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“Devo minha vida e meus sonhos ao SUS”, diz usuária que acessa medicamento de alto custo no sistema público
Fotos: CNS
No mês de abril, diversas instituições no mundo comemoram o Dia Mundial da Saúde, celebrado dia 7. A data, estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), convoca todos os países e exaltarem as conquistas e encararem os desafios no desenvolvimento de políticas públicas de saúde. O Brasil se destaca entre as nações. De todos os países com mais de 100 milhões de habitantes, é o único que possui um sistema universal e gratuito, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Muitas vidas são salvas pelos inúmeros tratamentos que o SUS oferece.
Assim como a vida Ana Liane Oliveira, jovem de 28 anos. A farmacêutica e estudante de Saúde Pública no mestrado da Fundação Oswaldo Fiocruz (Fiocruz) convive com uma artrite reumatoide que chegava a impedi-la de dormir por conta da intensidade da dor. “Quando você sente dor, você só quer sobreviver, fica impossível poder sonhar”, relata. A jovem se trata no Sistema Único de Saúde (SUS) há três anos. Antes disso, ela fazia um tratamento particular, onde gastava R$ 120 por mês com medicação.
Em 2017, quando se mudou de Belo Horizonte (MG) para o Rio de Janeiro (RJ), os sintomas agravaram. “Descobri um médico especialista que cobrava R$ 600 por consulta. Eu não tinha dinheiro nem para a consulta, imagine para a medicação que seria necessária”. Primeiro ela foi na Clínica da Família, próximo de sua residência. “Fiz todos os exames. Em dois meses, eu já estava com o tratamento específico no Ambulatório de Artrite Reumatoide no Hospital Federal de Servidores do Estado”.
Porém, as dores, o cansaço e a fadiga agravaram. “Comecei a apresentar um quadro de leucopenia. Fiquei vulnerável na parte imunológica”, conta. Ana Liane estava tomando Leflunomida, que custaria para seu bolso entre R$ 300 e R$ 500, caso não fosse fornecido no SUS. Como a situação piorou, foi necessário iniciar o tratamento com Etanercepte, um medicamento biológico que chega a custar entre R$ 7 mil e R$ 9 mil por mês. “Agora a minha vida mudou. Nem se eu ganhasse 10 mil por mês eu poderia pagar a medicação. Devo minha vida e meus sonhos ao SUS. Enquanto cidadãos, temos que defendê-lo”, diz, emocionada.
Em 2018, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) realizou o 8º Simpósio Nacional de Ciência Tecnologia e Assistência Farmacêutica em parceria com a Escola Nacional de Farmacêuticos (Enaf), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Opas. Foram dez encontros em todas as regiões brasileiras, que uniram acadêmicos, sociedade civil e gestores para debater um conjunto de propostas direcionadas à área no SUS. Ana Liane era uma das participantes na edição preparatória no Rio de Janeiro.
As propostas feitas por ela e os mais de 600 participantes agora compõem uma carta que será discutida na 16ª Conferência Nacional de Saúde (8ª+8), marcada para ocorrer de 4 a 7 de agosto, em Brasília. “O SUS é um direito constitucional e um grande desafio ao mesmo tempo. Há problemas. Passo por dificuldades de fila, tenho que chegar cedo. Não dá pra marcar consulta quando eu quero. Mas dentre todos os desafios, o SUS tem uma estrutura que é brilhante e muito eficiente. Não podemos ter subfinanciamento na saúde”.
Quando a jovem farmacêutica fala de subfinanciamento, ela se refere à Emenda Constitucional 95, aprovada por deputados e senadores em 2016. A mudança na nossa Constituição de 1988 congelou o orçamento para a saúde pública até 2036. São duas décadas que devem gerar o prejuízo de R$ 400 bilhões ao SUS. Prejuízo este que afeta diretamente a vida das pessoas no Brasil.
“Os aspectos econômicos não podem sobrepor os aspectos humanitários”, disse Fernando Pigatto, presidente do CNS, no início do mês, durante o lançamento da 16ª Conferência no Congresso Nacional. Na ocasião, estava sendo comemorado o Dia Mundial da Saúde, que existe também para lembrar que a EC 95 não pode gerar desabastecimento de medicamento, tampouco impedir Liane de continuar sonhando e lutando por sua vida.
Fonte: Conselho Nacional de Saúde