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SUS tem estrutura para vacinar população contra Covid-19, mas ainda não há estratégia do governo, criticam debatedores em live do CNS
Foto: João Viana/Prefeitura de Manaus
Os números do avanço da Covid-19 no Brasil indicam um cenário alarmante. Nesta quarta-feira (3/3), o país registrou 1.910 mortes por complicações da doença em 24h, de acordo com dados do monitoramento do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Ao mesmo tempo, a vacinação em massa que, aliada a outras estratégias para conter o vírus, poderia dar uma resposta com maior celeridade para a população, caminha a passos lentos. Para dialogar sobre os principais desafios para a efetivação da Campanha de Vacinação contra a Covid-19, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) reuniu especialistas na tarde desta quarta.
Até o momento do debate, 7.351.265 pessoas receberam pelo menos uma dose de vacina no país. O número equivale a 3,47% da população nacional, conforme levantamento do consórcio de veículos de imprensa. Um número muito aquém do esperado, principalmente levando em conta a expertise do país com o Programa Nacional de Imunização (PNI). A grande dificuldade apontada pelos especialistas no debate é a disponibilidade do imunizante.
“A saúde tem estrutura para vacinar, o problema é a falta de estratégia e articulação do governo federal. A vacina que chega em nosso município, nós aplicamos em 48h, somos o único país do mundo com uma estrutura para isso montada há quase 40 anos”, destacou Ary Vanazzi, prefeito de São Leopoldo (RS) e representante da Associação Brasileira de Municípios (ABM).
O sanitarista pesquisador da Fiocruz/ Brasília, ex-ministro da Saúde e ex-diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), José Agenor Álvares da Silva, reforçou a relevância e a experiência já consolidada do PNI. Criado em 1973, conta com 29 vacinas consolidadas e disponibilizadas para toda a população brasileira. “O PNI é a ‘jóia da coroa’ da saúde pública brasileira. Ele foi criado para fortalecer a vacinação na rede de serviços e controle de algumas doenças específicas como sarampo, tétano, difteria, meningite e tuberculose”.
O pesquisador fez um paralelo entre dois cenários históricos no Brasil. O primeiro, no início do século XX, o século passado, na Revolta da Vacina, quando a população se revoltou com a obrigação de se vacinar para algumas doenças que atingiam o Rio de Janeiro naquele momento, com uma mortalidade muito alta.
Em contraposição, o segundo cenário, agora neste início de século XXI, apresenta uma realidade de falta de vacinas. “Essa é uma característica que estamos vivendo, uma campanha de vacinação sem vacinas que revolta”, destacou.
O plano de imunização contra a Covid-19, elaborado pelo Ministério da Saúde, utiliza a estratégia de etapas dentre os grupos prioritários com base na quantidade de doses entregues pelos laboratórios produtores. Uma estratégia apontada pelos especialistas como tímida e pouco efetiva para que sejam alcançados os objetivos desejados. Além disso, a proposta não aponta os caminhos para a incorporação de novas vacinas, nem perspectivas para a imunização de toda a população no país.
A efetividade da vacinação
“O que estamos fazendo com essa pulverização das vacinas é um crime”, aponta a epidemiologista e ex-coordenadora Programa Nacional de Imunizações no Ministério da Saúde, Carla Domingues, referindo-se à distribuição “a conta gotas” das doses para estados e municípios. Para ela, essa falta de coordenação nacional está impactando principalmente na imunização dos grupos mais vulneráveis, que deveriam ser a prioridade.
“Não podemos buscar caminhos paralelos. Temos que cobrar um Plano Nacional, com uma diretriz nacional, para garantir a equidade do SUS [Sistema Único de Saúde] como sempre foi feito, e cobrar do governo federal que ele seja o responsável pela compra das vacinas”, destacou a epidemiologista.
O debate foi mediado pelas conselheiras nacionais de Saúde Ana Lúcia da Silva Marçal Paduello, da Associação Brasileira Superando o Lúpus, Doenças Reumáticas e Raras; e Débora Raymundo Melecchi, da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar).
A live também contou com a participação da representante do segmento de usuários/as e conselheira nacional de Saúde pela União de Negros pela Igualdade (Unegro), Conceição Silva, e da representante do segmento de trabalhadores/as e conselheira nacional de saúde, representando o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), Elaine Pelaez.
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Ascom CNS