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A integração entre Biodiversidade e Clima traz novos contornos à discussão da Agenda da Biodiversidade Pós 2020
A cada dia, cientistas encontram mais evidências que apontam que clima e biodiversidade estão interligados e são afetados pelas atividades humanas. Por esta razão, as políticas e ações neste campo devem ser integradas buscando uma sinergia positiva entre as ações. Esta é a mensagem-chave que tem sido disseminada pela Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), o órgão da ONU que prepara diagnósticos sobre biodiversidade e serviços ecossistêmicos para embasar a elaboração de políticas.
Em 10 de junho a IPBES juntamente com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) lançaram o relatório do workshop IPBES_IPCC co-sponsored Workshop report on Biodiversity and Climate Change realizado virtualmente em dezembro de 2020 e elaborado por 50 cientistas de todas as regiões do mundo. O documento aponta que embora já exista um conjunto razoável de políticas que abordam a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas, elas não conversam entre si. É preciso incentivar as sinergias e maximizar os benefícios.
“As mudanças climáticas causadas pela humanidade estão cada vez mais ameaçando a natureza e suas contribuições para as pessoas, incluindo a capacidade de ajudar a mitigar as mudanças climáticas. Quanto mais quente o mundo fica, menos alimento, água potável e outras contribuições importantes que a natureza pode oferecer para as pessoas em muitas regiões do planeta”, afirma Hans Otto Pörtner, co-presidente do comitê científico. “As mudanças na biodiversidade, por sua vez, afetam o clima, principalmente por meio de impactos sobre os ciclos do o nitrogênio, do carbono e da água” explica Pörtner.
Os autores alertam que ações estritamente focadas no combate às mudanças climáticas podem, inadvertidamente, prejudicar direta e indiretamente a natureza, assim como ações voltadas exclusivamente para diminuir a perda da biodiversidade podem não ser efetivas na contenção das mudanças do clima. Como exemplo, é citada a questão da bioenergia que, se por um lado reduz a emissão de carbono, no modelo atual é produzida em largas áreas de monocultura que afetam a conservação da biodiversidade e demandam muita irrigação. Por estas razões, todo tipo de ação mitigadora deve ser avaliada em termos de seus benefícios e riscos gerais.
Existem muitas medidas que podem trazer contribuições positivas significativas simultaneamente para mitigar a crise climática e a perda da biodiversidade. Entre elas, os autores citam a restauração e contenção da degradação de ecossistemas terrestres e marinhos ricos em carbono e em espécies; o aumento de práticas agrícolas e florestais sustentáveis para melhorar a capacidade de adaptação às mudanças climáticas; e a eliminação de subsídios que apoiam atividades locais e nacionais prejudiciais à biodiversidade (como desmatamento, fertilização excessiva e pesca excessiva) junto com a mudança dos padrões de consumo individual.
Embora o relatório seja resultante de um workshop e não de um processo convencional de elaboração de diagnósticos da IPBES - no qual os Estados membros acordam sobre o escopo e a seleção da composição dos especialistas -, o documento foi elogiado pela plenária, por sua alta qualidade científica.
A estreita relação entre biodiversidade e clima também trouxe novos contornos aos futuros trabalhos da IPBES e deve transbordar para outras instâncias, como ficou registrado ao longo da oitava sessão da Plenária da IPBES realizada virtualmente de 14 a 24 de junho de 2021. Apesar de não ser o foco principal, a temática clima e biodiversidade terá papel importante em dois novos diagnósticos. Um sobre as interligações entre biodiversidade, água, alimentos e saúde (ou simplesmente diagnóstico Nexus) e outro sobre as causas subjacentes da perda de biodiversidade, dependente de mudanças transformadoras e opções para alcançar a Visão 2050 Vivendo em harmonia com a natureza da Convenção sobre a Diversidade Biológica (ou diagnóstico sobre mudanças transformadoras). Além disso, deu-se continuidade ao trabalho relacionado com as interligações entre biodiversidade e mudança climática em colaboração com o painel global sobre clima (IPCC)
“Todo o trabalho futuro da IPBES precisa levar em conta os impactos das mudanças climáticas, pois até 2050 este passará a ser o principal vetor de perda de biodiversidade” explica Carlos Joly, membro do comitê executivo do Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (SinBiose/Cnpq) e ex-membro do Painel Multidisciplinar de Especialistas da IPBES (2013 – 2018).
Para Joly, ainda são necessários grandes avanços conceituais para de fato estabelecermos o início das mudanças transformativas necessárias para chegarmos a 2050 vivendo em harmonia com a natureza e; o quanto antes incorporarmos essas inovações conceituais, melhor.
Sobre a IPBES
A IPBES é o órgão intergovernamental que fornece aos formuladores de políticas avaliações científicas objetivas sobre o estado do conhecimento sobre a biodiversidade do planeta, os ecossistemas e as contribuições destes para as pessoas, bem como as ferramentas e métodos para proteger e usar de forma sustentável esses ativos naturais vitais. A IPBES foi estabelecida em 2012 e possui 137 estados membros. Sua secretaria é mantida pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Sua secretaria é mantida pela ONU Meio Ambiente, nova designação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).