pandemia, que levaram o país a ter o segundo maior número de mortos pela covid-19 no mundo, com 677 mil vidas perdidas para o coronavírus, mesmo tendo apenas a 5ª maior população do planeta.
Entre os fatores para este cenário estão o atraso na implementação do Plano Nacional de Imunização, demora para aquisição de vacinas contra a covid-19 e adoção de uma política negacionista de combate ao vírus, rechaçando medidas de controle social e estimulando o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra o coronavírus. Como resultado, a maioria das mortes decorrentes da pandemia ocorreu quando já havia vacina disponível no mundo: enquanto o país teve, em 2020, 194.976 óbitos; em 2021, já com imunizantes disponíveis contra a covid-19, o total foi o dobro: 424.133.
Este informe analisa os desafios do acesso a vacinas contra a Covid-19 no Brasil, com especial ênfase nos impactos da distribuição desigual dos imunizantes devido à desigualdade estrutural no acesso ao direito à saúde em nosso país.
Ascom CNS, com Oxfam Brasil