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Seminário da Opas e CNS analisa iniciativas regionais para enfrentar a pandemia em locais de vulnerabilidade
Foto: Raphael Alves /EFE
As desigualdades sociais se tornaram mais evidentes, em todo o mundo, após o início da pandemia da Covid-19. Enquanto algumas pessoas tiverem condições de cumprir o isolamento social, com a possibilidade de se trabalhar em casa e com facilidade de acesso a tecnologias digitais e internet, uma outra parcela da população enfrentou o desemprego ou empregos informais, ou situações precárias e péssimas condições de sobrevivência.
O assunto foi discutido, nesta terça (23/11), no Seminário Internacional do Direito à Saúde, promovido pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS). O Conselho Nacional de Saúde (CNS) participou do evento, durante a mesa de abertura.
Conhecer o território e suas questões específicas, como condições socioeconômicas e sanitárias, e as iniciativas realizadas por pesquisadores de diferentes países com base nestas informações, estiveram entre as ações de enfrentamento à pandemia para as populações que vivem em situação de vulnerabilidade social.
“Alguns grupos sociais tiveram maior dificuldade para implementar algumas medidas que foram recomendadas em matéria de saúde pública, como lavar as mãos, por exemplo. As condições e as possibilidades de cumprir certas indicações de medidas preventivas eram impossíveis para estas pessoas. Há muitas desigualdades estruturais nas regiões”, afirma Orielle Sollar, da Unidade de Determinantes Sociais da Saúde da Opas/MS.
Segundo Renato Tasca, do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Iesp), a América Latina é a região mais desigual do planeta e, portanto, o aumento e excesso de mortalidade por Covid-19 que aconteceu nesta região se deve justamente a esta desigualdade e condições terríveis.
“O Brasil é campeão neste ranking e no tema da desigualdade e as recentes medidas dos últimos governos para redução dos gastos sociais pioraram a situação”, afirma o pesquisador ao ressaltar a importância de defender o Sistema Único de Saúde, como melhor instrumento para combater as desigualdades.
Experiências promovidas na Espanha e Colômbia foram apresentadas no seminário, durante a mesa Experiências Internacionais de Enfrentamento da Pandemia com Foco nas Populações em Situação de Vulnerabilidade Social – Panorama das Américas.
A professora Lyda Osório, associada da Universidad del Valle e pesquisadora do Centro Internacional de Entrenamiento e Investigaciones Médicas de Cali, Valle del Cauca, apresentou algumas iniciativas realizadas em regiões específicas da Colômbia para se conhecer o índice de vulnerabilidade das populações para o enfrentamento da pandemia.
Em novembro de 2021, os pesquisadores criaram um aplicativo para a região de Valle Corona para se fazer um cruzamento com os casos de Covid-19 e a situação de vulnerabilidade social, baseada em níveis de pobreza, comorbidades e condições sociais, como a idade, por exemplo. Com isso, estabeleceu-se percentuais a partir de bairros e com foco em áreas urbanas, o que ajudou a formular uma resposta em nível local.
“É preciso conhecer as populações. Observamos que há regiões que estão super vulneráveis e que têm ainda muita dificuldade de acesso. Há necessidade de se trabalhar melhor com estas questões. Melhorar as nossas práticas neste sentido vai nos ajudar a chegar de fato a quem mais necessita”, avalia.
A professora colombiana destaca a importância de um financiamento adequado para melhorar as capacidades em saúde pública no país. “Existe uma dívida do Estado com os hospitais na ordem de trilhões de pesos ($). E são eles que teriam a capacidade de oferecer o atendimento em saúde a estas populações”, afirma.
“Os mais fracos são sempre os mais afetados com redução de gastos e, no caso da Espanha, isso foi na atenção primária. O resultado de tudo isso se mede, infelizmente, em perdas de vidas e sequelas”, afirma o médico e pesquisador Sérgio Minué, da Escola Andaluza de Saúde Pública, da Espanha.
Segundo o pesquisador, em Madri, a situação se agravou às populações que não tiveram condições de manter o isolamento social e a distância e precisavam se deslocar em meios de transporte. Além disso, a segunda onda mostrou o agravamento de casos para imigrantes que vinham para trabalhar na colheita da uva. “A desigualdade pode ser evitável, mas infelizmente estamos seguindo para repetir a mesma direção”, completa Minué.
Assista o Seminário Internacional do Direito à Saúde
Ascom CNS