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“A luta é para que ninguém fique nas ruas”, afirma Padre Júlio Lancellotti ao receber homenagem do CNS
Foto: CNS
Em uma cerimônia emocionante para o Controle Social do SUS, Padre Júlio Lancelloti recebeu, nesta quarta (14/12), uma homenagem do Conselho Nacional de Saúde (CNS) pela sua incansável luta em defesa do direito humano à saúde. Com a entrega da Comenda Zilda Arns, o colegiado reconheceu o trabalho desenvolvido pelo pároco contra a violação de direitos negados, especialmente, à população em situação de rua.
Padre Júlio Lancellotti é pedagogo e presbítero católico brasileiro. Exerce a função de pároco da paróquia de São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca, em São Paulo. Participou com Dom Luciano Mendes de toda a fundamentação da Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo, de grupos de fundação da Pastoral da Criança e colaborou na formulação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Atua junto a menores infratores, detentos em liberdade assistida, pacientes com HIV/Aids e populações de baixa renda e em situação de rua. É conhecido, nacionalmente, pela luta no enfrentamento à pobreza e por considerar que todos os cidadãos devem ter seus direitos respeitados. “A luta pela saúde é uma luta muito importante, que qualifica e dignifica a vida. Ligada à outras questões, como moradia, trabalho e assistência social, é imprescindível na visão da pessoa como totalidade, como agente transformador de mudança”, afirma Padre Júlio.
Dados
Dados do Instituto de Pesquisa Econômica aplicada (Ipea) indicam que a população em situação de rua no Brasil cresceu 38%, desde 2019, e chegou a 281,4 mil pessoas, em 2022. Em uma década, o aumento foi de 211%, muito superior ao crescimento da população geral no Brasil, de 11%.
A pesquisa do Ipea faz uma estimativa da população que está na rua a partir de dados informados pelos municípios, pelo Censo Suas, que é preenchido pelas secretarias de assistência social estaduais e municipais e pelos dados do CadÚnico (Cadastro Único), que serve para registro e acesso a serviços essenciais de assistência.
“Temos visto muitas pessoas em situação de rua que ainda não têm o CadÚnico e, por isso, não tem acesso a nenhum benefício ou forma de proteção social. Isso é um grande desafio. A luta é para que ninguém fique nas ruas”, afirma Padre Júlio, o que pode indicar que o número de pessoas em situação pode ser ainda maior.
Comenda Zilda Arns
A Comenda Zilda Arns é uma honraria concedida pelo CNS às personalidades que destinaram fundamental contribuição para a defesa do direito humano à Saúde e do SUS. Recebem a homenagem aqueles e aquelas que desenvolveram notórias ações que geraram qualidade de vida às pessoas a partir da conquista de direitos. Médica pediatra e sanitarista, Zilda Arns (1934-2010) fundou a Pastoral da Criança e a Pastoral da Pessoa Idosa e foi conselheira nacional de saúde por sucessivos mandatos.
O Padre Júlio Lancellotti foi o escolhido pelo colegiado para receber a comenda, mas outras personalidades também serão homenageadas com o reconhecimento do CNS pela defesa do SUS, são eles: Dra. Jurema Werneck, professor Dr. Lysandro Pinto Borges, Nair Soares de Brito e Dra. Nísia Trindade.
Confira o depoimento de alguns conselheiros e conselheiras nacionais de saúde durante a entrega da homenagem:
“É impossível não lembrar daquela cena onde o senhor, com uma marreta, quebrou aqueles pilares que impediam as pessoas de dormir. Acompanho sua luta e esta homenagem não poderia ser para outra pessoa, neste momento. Sem o seu trabalho incansável essas pessoas, que durante a pandemia não tinham nem as ruas para sobreviver, não teriam a mínima condição de continuar existindo”, Ana Lucia Paduello.
“Somos muito gratas a tudo o que fez e faz pelos vulneráveis, que vem de encontro ao trabalho da doutora Zilda Arns”, Vânia Leite.
“É como nutricionista que eu venho agradecer toda a sua doação enquanto ser humano, de se colocar em pé de igualdade e no mesmo nível de todos e todas”, Myrian Cruz.
“Saúde é capacidade de luta, do organismo lutar contra a agressão de um vírus e do ser social de lutar contra os fatores que impedem o bem-estar físico e mental. Esse conceito está muito identificado com a luta que o senhor tem desenvolvido em toda a sua vida. Muito obrigada pela sua história, seu exemplo e sua presença”, Neilton Araújo.
“Nossa emoção é devida a compreensão da nossa pequenez diante do seu tamanho”, Roberto Campos Portela.
“Nós só temos a agradecer e parabenizar o senhor por este trabalho que chega àqueles e àquelas que ainda estão à margem da sociedade e sofrem do preconceito, racismo e discriminação. Força e axé para o senhor e que possa ser grande a sua caminhada”, Marta Almeida.
“Na pandemia, quando estávamos com medo e assustados, precisávamos de esperança e de gente que falasse de vida, que entendesse a dor de outras pessoas e de outras gentes. Você, Padre Júlio, simbolizou isso. Enquanto evangélica, tenho o entendimento que o amor entre as religiões precisa prevalecer”, Shirley Morales.
“Te acolhemos, Padre Júlio, e registramos em nossas vidas a sua importante presença. Muito, muito obrigada”, Conceição Silva.
Ascom CNS