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Seminário CNS/Opas: Especialistas defendem educação permanente com qualidade para trabalhadores do SUS
Foto: Freepik
“Ensino na saúde, uso de tecnologias e qualidade do cuidado” foi o tema da mesa redonda do Seminário Proteger o Trabalhador e a Trabalhadora é Proteger o Brasil, evento internacional organizado pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS), realizada nesta terça (16/11), em parceria com a Organização Panamericana da Saúde (Opas). O objetivo do encontro é atualizar a agenda de atividades sobre a proteção do trabalho e dos trabalhadores e trabalhadoras da saúde.
A discussão trouxe três experiências e apresentou pontos importantes para o controle social no Sistema Único de Saúde (SUS), na formação de profissionais, além do debate sobre o uso das tecnologias para educação permanente de trabalhadores.
“Essa mesa é fundamental para pensar na educação permanente, no uso das tecnologias, na humanização e em uma série de estratégias que devemos pensar na formação, como um todo, dos profissionais em todos os níveis se queremos qualificar o nosso SUS que é tão importante para todos nós”, apresentou a moderadora Eliana Goldfarb Cyrino, da Faculdade de Medicina de Botucatu, da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Aline Martins, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e militante do SUS, destacou em sua fala a importância do símbolo usado no seminário: “O quão simbólico é o símbolo do seminário e a escolha do tema para debatermos esse processo hostil que estamos vivendo. O punho cerrado nos convida a pensar no símbolo de solidariedade, saudação, da esquerda e do combate que nos convoca hoje às lutas antirracistas, antifascistas, para gente proteger o nosso país”.
Experiências comunitárias
A professora explicou a atuação dos profissionais da saúde e universitários na União de Vila Cruzeiro, comunidade de Porto Alegre: “A gente vem atuando dentro de algumas comunidades junto a estudantes e movimento comunitário, uma luta comum para possibilidade de construção coletiva a partir dessa compreensão de trabalhar e lutar por nós mesmos. Proteger o trabalhador e a trabalhadora é proteger o Brasil”.
“Começamos a nossa intervenção nos apoiando na construção que foi feita na pandemia em Paraisópolis (SP), mas que foi feita em muitas comunidades Brasil afora. Tínhamos a inquietação de pensar e denunciar as mazelas da sociedade, mas precisamos colocar a unidade a serviço da população, para além da unidade básica de saúde. Fomos juntando pessoas e pensadores para nos apoiarem no caminho. A gente acredita que esse espaço que a sociedade constrói não é para todos. A gente conversa muito sobre essa cidade dividida, existem duas cidades, uma para quem come e outra para quem tem fome, uma que é feia e outra que é bonita. E é a partir daí que a gente tem que construir, na batalha de ideias, novas tecnologias em saúde, construir inéditos viáveis”, pontuou Martins.
A construção do trabalho em conjunto, a economia solidária, arrecadação e estratégia para distribuição de alimentos também foram pontos destacados pela professora. “O movimento comunitário também não parou durante a pandemia. Também foi criada uma biblioteca comunitária, e todo o espaço geográfico foi transformado e ressignificando”, acrescentou Aline Martins.
Novas tecnologias em tempos de pandemia
O professor Emerson Elias Merhy, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), comentou sobre a relação humana com a tecnologia e destacou que, às vezes, esquecemos que somos parte dela. “Nós somos a tecnologia, a desorganização da imagem da tecnologia como algo que está fora de nós, que nos atinge e que parece que nasceram do nada. Estamos vivendo uma época que essa fala da tecnologia vem sempre com uma imagem que parece que nasceu de algum lugar, coisas que são as tecnologias, a gente acaba meio que reproduzindo esse senso comum, ‘ah, agora estamos com computador, olha como a tecnologia nos ajuda’, como se nós fossemos meros consumidores. E a gente vai perdendo a noção de que o tecnológico somos nós”. O professor pontuou que, sem as pessoas, os aplicativos e as redes sociais não funcionam.
“Não estamos, neste momento, diante de uma posição pedagógica isolada, nós estamos diante de uma posição que antecede o pedagógico, os processos relacionais tecnologicamente constituídos nos encontros com outras vidas é um ato em si que deve valorar a vida de qualquer um, como uma vida substancial, para aumentar a riqueza do meu viver, um processo que nos chama para olhar a problemática da questão do ensino e das tecnologias sob outras perspectivas”, comentou Emerson Elias Merhy.
O professor finalizou a sua fala destacando a importância dos trabalhadores e trabalhadoras da saúde: “Nós, trabalhadores e trabalhadoras da saúde, devemos ser vistos como riquezas experimentais de novas ousadias na experiência molecular, democrática do viver com o outro, onde a diferença com o outro é a minha liberdade. A igualdade do outro é a minha igualdade. Esse é o tema central quando discutimos os processos formativos e de ensino. Precisamos ver, afinal de contas, onde estão as escolas que podem fazer a diferença. Eu não tenho dúvida, não está dentro dos muros das universidades, nem das instituições rígidas, elas estão nas redes de encontro, no plano dos processos comunitários”.
João Arriscado Nunes, do Centro de Estudos Sociais de Coimbra (CES), agradeceu o convite e destacou como a maioria dos sistemas de saúde do mundo, na pandemia, mostrou a importância de existir e, também, a extrema vulnerabilidade dos mesmos em situações que ultrapassam a organização dessas instituições de saúde e suas formas de atuação perante situações de emergências não habituais.
Sobre o Sistema de Saúde de Portugal, Nunes explicou: “Tem 85% da população vacinada já com a segunda dose, está preparando a terceira dose. Mas, ainda assim, desde agosto, tivemos novos surtos de casos, quase 2.000 casos diários, o que anuncia que a promessa que a pandemia seria contida através da vacinação parece encontrar limites. A única resposta que existe nesse momento é a resposta antiga, vamos confinar de novo, ou parcial, criar limitações. As vacinas reforçam a resistência do corpo, impedem o avanço da doença e o aumento de mortes. Porém, não eliminam a existência do vírus”.
Ascom CNS