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Massanori Takaki
Massanori Takaki possui graduação em Biologia pela Universidade Estadual de Campinas(1977), mestrado pela Universidade Federal de São Paulo(1979), doutorado em Ciências Biológicas (Biologia Molecular) pela Universidade Federal de São Paulo(1983), pós-doutorado pela Universidade Agricola de Wageningen(1987) e pós-doutorado pela Universidade Agrícola de Wageningen(1983). Atualmente é Professor Titular da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Tem experiência na área de Botânica, com ênfase em Fisiologia Vegetal, atuando principalmente nos seguintes temas: Fitocromo, Germinacao de Sementes, Luz, Lactuca Sativa, Rumex Obtusifolius e Cucumis Anguria. O professor Takaki deu a seguinte entrevista à equipe da aba Popularização da Ciência do CNPq:
O senhor criou uma página na internet com depoimentos de mais de 30 botânicos. Por que o senhor tomou essa iniciativa?
Na verdade foram 37 entrevistas gravadas, sendo que 36 estão on-line. A ideia do projeto surgiu após ouvir um poema declamado por Manoel Bandeira, gravado na década de 30. Achei incrível ouvir a voz do Manoel Bandeira. Prontamente imaginei que seria algo interessante se eu gravasse as entrevistas com os Botânicos brasileiros que iniciaram linhas de pesquisas novas, ou mesmo que formaram Botânicos que estão em diferentes regiões do Brasil. Logicamente pensei em gravar em vídeo, pois teríamos o pesquisador contando a sua própria trajetória acadêmica e científica. Iniciei este projeto em janeiro de 2011, gravando a primeira entrevista com o Dr. Alfredo Gui Ferreira, na UFRGS. A ideia do projeto era gravar as entrevistas no próprio ambiente de trabalho do pesquisador, pois o gabinete mostra, de uma certa forma, a personalidade do pesquisador. Entretanto, muitos dos entrevistados estão aposentados e acabei realizando as gravações nas residências deles. Todas as entrevistas estão disponíveis no seguinte endereço: HTTP://www.filmesnajanela.com.br/botanica
O senhor teve algum tipo de apoio institucional para criar sua página na internet?
Não tenho apoio institucional para criar as páginas da internet. Aliás, criei as páginas utilizando uma linguagem simples em HTML minimalista, bastante simples. Para isso tive que aprender a escrever os códigos fontes para que os vídeos pudessem ser reproduzidos nas páginas. Inicialmente coloquei os vídeos em um servidor que adquiri e que está localizado na universidade onde eu trabalho. Posteriormente, comecei a postar os vídeos no YouTube. Tive que registrar um domínio e alugar um espaço no servidor externo. Infelizmente, não existe linha de financiamento em órgãos de fomentos para projetos semelhantes, sobre a memória da ciência brasileira. É uma pena.
Iniciativas desse tipo ajudam a promover a popularização da ciência?
Creio que sim, ao mesmo tempo em que tentamos aproximar a ciência à sociedade, as entrevistas servem como fontes de pesquisa, sobre uma época ou sobre uma determinada área da ciência. Por exemplo, gravei uma entrevista com a Dra. Berta Lange de Morretes, que atualmente está com 95 anos de idade e há 72 anos ministra aulas de botânica na USP. Um exemplo de pesquisadora que conta as dificuldades para cursar a graduação em História Natural. Especificamente esta entrevista não está disponível ainda, porque ela solicitou que eu enviasse a entrevista transcrita - e somente recentemente consegui a transcrição.
O senhor acha que o cientista brasileiro deveria se preocupar mais em divulgar os resultados de suas pesquisas ao público leigo?
