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“Não existe saúde sem meio ambiente e território protegidos”, afirma Thaynara Sipredi, em live do CNS sobre Povos Tradicionais
Foto: CNS
Os povos e comunidades tradicionais do Brasil historicamente enfrentam a negligência do Estado diante de contextos de vulnerabilidade. São indígenas, quilombolas, ciganos, seringueiros, extrativistas, entre outras dezenas de identidades originárias que são duramente impactadas pela pandemia de Covid-19 e pela destruição ambiental. O Conselho Nacional de Saúde (CNS) realizou na quinta-feira (19/11) uma live com especialistas e ativistas sociais para dialogar sobre essa pauta como parte da “Ocupação Preta: Rodas Virtuais sobre Equidade e Saúde”.
A luta dos povos originários e tradicionais no Brasil enfrenta desafios como o aumento do desmatamento, das invasões de garimpeiros ilegais em seus territórios, a paralisação das demarcações pelo governo federal e o avanço da pandemia. Esse contexto impede a segurança e a qualidade de vida dessas populações. “Não existe saúde sem meio ambiente e sem que nosso território esteja protegido”, destacou a representante da Articulação Brasileira dos Indígenas Psicólogos (as) (Abipsi).
Dados publicados pelo Instituto Socioambiental (ISA) em setembro apontam que, entre março e julho de 2020, houve aumento de 827% no desmatamento na Terra Indígena (TI) Trincheira-Bacajá (PA), 420% na região Kayapó e 238% nas terras Munduruku. Outras quatro áreas, as TI’s TIs Karipuna e Uru-Eu-Wau-Wau (RO), Araribóia (MA) e Yanomami (AM/RR), somam-se ao grupo das sete regiões mais desmatadas no período da pandemia.
São contabilizadas 2,4 mil hectares de florestas derrubadas, o equivalente a 15 vezes o Parque do Ibirapuera, em São Paulo, conforme divulgado pela pesquisa. “Sabemos como a Amazônia e o Pantanal estão sofrendo com as queimadas e, mesmo com pressão internacional por respostas, a conjuntura política nacional não está dando retorno”, ressaltou a conselheira nacional de Saúde, Michelle Seixas, mediadora da Live.
A defesa dos povos originários do Brasil
A história mostra que o direito à terra está diretamente conectado à questão racial. O racismo estrutural concebe relações de poder que tratam o direito à terra como um privilégio.”A maior luta que a gente enfrenta hoje é sobreviver. A realidade brasileira é dura e perversa”, a fala é psicólogo ambiental, Aurelino Oliveira. Para Aureliano, o contexto atual é de desmontes de conquistas históricas, por isso, é fundamental que a sociedade zele para que sejam asseguradas as políticas já existentes.
Para a representante da Associação Internacional Maylê Sara Kalí, Anne Kellen, é preciso um outro olhar sobre essas populações. “Nós não somos minoria, somos muitos povos. Somos povo tradicional, com orgulho da nossa origem. Quando a gente se junta, a gente se fortalece”.
A representante da Casa das Pretas (MT), Paty Wolff, ressalta que é fundamental que todas as populações e povos tradicionais se unam neste momento e que a luta antirracista atravesse todas as instâncias. “Que possamos estar cada vez mais representados nos espaços de poder, onde são tomadas às decisões sobre a nossa vida e a nossa sobrevivência”.
As próximas edições da Ocupação Preta contarão com debates sobre Saúde e Participação Política (26/11); e Racismo, Desigualdades Sociais e as Repercussões (3/12). O evento é uma iniciativa da Comissão Intersetorial de Promoção das Políticas de Equidade (Cippe/CNS). A Comissão acompanha a política de promoção da equidade em saúde, compreendendo a saúde das populações Negra; Lésbica, Gay, Bissexual, Travesti e Transexual (LGBT); em Situação de Rua; do Campo, das Águas e Florestas; e dos Povos e Comunidades Tradicionais.
Ascom CNS