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Reuniões virtuais não podem substituir as colaborações presenciais, afirmam dirigentes de centros de síntese
A ciência de síntese tem como princípio as interações entre dados, conhecimentos, pessoas e ideias. A pandemia de COVID-19 obrigou boa parte dos cientistas, incluindo os de centros de síntese, a migrarem para interações no formato virtual. Dirigentes de centros de síntese de seis países - incluindo o Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (SinBiose/Cnpq), no Brasil - fizeram um balanço entre o formato virtual e presencial e defendem que é preciso retomar gradualmente os encontros presenciais considerando um modelo híbrido como parte deste processo no qual o virtual e o presencial se complementam. A carta assinada por representantes de oito centros de sínteses foi publicada na revista Nature Ecology and Evolution dia 13 de julho.
Um ponto forte do modelo de produção científica baseada em ciência de síntese é a capacidade de reunir grupos de especialistas para trazer novas soluções para velhos problemas. Isto normalmente ocorre por meio de processos de imersão em tópicos específicos, que significam muitas vezes encontros presenciais que podem durar muitas horas ou dias consecutivos. Além do aprofundamento num determinado tema de interesse, esta interação possibilita discussões não-estruturadas e fluidas que resultam em transbordamento de novas ideias e insights criativos.
Estes oito centros de síntese migraram seus 68 grupos de trabalho para o formato virtual desde 2020. Entretanto, conforme constataram os autores do texto, “descobrimos que as sessões virtuais perdem eficácia após algumas horas, à medida que os participantes ficam cansados de olhar para uma tela ou de fazer malabarismos com as demandas domésticas”. Para o grupo de dirigentes, as reuniões virtuais são eficientes para tarefas curtas e bem delineadas.
Os autores defendem a necessidade de uma transição reversa e gradual para a colaboração presencial, com a adoção de modelos híbridos como uma forma de transição à medida em que as normas de saúde pública relaxem e as viagens se tornem possíveis novamente. Mas isso não implicaria em descartar totalmente o modelo híbrido já que o uso de ferramentas virtuais pode alavancar a produtividade, inclusão ou alcance. “Nada substitui as reuniões presenciais para realmente haver trocas em grupos interdisciplinares colaborativos. Porém modelos híbridos são opções de transição e podem perdurar mesmo depois que nós tivermos liberdade para voltar ao modelo presencial”, explica Jean Paul Metzger, que assina o texto ao lado de Valério Pillar como representantes do SinBiose.
Outra oportunidade vislumbrada pelos autores no desenho do modelo híbrido é a propagação e fortalecimento de hubs dos centros de síntese, ou seja, pólos regionais de interação que poderiam estimular a cooperação internacional e melhorar as condições de financiamento, além propiciar a redução das emissões de carbono por deslocamentos aéreos.
Não há dúvida que as colaborações virtuais possibilitam a participação de um número maior de participantes e favorece a diversidade - outro aspecto valioso prezado pelos centros de síntese - como a inclusão de participantes com limitações para viajar, seja por razões profissionais (falta de tempo) ou pessoais (mobilidade limitada, desigualdades de gênero, por exemplo). Neste sentido, este formato pode ser útil nos workshops de geração de ideias (ou de "catálise") em estágios de desenvolvimento de um projeto. No entanto, como frisam os autores, as interações virtuais não devem ser vistas como uma forma de reduzir custos. Até, porque, criar um ambiente produtivo entre os mundos físico e virtual muitas vezes implica na construção de confiança e, para isso, os centros de síntese precisam investir em ambientes e facilitadores qualificados para que as reuniões de catálise virtual sejam eficazes.
Embora as reuniões do grupo de trabalho sejam melhor realizadas pessoalmente, intercalar essas reuniões com interações virtuais ajuda a manter os projetos em andamento. Alguns desses modelos híbridos já são incentivados por centros de síntese, e os autores prevêem um uso mais difundido, dado o maior conforto com a videoconferência nas esferas acadêmicas e não-acadêmicas. “A adoção de tais modelos híbridos pode ajudar os centros de síntese e organizações semelhantes a serem ainda mais impactantes e relevantes do que antes da pandemia”, analisam os autores.
Participaram desta correspondência a Nature Ecology and Evolution dirigentes do Canadian Institute of Ecology and Evolution, Biodiversity Research Centre (Canadá), German Centre for Integrative Biodiversity Research - iDiv (Alemanha), National Institute for Mathematical and Biological Synthesis - NIMBioS (EUA), Centro de Síntese sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (SinBiose/Cnpq), John Wesley Powell Center for Analysis and Synthesis (EUA), Centre for the Synthesis and Analysis of Biodiversity - CESAB (França) e Centre for Biological Diversity (Reino Unido).
Leia a publicação original
Srivastava, D.S., Winter, M., Gross, L.J. et al. Maintaining momentum for collaborative working groups in a post-pandemic world. Nat Ecol Evol (2021). https://doi.org/10.1038/s41559-021-01521-0