Sim, certamente o retorno do financiamento da pesquisa deve ser dado à sociedade, que financia os projetos de pesquisa. Uma forma de mostrar o que é feito com os recursos públicos é a divulgação científica em uma linguagem que o público consiga entender. Iniciei outro projeto, denominado 1 Minuto de Ciência em Vídeo (HTTP://minuto.rc.unesp.br/1minuto ), também com vídeos disponíveis on-line. Este projeto tem o apoio da minha universidade, a UNESP, na forma de bolsa de estudos a aluno de graduação que a Pró-Reitoria de Extensão disponibiliza, além do uso da internet e o equipamento de gravação dos vídeos. Um dos vídeos disponíveis, sobre hidroponia de alface, tem mais de 64 mil acessos, de 143 países, em três anos, indicando a importância do formato de vídeo de divulgação nas buscas de informações realizadas pela população em geral. Hoje, após 30 anos trabalhando na universidade, eu acho que temos obrigação de prestar contas para a sociedade que nos paga. E uma das formas é a divulgação científica.
Como incentivar os pesquisadores a fazer divulgação científica?
A divulgação científica não é valorizada nas avaliações acadêmicas. Assim, em vista de que a publicação em periódicos é altamente induzida, poucos pesquisadores se preocupam em realizar a divulgação científica. Considero isto uma pena, pois temos excelentes pesquisadores que têm dificuldade em se comunicar com a sociedade, pois a ciência tem uma linguagem própria. Por outro lado, a valorização da divulgação científica poderia despertar a vocação de alguns pesquisadores.
A divulgação científica no Brasil ainda é incipiente?
Sim, está incipiente, apesar de que o jornalismo científico cresceu bastante nos últimos anos.
O jornalista brasileiro está preparado para fazer divulgação científica?
O jornalismo científico é uma das áreas do jornalismo e, como em qualquer ciência, existem especialidades. Tendo eu uma formação em fisiologia vegetal, terei dificuldades em escrever um texto de anatomia de plantas. Da mesma forma isso acontece com o jornalismo. Felizmente existem vários programas de pós-graduação em jornalismo científico.
Que conselhos o senhor daria a quem quer fazer divulgação científica?
Existem muitos blogs de ciências disponíveis na internet, alguns com informações corretas e outros que simplesmente copiam textos de outros blogs. Assim, um pesquisador deve realizar a divulgação científica com a chancela de sua instituição que dará credibilidade às informações lá veiculadas.
Iniciativas como a criação de museus e centros de ciência e exposições itinerantes dão bons resultados?
Sim, certamente. Devemos sempre trabalhar a curiosidade do ser humano. Temos exemplos que têm funcionado muito bem como a Estação Ciência, da USP. Na minha universidade temos iniciativas que atraem alunos do ensino médio, como o Show de Física e de Química.
O que o senhor acha do ensino de ciência nas primeiras séries escolares?
Impossível fazer generalizações. Mas existem propostas de currículos para o ensino fundamental e médio, nos quais é estimulada a compreensão das diferentes áreas da ciência por meio de textos, figuras e outras mídias.
Os professores estão preparados para isso?
Particularmente não posso opinar sobre este assunto, pois não tenho contato com estes professores. Entretanto, ministramos aulas para os futuros professores com informações atuais e estimulamos que os alunos façam as correlações das informações dadas com os processos que ocorrem na natureza. Assim, caberá aos futuros profissionais trabalhar as várias questões na sala de aula e passar aos alunos a compreensão dos fenômenos de cada área.
O que o senhor acha do programa Reflora, que tem por objetivos o resgate histórico e a criação de herbário virtual de imagens e informações de amostras da flora brasileira que se encontram no exterior?
O projeto Reflora, uma iniciativa do CNPq, é excelente, pois possibilita que o pesquisador possa analisar o material de trabalho virtualmente, acessando imagens de alta definição. Logicamente isto não substitui a análise do material físico que, dependendo da espécie, serão ainda necessárias as missões em herbários. O recentemente lançado Herbário Virtual Reflora, hospedado no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, já mostra a importância desta iniciativa.
Os botânicos aplaudiram essa iniciativa?
Sim, nós como botânicos, achamos excelente esta iniciativa. Pois, além do resgate na forma de imagens dos exemplares de plantas de espécies brasileiras levadas por pesquisadores para o exterior, temos as informações a elas relacionadas, como locais e datas das coletas, bem como dos coletores.
Os vídeos com as entrevistas podem ser acessados em:
http://filmesnajanela.com.br/botanica/
Equipe Popularização da Ciência