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“225 mil óbitos por Covid-19 no Brasil poderiam ter sido evitados”, diz Pedro Hallal, em reunião do CNS
Foto: CNN
Qual é o Plano de Vacinação necessário para o Brasil? Esse foi o questionamento da reunião do Comitê de Acompanhamento à Covid-19, do Conselho Nacional de Saúde (CNS). No encontro, ocorrido nesta quinta (25/03), especialistas sugeriram melhorias ao plano, que segue inconsistente e sem uma coordenação nacional efetiva, resultando em mortes que poderiam ser evitadas.
Fernando Pigatto, presidente do CNS, lembrou que o Brasil vive uma aceleração “assustadora” tanto dos casos de Covid-19 quanto da perda de vidas decorrentes da doença. “Em declarações recentes, o diretor-geral da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou que, caso medidas de impacto no controle da pandemia não sejam adotadas urgentemente no Brasil, o país pode ser tornar uma grave ameaça sanitária mundial”, alertou.
Dados preocupantes
Pedro Hallal, doutor em Epidemiologia, ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coordenador da pesquisa Epicovid afirmou que o Brasil concentra 10,8% das mortes do mundo só nas últimas duas semanas. Do início da pandemia até agora, já são 25% as mortes no planeta. “Temos um desempenho 10 vezes pior em relação ao mundo”.
Segundo Hallal, “não existe argumento científico que justifique esses números como aleatórios. A estrutura do SUS nos daria possibilidade de sermos referência mundial no enfrentamento à Covid. 225 mil dos 300 mil óbitos poderiam ter sido evitados. Já são mais de 12 meses de negacionismo”, disse, trazendo à tona os dados que têm levantado em suas pesquisas.
Para ele, sem testagem em larga escala e rastreamento de contato, “fatores que nunca foram priorizados no Brasil”, não é possível enfrentar a pandemia. Ele também destacou como problemas a desinformação e o não cumprimento do lockdown, além do incentivo governamental para o uso de cloroquina.
Hallal defendeu que é necessário pelo menos 1,5 milhão de doses de vacina por dia para reverter a crise sanitária e evitar mais mortes. “Precisamos de uma aliança nacional e internacional pela disponibilização de doses da vacina. O Brasil é uma ameaça à saúde pública mundial, somos uma fábrica de variantes”, disse.
Gonzalo Vecina Neto, médico, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), ex-secretário municipal de Saúde de São Paulo e primeiro diretor presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), afirmou que é necessário urgente uma Política Nacional de Produção de Vacina. “Não vamos fazer a fase clínica de 12 vacinas em produção no Brasil porque não temos política”, disse, reivindicando organização e financiamento.
Pandemia e mortes por Covid-19 escancaram racismo estrutural
Rute Pina e Bianca Muniz, repórteres da Agência Pública, publicaram recentemente reportagem sobre números da vacinação. As informações apuradas a partir dos dados de 8,5 milhões de pessoas que receberam a primeira dose das vacinas contra a covid-19 mostram que, mesmo que a maioria das mortes por Covid-19 seja composta por pessoas pretas e pardas, quem mais tem sido vacinado é a população branca.
Segundo a Pública apurou até 14 de março, no Brasil, há 3,2 milhões de pessoas que se declararam brancas e que receberam a primeira dose de uma vacina contra a covid-19. Já entre pessoas negras, esse número cai para pouco mais de 1,7 milhão.
“O Brasil registra duas vezes mais vacinas em pessoas brancas que negras. Os dados mostram a dificuldade de acesso da população negra em chegar na unidade de saúde”, afirmou Rute. Como exemplo, ela disse que uma das possibilidades para esta disparidade ser evidente pode estar na falta de acesso aos postos de vacinação. “Com o drive thru de vacinação, nem todos conseguem ter acesso ao local por não ter carro”.
Encaminhamentos
O Comitê do CNS deve preparar um documento técnico sugerindo melhorias ao Plano Nacional de Vacinação contra a Covid-19, a partir dos dados e análises trazidos, que levam em consideração a diversidade e as desigualdades socioeconômicas no Brasil. O objetivo é, a partir desse parecer, subsidiar melhor as próximas ações de vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS). O tema será debatido em breve na Mesa Diretora do CNS para que haja apreciação dos encaminhamentos.
Ascom CNS