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Produção científica de grupos de síntese é mais influente
Os artigos produzidos em grupos de trabalho de centros de sínteses são cinco vezes mais citados eimpulsionam o índice que quantifica a produtividade e impacto dos pesquisadores (chamado de índice H). Também são mais interdisciplinares e, portanto, influenciam mais a produção de conhecimento. Este é o resultado relatado pelos diretores do centro de síntese do conhecimento, Diane Srivastava, do Canadian Institute of Ecology and Evolution (CIEE) no Canadá, e Ben Halpern, do National Center for Ecological Analysis and Synthesis (NCEAS) nos EUA. Ambos foram convidados a relatar suas experiências a frentes destas instituições no evento Synthesis Science – Trends and Perspectives , organizado pelo Centro de Síntese de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (SinBiose/CNPq) e pelo Programa Biota/Fapesp em outubro. O evento teve audiência de 200 participantes do Brasil e do exterior e pode ser visto na íntegra no canal do youtube da FAPESP .
As sínteses do conhecimento não são revisões da literatura, como explicou Srivastava “síntese tem a criação de novas questões, de novas formas de pensar uma temática e uma área de pesquisa”. Halpern enfatizou que é mais importante destacar a visão de que as sínteses pretendem trazer por meio da diversidade de pessoas, ideias, dados e perspectivas a fim de responder a uma questão de relevância para a sociedade.
Neste sentido, Evaldo Vilela, presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pontuou que “o SinBiose tem um pioneirismo em trazer esta discussão para o Brasil e ao dialogar com a comunidade nacional e internacional no processo de desenvolver um modelo brasileiro de centro de síntese”, pontuou. O centro foi criado em 2019 e é o único do hemisfério Sul. Ele está ligado ao CNPq e tem apoio de fundações de apoio à pesquisa estaduais.
“A iniciativa dos centros de síntese não é nova no mundo, mas é nova no Brasil, e temos muito a aprender”, destacou o Luiz Eugênio de Mello, diretor Científico da Fapesp, que também esteve presente na abertura do evento sobre centros de síntese.
Sinergia, síntese e relevância
Para elaborar estes documentos, os Centros de Síntese usualmente se organizam em grupos de trabalho, ou grupos de síntese, que reúnem especialistas com diferentes formações, experiência, gênero e origens. Segundo os diretores dos centros, a diversidade de pessoas ajuda a promover o avanço da ciência e a sua aplicação na sociedade. O objetivo nestes grupos é trabalhar de forma focada e colaborativa para encontrar, na interconexão de conceitos, de dados e de perspectivas, as respostas para questões relevantes seja para a ciência ou para o uso sustentável dos recursos do planeta. Segundo Srivastava, os elementos-chave de um grupo de trabalho são a sinergia, síntese e relevância da questão. Para isso criam-se as condições para que o grupo fique submerso no tema, analisando conceitos, dados e ideias.
Estas circunstâncias favorecem para que ocorra a serendipidade, ou seja, a emergência de descobertas ao acaso. “Não se pode planejar a serendipidade, mas podem-se criar as circunstâncias certas para que isso ocorra”, explica Srivastava.
De acordo com Halrpern, a maioria das grandes metanálises da pesquisa sobre as funções do sistema de biodiversidade veio de grupos de trabalho de centros de síntese. Um exemplo é o artigo clássico sobre o valor global dos serviços ecossistêmicos de Costanza e colegas que foi concebido em um dos grupos de síntese do National Center for Ecological Analysis and Synthesis (NCEAS/USA). Na ocasião, os autores calcularam o valor global dos serviços ecossistêmicos em 18 trilhões por ano. O trabalho foi muito controverso e muito influente, gerando toda uma subdisciplina de pesquisa em torno da avaliação de serviços ecossistêmicos. Desde sua publicação em 1997, o artigo acumula mais de 143 mil acessos e 9,6 mil citações.
Outras contribuições de grupos de trabalho podem se dar por meio de integração de ideias e visando a criação de modelos de análise. No Canada's national synthesis center for ecology and evolution (CIEE), por exemplo, há um grupo que desenvolveu um esquema de modelo de análise para os efeitos da temperatura nas interações entre os seres vivos que convivem num mesmo ecossistema.
Outra forma de abordar questões por meio de grupos de trabalho é construir cenários de futuro para dirigir alguma tomada de decisão no presente para entender para onde estamos indo. Um exemplo são os cenários do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) que apoiam a elaboração de políticas públicas por todo o mundo.
“Nós vemos que os artigos de síntese são mais diversos, o que não é uma surpresa porque o design de uma síntese requer diversidade de participantes, dados e perspectivas que são utilizados na pesquisa”, pontua Halpern.
E este esforço traz impactos na dimensão científica. Os artigos de grupos de síntese são em média, cinco vezes mais citados do que os artigos convencionais, conforme relataram os dirigentes de centro de síntese. Halpern apresentou uma análise de impacto dos artigos produzidos no NCEAS entre 1997 a 2018 apontou que 2,3 mil artigos de grupo de síntese tiveram taxas de citação cinco vezes mais altas e impactou o índice H dos autores. São, portanto, artigos mais influentes.
Outra característica dos artigos de síntese é a intersecção entre temas, decorrente da natureza interdisciplinar destes trabalhos. A visualização da rede de palavras-chave ilustra que os assuntos que ocorreram concomitantemente no mesmo artigo. Os temas estão ligados por linhas e as cores representam áreas do conhecimento. A representação mostra como a síntese dialoga com diferentes ideias.
Abaixo algumas dicas dos palestrantes para conduzir grupos de síntese.
Cinco dicas para a formação de grupos de síntese
Relevância: Definir uma questão cientificamente ou socialmente relevante que motive a criação do grupo de síntese
Diversidade: de participantes em termos de formação, origens, gênero e experiência. Isto ajuda a promover a o avanço da ciência e a sua aplicação na sociedade
Facilitação: é importante assegurar a colaboração de todos, para isso, é importante contar com a figura de um facilitador e convidar pessoas abertas à colaboração, de modo que ninguém se sinta sobrecarregado.
Descontração e Socialização: Valorizar os momentos de descontração e socialização, como coffee breaks , refeições conjuntas, atividades de lazer. A criação de vínculo entre os participantes ajuda a estabelecer confiança e entrega para o compartilhamento de ideias.
Modelos Híbridos de encontro : Modelos que combinam encontros online com presenciais. Os encontros presenciais são preferíveis, pois favorecem a integração do grupo, entretanto devem seguir as normas de restrição sanitária de cada local, o que ainda é muito limitante. Os encontros remotos devem permanecer nos intervalos entre os encontros presenciais.
Período | Atividade |
Manhã |
Plenária para apresentação e divisão em subgrupos; Intervalo para café Início do trabalho em grupo (ex: 1 – conceitual; 2 – dados; 3 – cenário) |
Almoço | Almoço conjunto |
Tarde |
Trabalho em grupo(ex:1 – conceitual; 2 – dados; 3 – cenário) Intervalo para café Trabalho em grupo(ex:1 – conceitual; 2 – dados; 3 – cenário) |
Jantar | Jantar em grupo |