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Vanderlei Bagnato
Vanderlei Bagnato é bolsista de produtividade em pesquisa 1A do CNPq, professor titular da Universidade de São Paulo e coordenador da Agência USP de Inovação. Concluiu simultaneamente em 1981 o curso de física, na USP, e engenharia de materiais (UFSCar), e começou, em 1987, o doutorado em física em Massachusetts Institute of Technology. Coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Óptica e Fotônica - programa do CNPq em parceria com diversas instituições -, que, além das atividades de pesquisas, desenvolve ações de comunicação pública da ciência por meio de uma programação durante 24 horas em um canal de televisão, elaboração de livros,
kits
educativos e eventos em escolas.
O senhor concluiu simultaneamente o curso de física e engenharia de materiais e em seguida o doutorado em física em Massachusetts Institute of Technology. C omo surgiu seu interesse pela ciência?
Desde jovem fui muito interessado pela ciência. Tive uma infância modesta, mas rica em conteúdo. A natureza sempre me despertou muitas questões. Apesar de gostar de leitura, gostava mais de experimentar. Ainda quando jovem, montei meu próprio laboratório, onde tinha um microscópio e uma montanha de produtos químicos. Naquela época ainda não era proibido utilizar compostos químicos, e eu abusei muito disto tudo. Quando ainda no ginásio, participei dos antigos congressos de Jovens Cientistas do antigo Funbec – Ibec. Apesar de ser apaixonado pela física e matemática, sempre tive interesse pelas outras ciências também. Acabei como queria: cientista procurando dar a ciências cada vez mais uma relevância social. Acho que minhas atividades de hoje refletem minhas reflexões do tempo de infância e adolescência. Ao ir para o MIT, notei que poderia ir ainda mais longe, incentivando o uso da ciências para a geração de riquezas. Foi assim que, além de cientistas, me tornei também num empreendedor, com grande paixão pela inovação tecnológica. Acho que sempre fui motivado a ir além de ser um espectador em ciências.
Como começou o seu interesse em fazer divulgação científica?
Todo cientista que acredita que seu trabalho é importante quer divulgá-lo. Assim todo cientista é um divulgador. Alguns, como eu, acham que ciências levadas às pessoas comuns, somente melhora sua vida. Não acho que ciências é só para cientistas, ciências é para tirar pessoas da ignorância. Desde cedo, quando ainda adolescente, sempre gostei de divulgar ciências. Acredito que para ser bom em algo, temos que fazer muito daquilo. Até escrevi uma matéria chamada Futebolizando a Ciências , onde mostro como é importante ser bom em algo que os outros reconhecem. Somos bons no futebol, pois nossas crianças praticam todo tempo. Temos que fazer o mesmo para a ciência.
Quais são as atividades de divulgação científica desenvolvidas pelo senhor?
Temos um canal de TV aqui em São Carlos, que transmite 24h de ciências, com aulas, shows, programas especiais etc. Além disto, realizamos exposições em locais públicos, shows de ciências etc. Temos uma exposição itinerante de ciência e tecnologia que vai para diversos locais. Também realizamos programas no rádio e na internet. Lancei o primeiro MOOC de física (curso aberto) que conta com 16.000 alunos. Recentemente lançamos, conjuntamente com MoysésNussenzveig, Brito Cruz, Mayana Zatz, Henrique Thoma, E. Colli, B. Barbuy e Eliana Beluso, um programa especial com kits educativos. Achamos que a divulgação da ciência tem agora que ser feita com prática.
Qual a importância de se engajar nesse tipo de trabalho?
Em primeiro lugar, levar ciências para a mesma população que me mantém, é quase que um dever. Segundo, o prazer de fazê-lo. Não faço nada que não tenha meu coração e minha paixão envolvida. Levar ciências a todos é como justificar a necessidade de uma nação em investir nestes temas. Ser capaz de explicar aquilo que faço para todos é fantástico. As pessoas passam a te respeitar pelo valor verdadeiro que você tem e não pelo falso valor ou poder. Meus alunos passam todos pelo mesmo processo. Para trabalhar em meus laboratórios, é preciso estar disposto a dedicar uma pequena fração de seu tempo a todos.
Percebemos que agora que está consolidado seu trabalho de divulgação científica em São Paulo, o senhor pretende levar ao Amazonas. Como esta atividade será desenvolvida?
Eu acredito que devemos levar tudo a todos os lugares. Levar divulgação cientifica ao Amazonas tem nos dado enorme prazer. Somos orgulhosos de ter em nosso território a Amazônia, certo? No entanto, isto não basta, temos que dar a eles tudo que podemos para produzirmos pessoas naquela parte do país dispostos a serem cidadãos plenos e participarem de todo desenvolvimento do pais. Tenho ficado surpreso com a qualidade e entusiasmo dos alunos de lá.
Quais são os principais desafios que um pesquisador brasileiro enfrenta quando se envolve com a atividade de divulgar a ciência?
O grande desafio é tornar ciências um tópico de valor. O grande desafio é fazer todos entenderem que saber ciências é sair do “achismo", do obscuro. Um povo que sabe e valoriza ciências é sempre mais esclarecido e motivado para as soluções comunitárias. Temos que fazer todos entenderem que os países ricos são assim porque investem em ciência e não vice-versa. Este é um grande desafio, que vai desde a base até as mais altas esferas.
Que fatores poderiam contribuir para acelerar a divulgação da ciência?
Ser obrigação de todos os cientistas. Se cada um fizer um pouco, o país muda rapidamente. Também acho que faltam museus e exposições de valorização da ciências em todo o país. Isto certamente ajudaria muito. No momento, estamos empenhados, juntamente com a CAPES e o MEC, de ensinar ciências em todos os níveis. Acho mesmo que isto irá mudar muita coisa.
Equipe Popularização da Ciência do CNPq