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Maior banco de dados de peixes recifais do Atlântico e Pacífico Leste de acesso livre
Um banco de dados de 2,2 mil espécies de peixes recifais do oceano Atlântico e da face leste do Pacífico (que banha as Américas) está disponível para consulta. Além dos nomes das espécies, o repositório conta com informações sobre a descrição da espécie, comportamento, ecologia, distribuição e conservação. O levantamento, a organização e a análise das informações científicas foram realizados pelos cientistas do projeto ReefSyn do Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (SinBiose/Cnpq) e foi publicado na revista Ecology . Esta é uma etapa fundamental para identificar lacunas de conhecimento e avançar com novas questões na ciência e na gestão da conservação destes ecossistemas.
Os peixes de recife constituem um dos grupos de vertebrados mais diversos da Terra. Até o momento, os cientistas já catalogaram cerca de 7 mil espécies distribuídas ao redor do globo. Entretanto, essa riqueza não é distribuída uniformemente. O oceano Índico juntamente com a face oeste do oceano Pacífico (Indonésia e Austrália) abrigam 70% das espécies já descritas, representando um hotspot de biodiversidade marinha. Já os recifes dos oceanos Atlântico e Pacífico Oriental, embora comparativamente com menos diversidade, abrigam espécies únicas e de maior porte. Esta diferença regional de diversidade de espécies é atribuída ao isolamento físico que perdurou mais de 3,000 milhões de anos.
“Há muitas iniciativas de levantamentos para o Oceano Indo-Pacífico, por outro lado as informações para os oceanos Atlântico e Pacífico Ocidental estavam muito esparsas”, explica Juan Quimbayo, ecólogo marinho do projeto ReefSyn e autor da base de dados. Os pesquisadores revisaram e compilaram 104 fontes de informação produzidas entre 1982 e 2020, incluindo artigos científicos, teses, dissertações e relatórios técnicos. O levantamento resultou em um total de 2.198 espécies pertencentes a 146 famílias e 655 gêneros de peixes, dos quais 1.458 ocorrem nos recifes do Atlântico, 829 no Pacífico das Américas e 89 peixes ocorrem em ambas as regiões marinhas.
Cada cor no mapa representa uma província marinha e o número total de espécies encontradas em cada reino marinho .
A base de dados detalha 21 características sobre os peixes recifais, tais como a descrição do formato e tamanho do peixe, se tem atividade diária ou noturna, dieta, profundidade de ocorrência, temperatura da água, estratégia de desova, distribuição, vulnerabilidade, grau de conservação e preço de mercado global entre outras.
Um aspecto que já é possível visualizar no levantamento, segundo Quimbayo, é a presença de espécies exóticas registradas até 2021, ou seja, espécies que não são naturalmente oriundas daquele local e que podem ter potencial invasor. Espécies exóticas invasoras representam uma ameaça para os ecossistemas, pois disputam os mesmos recursos o que pode resultar na eliminação das espécies locais. A invasão biológica é considerada uma das cinco maiores causas de extinção de espécies e, no caso dos ambientes marinhos, esta pressão é intensificada pelo transporte marítimo.
Observando os dados catalogados para o Brasil, Quimbayo destaca que a característica marcante da fauna de peixes recifais do Brasil é a grande diversidade taxonômica e funcional. Parte destes dados são resultados da Rede Nacional de Pesquisa em Biodiversidade Marinha (SISBIOTA-Mar/CNPq) que impulsionou a pesquisa integrada na zona costeira e marinha do país. Entretanto, ainda há lacunas regionais a serem preenchidas no país, “temos poucas informações para algumas regiões, como na foz do Amazonas”, complementa Quimbayo.
A intenção dos pesquisadores agora é expandir a base de dados em duas frentes. A primeira é completar a base de dados com informações faltantes “é preciso incluir espécies pequenas, espécies de peixes que se camuflam do fundo do mar”, explica o pesquisador. E a segunda é oferecer as bases para ampliar e integrar a ictiofauna de outros ambientes, como de praias arenosas e manguezais, de modo a conhecer o sistema marinho como um todo e aprimorar as sínteses científicas.
“Este banco de dados de peixes de recife oferece a oportunidade de explorar novas questões ecológicas e evolutivas em diferentes escalas e fornece ferramentas para a conservação de espécies”, concluem os autores.
Para saber mais:
Quimbayo, J. P., F. C. Silva, T. C. Mendes, D. S. Ferrari, S. L. Danielski, M. G. Bender, V. Parravicini, M. Kulbicki, and S. R. Floeter. 2021. Life-history traits, geographical range, and conservation aspects of reef fishes from the Atlantic and Eastern Pacific . Ecology 102(5):e03298. 10.1002/ecy.3298
Material suplementar:
Download da Base de dados (.csv): https://zenodo.org/record/4455016#.YVvnqn1v9hE