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Conarq integra rede de acervos do IAB
As contribuições do Conselho Nacional de Arquivos (Conarq), no âmbito da política nacional de arquivos, são muitas e continuam em expansão pelo Brasil. Por sua importância no estabelecimento de diretrizes para atividades de descrição de acervos arquivísticos, o conselho recebeu um convite, por meio de carta aberta, do Departamento de São Paulo do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-SP), para compor uma Rede de Acervos de Arquitetura e Urbanismo.
O convite do IAB-SP ressalta a necessidade da construção imediata de uma política de incentivo e valorização de acervos de arquitetura e urbanismo no país.
A Rede de Acervos Arquitetura e Urbanismo é uma iniciativa que objetiva compartilhar conhecimento sobre políticas de acervos, incentivar novas pesquisas e leituras, discutir a incorporação de novos acervos e contribuir para a melhoria das técnicas de preservação, sempre se guiando por preceitos éticos e normativos de conservação, organização e acesso público à informação.
Produzidos em atenção à determinação legal para o início de qualquer atividade construtiva na cidade, os documentos de arquitetura podem ser avaliados e classificados nas instituições arquivísticas como de guarda permanente. Esses documentos são consultados não apenas pelas razões para as quais foram produzidos, mas por outras que os tornam importante fonte de pesquisa a ser preservada e disponibilizada.
Em cumprimento ao seu papel na comunidade arquivística, e tendo a consciência da necessidade de dar apoio ao IAB, o Conarq aceitou o convite para integrar a rede de acervos, estreitando os laços entre as duas instituições, com o objetivo de melhorar o acesso e preservação dos acervos arquivísticos que registram a história da arquitetura brasileira.
Para compor o Conselho Gestor e o Comitê Técnico da Rede de Acervos de Arquitetura e Urbanismo, o Conarq indicou as conselheiras representantes dos arquivos públicos municipais: Monica Cristina Brunini Frandi Ferreira, como titular, e Nadia Csoknyai Del Monte Koji, como suplente nesses colegiados. Em depoimento para esta matéria, Monica e Nadia apontam que os documentos de arquitetura registram as solicitações oficiais em um campo amplo, que vai da produção excepcional de projetos de arquitetos consagrados até a arquitetura banal e anônima. Segundo elas, é possível resgatar, nesses documentos, outras questões que levam a aspectos, comportamentos e valores de uma sociedade diferente da atual. Dentre essas questões, destacam:
- a organização da estrutura administrativa municipal pós-república e o fluxo documental na esfera pública, a partir das anotações e carimbos ali registrados;
- o cruzamento das informações contidas no documento com outras fontes de caráter oficial, em atenção às recomendações das legislações sanitária estadual e edilícia municipal;
- os agentes envolvidos na atividade edificativa na cidade, nas esferas pública e privada, sejam funcionários qualificados para analisar os documentos e fazer a fiscalização do cumprimento da normativa, sejam proprietários e técnicos responsáveis pelos projetos arquitetônicos e pela construção civil;
- o processo de legalização da profissão, com o protagonismo inicial de construtores, mestres de obras, “práticos licenciados” e, posteriormente, de engenheiros e arquitetos diplomados;
- O aprimoramento na representação dos projetos arquitetônicos e na utilização da linguagem gráfica da arquitetura, em que simples esquemas feitos à mão livre e sem escala passam a dar lugar aos desenhos técnicos detalhados e produzidos com instrumental específico;
- a sofisticação da tecnologia construtiva e a evolução do modo de vida, levando em conta a inicial padronização das plantas arquitetônicas e a singeleza na constituição dos espaços em termos de materiais de construção e de acabamento, e, com o passar do tempo, a diversidade das técnicas e o requinte dos interiores; e, ainda,
- aspectos territoriais e socioeconômicos do processo de ocupação, de consolidação e de expansão da área urbanizada, identificando a localização das solicitações para a construção, o padrão fundiário, as tipologias edilícias e o padrão construtivo.
As conselheiras, por fim, ainda atentam que, mesmo admitido o caráter estratégico e vital dos arquivos para o bom andamento das atividades rotineiras da administração pública, ainda há falta de preocupação da maioria dos municípios em conservar de maneira responsável seu acervo documental, que contempla o conjunto de documentos produzidos, recebidos e acumulados pelos órgãos dos poderes executivo e legislativo locais, em especial, os documentos de arquitetura.
Deste modo, agir no sentido da preservação desses registros e do acesso às informações neles contidas é compreender que esses documentos, quando salvaguardados em segurança e com responsabilidade técnica, permitem o conhecimento para além da data de sua produção, uma vez que as reinterpretações passam a ser realizadas de acordo com as motivações de cada tempo.
Foto de capa: Laboratório de digitalização do Arquivo Público e Histórico do Município de Rio Claro (APHRC). Detalhe da mesa com tampo de vidro iluminada com refletores para fotografar e produzir a imagem digital dos documentos.