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Parlamentares defendem investimento em tecnologia para melhorar prevenção e tratamento do câncer de mama
Foto: Shutterstock
Durante audiência da Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT) do Senado Federal, nesta terça-feira (26/10), debatedores defenderam mais investimento público e a elaboração de uma política de estado para acelerar o processo de inovação tecnológica na área da saúde. Para eles, é preciso pensar o assunto de forma estratégica com o objetivo de agilizar o acesso ao diagnóstico e tratamento contra o câncer, em especial o de mama. O tema foi tratado durante audiência pública em alusão a campanha Outubro Rosa, de conscientização para o controle do câncer de mama, e foi presidida pelo senador Styvenson Valentim.
Valentim citou como exemplo a implantação do prontuário eletrônico e lamentou que, até mesmo esse tipo de inciativa, não tenha sido aplicado em grande parte dos municípios até hoje. Para ele, é impossível avançar nas políticas de atendimento a essas mulheres sem ampliar o investimento em inovação e melhorar a gestão pública do Sistema Único de Saúde (SUS). “Prontuário eletrônico. Isso foi promessa de campanha municipal. Cada candidato dizendo que iria implantar o prontuário eletrônico. Hoje ainda é feito no papel. Isso favorece fura fila, favorece desvios, favorece a política dentro da saúde. Não tem transparência, não tem tecnologia, não tem ordem. Ninguém sabe o que acontece no sistema. O sistema é bom, talvez ele não tenha boa gestão ou não tenha a inovação ao ponto de concretizar os princípios tão básicos da Constituição. Seria, no mínimo, uma ineficiência”.
Segundo Luís Romagnolo, diretor de inovação do Hospital de Amor, da cidade de Barretos, referência no assunto no país, mais de 10% dos municípios brasileiros tem o câncer como a primeira causa de morte. Ele ainda informou que de 70% a 80% dos casos de câncer já chegam na unidade de saúde em estágio avançado. Diante dessa realidade, ele defendeu o aumento do investimento, principalmente àqueles voltados a telemedicina e inteligência artificial. Segundo ele, isso vai permitir a conectividade de todos os dados do SUS, possibilitando, entre outras ações, agilidade no atendimento, aplicação de metodologia de prevenção de doenças, rastreabilidade, atendimento e tratamento remoto e, a longo prazo, redução de custos e desperdícios de dinheiro público.
“Se a gente tivesse um Data Lake, um Big Data nacional, aonde se armazenasse todos esses dados, com inteligência artificial, em vários programas de aceleração que o governo já tem, conseguiríamos que esse paciente, que tem o diagnóstico 1 ou 2, chegasse antes de 1 para a gente. Dados oficiais eu não tenho. Porque os dados que temos de resultados, conseguimos trazer do hospital, mas não temos uma rede integrada de saúde que poderia dizer o que se conseguiria do Ministério da Ciência e Tecnologia”.
Pandemia
A presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Clarissa Mathias, manifestou preocupação com a redução, em 50%, da procura para realização de mamografia durante o período da pandemia. Para ela, isso vai refletir de “forma assustadora” mais à frente e defendeu que o sistema de saúde esteja preparado para atender essa demanda. Para isso, conforme defendeu, é imprescindível o uso das tecnologias, principalmente as ferramentas para melhorar distribuição de medicamentos.
A conselheira nacional de saúde Vanja dos Santos, que integra a mesa diretora do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e coordena a Comissão Intersetorial de Saúde da Mulher (Cismu) no CNS destaca que as mulheres são maioria das usuárias no SUS e serviços de saúde, mas isso não significa que tenham acesso e atenção adequada. “Por causa da pandemia mais de 1 milhão de mulheres deixaram de receber o diagnóstico de câncer, em relação a 2018 e 2019. O acesso tem de ser qualificado desde a Atenção Básica, mas ela também está sendo atacada pelo governo brasileiro. Vivemos um desfinanciamento grave do SUS, que nem com a pandemia conseguimos reverter. Do total da verba que é destinada à saúde da mulher, apenas de 24% a 28% tem sido utilizada nos últimos anos. Esse desinvestimento afeta diretamente as mulheres no enfrentamento destas doenças”.
Para o diretor presidente do Hospital do Coração de Alagoas, Ricardo César Cavalcanti, a pandemia de covid-19 antecipou o debate sobre a necessidade de inserção das inovações tecnológicas no serviço público de saúde para proporcionar, por meio da telemedicina, a interação médico-paciente. Ele defendeu a criação de centros de inovações, uma espécie de hub tecnológico, em cidades de médio e grande porte, que pudessem, pela conectividade dos vários atores, atender, principalmente, regiões remotas que possuem carência de profissionais médicos especializados. “É possível salvar vidas com o que já tem desde que essas instituições, que essas entidades conversem entre si. E é isso que faz a tecnologia. Colocar os atores para conversar entre si. Então nós temos, sem dúvida nenhuma, se de fato há um problema de financiamento e a gente sabe que há, há também um problema de gestão. Não culpa do gestor, mas de um sistema que não conversa entre si”.
Startups
O diretor do Departamento de Empreendedorismo Inovador do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Marcos Cesar de Oliveira Pinto, observou que a saúde ainda precisa, em vários aspectos, de uma transformação digital. O gestor informou que a pasta tem apoiado, em um dos projetos desenvolvidos, mais de 70 startups voltadas a saúde, sendo quatro delas específicas para atenção ao câncer com vistas a reduzir o custo e aumentar a efetividade do tratamento.
“A gente está retomando os investimentos em ambientes de inovações tais como parques tecnológicos, centros de inovação, hubs de inovação. Tem um edital, que pretendemos lançar ano que vem, que vai investir recursos nesses ambientes de inovação e ficaríamos muito feliz se entre as propostas recebessemos propostas de ambiente de inovação da saúde. Porque entendemos que esse modelo que está sendo gestado em Barretos é um modelo que faz todo sentido para se construir um ecossistema de inovação ao redor de instituições de excelência que envolva universidades, empreendedores, startups e laboratórios”.
Ascom CNS com informações da Agência Senado