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“Não há pandemia que se solucione sem Atenção Primária em Saúde”, diz Paulette Cavalcanti, da Fiocruz/PE
Foto: divulgação Prefeitura Afuá/P
A pandemia do novo coronavírus no Brasil expôs inúmeros desafios para o Sistema Único de Saúde (SUS), que já lutava contra um processo de desmonte. Principalmente pelo desfinanciamento, ampliado pela Emenda Constitucional 95/2016, que congelou os investimentos na saúde por 20 anos. A Atenção Básica é um destes desafios. Para falar sobre o papel dela no enfrentamento à Covid-19, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) promoveu um debate ao vivo, na quarta-feira (1/07), transmitido pelas redes sociais.
A Atenção Básica vive um contexto contraditório. Ao mesmo tempo que tem um papel estratégico no enfrentamento à crise sanitária, é invisibilizada frente a um planejamento focado exclusivamente nos serviços hospitalares, no número de leitos gerais e de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Além disso, em 2017, a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) passou por mudanças feitas pelo Ministério da Saúde sem levar em consideração as críticas do controle social.
De acordo com Pauletti Cavalcanti, pesquisadora da Fiocruz/PE, “não há pandemia que se solucione sem Atenção Primária, nem sem educação em Saúde”. Isso porque é fundamental levar o conhecimento para a população sobre a doença e as formas de controlá-la, algo que deveria ser trabalhado junto ao primeiro nível de atenção à saúde
Um exemplo, apresentado pela pesquisadora, foi a epidemia de cólera, no início dos anos 1990. “Foi fundamentalmente controlada pelos Agentes Comunitários de Saúde, ensinando a população a lavar as mãos, utilizar as instalações sanitárias de forma adequada e ter os cuidados necessários”, destacou Paulette, que também é professora da Universidade Estadual de Pernambuco (UPE).
Sem apoio na linha de frente
A enfermeira da prefeitura de Mossoró (RN), educadora popular e coordenadora do Instituto de Ensino, Pesquisa e Extensão do Hospital Maternidade Almeida Castro (Iepe/HMAC), Lorrainy Solano, criticou a falta de importância dada pelo Estado para a Atenção Básica como linha de frente no combate à pandemia.
“Por mais que tudo isso aconteça, o que vejo é uma forte procura pelo meu trabalho e da minha equipe. Em hora nenhuma deixaram de nos procurar e, em hora nenhuma, deixamos de trabalhar”, destacou Lorrainy. A pesquisadora falou ainda que o apoio que não vem do Estado, está vindo das lideranças e comunidades locais.
Outra questão importante abordada na Live foi a segurança dos profissionais, com treinamentos e a disponibilização de testes. “O país o tem maior número de mortos entre profissionais de Saúde. Os trabalhadores da Atenção Básica estão desorientados”, afirmou a conselheira representante da Federação Nacional dos Enfermeiros, Shirley Morales, mediadora da conversa.
Segundo ela, muitos trabalhadores da área têm se sentido amedrontados, desorientados e, de certa forma, desvalorizados por não terem sido incluídos na organização dos processos de construção de redes de cuidados, capazes de minimizar os efeitos da pandemia.
Outras participações e perguntas
Também participaram da atividade, a secretária de Saúde de Ubiratã (PR) e vice-presidenta do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Cristiane Pantaleão, representando do segmento de gestores(as)prestadores(as); o representante da Federação Nacional Associações Diabéticos (Fenad), Luiz Medeiros, pelo o segmento de usuários(as); e a conselheira nacional de saúde pela Associação Brasileira Rede Unida, Sueli Barrios, representando o segmento de trabalhadores/as.
Confira algumas manifestações
“É nos municípios que a Atenção Básica acontece. Temos ampliado cada vez mais essa discussão. Sabemos dos desafios e que temos muito a melhorar, mas é preciso reconhecer avanços e a importância que temos dado a Atenção Básica”.
Cristiane Pantaleão, Conasems
“Como está o monitoramento diante das pessoas com doenças crônicas não transmissíveis em meio à pandemia? A Atenção Primária tem também responsabilidade de atender essas pessoas”.
Luiz Medeiros, Fenad
Penso que neste momento que três eixos de atuação são fundamentais: atuar fortemente em ações de vigilância em saúde nos territórios; apoiar grupos vulneráveis pela situação de saúde e ou social; e dar continuidade aos cuidados de rotina da Atenção Básica”.
Sueli Barrios, CNS/Rede Unida
Ascom CNS