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Ministério da Saúde incorpora novo medicamento para fibrose cística no SUS
O medicamento Trikafta foi incorporado no SUS para o tratamento de pacientes com fibrose cística no país. A iniciativa é um marco para os que convivem com a doença por trazer benefícios clínicos importantes, melhora da qualidade de vida, e também pela possibilidade da retirada dos pacientes da fila do transplante de pulmão. Uma cerimônia realizada na ultima terça-feira (5), Dia Nacional de Conscientização e Divulgação da Fibrose Cística, marcou o ato de assinatura da portaria de incorporação pelo Ministério da Saúde (MS). "A incorporação do Trikafta tem a ver com essa possibilidade, de dar vida e qualidade de vida aos pacientes", afirmou a ministra da Saúde, Nísia Trindade.
O depoimento da paciente Laura Sofia de Souza, diagnosticada com fibrose cística quando tinha pouco mais de 1 ano de vida, é a prova de que o medicamento pode reduzir internações hospitalares e dar nova perspectiva de vida para quem tem a doença. Hoje, aos 18 anos, ela conta sobre a rotina depois do uso com o Trikafta, desde maio. "Antes, eu usava oxigênio por 24 horas, me sentia incapaz de fazer qualquer coisa, sem esperança de viver. Eu vivia internada, nao saía com os meus amigos, qualquer esforço físico eu cansava", disse. "Eu já estava entrando para a fila do transplante. Com uma semana de uso do Trikafta tudo mudou."
"Agora, eu posso realizar o meu sonho de estudar, viajar e trabalhar", comemorou a jovem.
A estimativa é que cerca de 1,7 mil pessoas sejam beneficiadas pela incorporação do medicamento no SUS. "Quando nós mergulhamos nos problemas e vemos as melhores soluções para a saúde, do ponto de vista dos pacientes e do MS, vemos que também são as melhores para a sociedade", concluiu a ministra.
O secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde, Carlos Gadelha, destacou que essa é uma incorporação responsável e monitorada. "No documento haverá monitoramento clínico e econômico nesse processo." O medicamento é indicado para pacientes com 6 anos de idade ou mais que tenham pelo menos uma mutação F508del no gene CFTR, a mais comum entre os que vivem com a doença. A incorporação foi recomendada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). "Além do ganho humano, há um ganho orçamentário indireto. A partir da oferta de tratamento eficaz, esperamos que haja uma redução do número de internações, além da quantidade de medicações e tratamentos complementares utilizados, o que reduz os custos ao longo de toda a cadeia de atendimento", explicou.
Gadelha reforçou o papel da Conitec na avaliação e recomendação do Trikafta para pacientes com a doença e que a incorporação do medicamento no SUS garantirá acesso aos pacientes elegíveis. "Não tem sistema universal que não tenha uma instância de incorporação tecnológica. A gente tem que desjudicializar o SUS. E a nossa instância decisiva, a nossa promessa de conseguir avançar, é que a gente tenha uma Conitec com decisões que sejam aceitas até mesmo no âmbito judiciário", pontuou.
O SUS conta com uma rede estruturada que permite rastreamento, diagnóstico precoce, monitoramento e assistência aos pacientes, sendo 75% deles menores de 18 anos de idade, dada a mortalidade precoce dos acometidos pela doença no Brasil. A fibrose cística é considerada rara com uma prevalência estimada em 1 a cada 10 mil nascidos vivos no país. Por se tratar de uma condição genética, acompanha o paciente desde o nascimento, não podendo ser adquirida ao longo da vida. O Teste do Pezinho é o responsável pelo diagnóstico precoce e deve ser feito entre o terceiro e o quinto dia após o nascimento da criança.
Cerca de 4,3 mil pessoas com fibrose cística recebem tratamento medicamentoso pelo SUS atualmente.
"Em um país em que o SUS tem que gerir, tem que prover e mostrar eficiência, a maneira como a incorporação do Trikafta se deu, eu acho que é um exemplo", comentou a pesquisadora e médica pneumologista Margareth Pretti Dalcolmo, diretora da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), uma das convidadas para a cerimônia. "O Brasil dá um exemplo extraordinário nessa negociação, que será usado por outras realidades da América Latina, por uma negociacao bem feita, bem conduzida e que seguramente vai permitir que tenhamos condições melhores, de modo a cobrir um número maior de pacientes."
A diretora executiva do Unidos pela Vida – Instituto Brasileiro de Atenção à Fibrose Cística, Verônica Stasiak, também participou da cerimônia. "Este é um momento histórico. É um dia raro. E mudará significativamente o que denonimamos como desfecho, no caso, a nossa própria vida", comemorou. Verônica também é paciente, uma das fundadoras do Instituto. "É uma vitória dos familiares e amigos que sofrem muito a cada complicação vivida pela fibrose cística e que não são nada fáceis. São rotinas duramente impactadas, mas que agora recebem com alegria esse novo sopro de vida", disse, emocionada.
A fibrose cística é uma doença genética grave, caracterizada clinicamente pelo excesso de produção de muco espesso no pulmão, o que provoca quadros frequentes de inflamação brônquica e infecção pulmonar, com comprometimento progressivo da função dos pulmões. Essa secreção também pode ocasionar diminuição de função do pâncreas e outros órgãos do trato digestivo. O tratamento padrão, até então, é baseado no controle dos sintomas da doença.