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Jovem Cientista premia 12 soluções para desafios de conectividade e inclusão digital no país

- Foto: Premiação selecionou 12 projetos de diversas partes do país. foto: Marcelo Gondim
Luta contra o assédio sexual no ciberespaço, inclusão digital de crianças em situação de vulnerabilidade, detecção rápida de doenças e criação de dispositivos para uma agricultura mais sustentável. Esses foram apenas alguns dos projetos premiados nesta quarta-feira (12) na 30ª edição do Prêmio Jovem Cientista. Focados no tema “Conectividade e inclusão digital”, os vencedores apresentaram soluções práticas para problemas encontrados no dia-a-dia.
A premiação, realizada em Brasília, contou com a presença da ministra da Ciência e Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, do presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) , Ricardo Galvão e do secretário-geral da Fundação Roberto Marinho (FRM), João Alegria.
O presidente do CNPq destacou que é mandatório incentivar os novos talentos. " Nós temos de considerar esses jovens faróis para os outros se desenvolverem. São faróis para as pessoas acreditarem que podem sim fazer ciência, fazer tecnologia e serem reconhecidos por isso". Segundo Galvão, o Brasil pode produzir ciência de ponta e que seja importante pela nossa sociedade.
A ministra da Ciência e Tecnologia destacou a retomada do prêmio, que estava paralisado e ressaltou que isso representa a superação de um período de corte de investimentos, negacionismo e desqualificação da ciência. " Hoje, nesse evento, celebramos a ciência viva que é feita por jovens talentosos e talentosas que já estão contribuindo com o avanço do país", disse. De acordo com a ministra, os trabalhos demonstram criatividade e mostram que a ciência é motor de impacto social. Luciana Santos antecipou o tema da próxima edição do prêmio: soluções para enfrentar as mudanças climáticas.
Saiba mais sobre os projetos premiados
Ao comentar o resultado do prêmio ao jornalismo do CNPq em entrevista prévia, os agraciados foram unânimes ao afirmar a relevância e o poder transformador da educação. Para os contemplados nas categorias de estudante, ganhar o Prêmio Jovem Cientista é uma honra e um estímulo que os impulsiona a buscar mais conhecimento.
Primeiro lugar na categoria Mestre e Doutor, o bolsista do CNPq Wenderson Rodrigues Fialho da Silva, que cursa doutorado em Física Aplicada na Universidade Federal de Viçosa (UFV), foi contemplado com projeto focado no desenvolvimento de tecnologias inovadoras, sustentáveis e de baixo custo. Entre elas está um biossensor magnetoelástico para diagnóstico sorológico da covid-19. O biossensor é capaz de identificar infecções de forma rápida, eficiente e acessível. “Todas as soluções são baseadas no desenvolvimento de instrumentação científica nacional, que acredito ser essencial para garantir soberania científica e tecnológica em nosso país", diz Silva.
O trabalho foi realizado de forma multidisciplinar, com a participação de pesquisadores dos departamentos de Física e Bioquímica e Biologia Molecular da UFV. Para o ganhador, a realização do projeto só foi possível devido à ação coletiva de pesquisadores, infraestrutura utilizada, condições de trabalho e qualidade educacional proporcionados pela universidade pública.
O grupo também desenvolveu uma câmara de esterilização ultravioleta (UV), utilizando lâmpadas de vapor de mercúrio descartadas provenientes da iluminação pública, e uma estação meteorológica que troca dados por meio de sensores de baixo custo -tecnologia chamada Internet das Coisas (IoT). “Essa estação democratiza o acesso a informações climáticas em tempo real, sendo essencial para a compreensão de padrões climáticos locais, monitoramento de eventos climáticos extremos, avanço da agricultura inteligente, caracterização de ecossistemas e prevenção de desastres naturais, entre outras aplicações”, explica.
Para Silva, ser contemplado com o Prêmio Jovem Cientista tem um significado ímpar em sua trajetória acadêmica e pessoal: “Venho de uma família humilde, com pais que tiveram escolaridade limitada, pois não tiveram oportunidade para se dedicarem somente ao estudo. Nesse sentido, esse reconhecimento não é apenas uma validação da relevância e qualidade da pesquisa multidisciplinar que desenvolvi em colaboração com diferentes pesquisadores da UFV, mas também uma prova de que a educação tem um poder transformador”, afirma. Ele diz que o reconhecimento concedido pelo prêmio é um estímulo para continuar buscando soluções acessíveis, que possam beneficiar a sociedade como um todo e, em especial, regiões com recursos limitados. “Para mim, este prêmio simboliza a possibilidade de romper barreiras e transformar desafios em oportunidades”, reflete.
Para Arienny Ramos Souza, contemplada com o primeiro lugar na categoria Estudante de Ensino Superior, o prêmio é uma conquista significativa para sua trajetória acadêmica e profissional. “Como mulher negra, periférica e egressa de escola pública, sempre enfrentei desafios que demandaram esforço e resiliência para ocupar este espaço na ciência. Este reconhecimento não apenas valoriza minha dedicação, mas também reafirma a importância da representatividade e da inclusão na pesquisa”, observou. Graduanda no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA), Souza também integra o Núcleo de Pesquisa em Educação e Cibercultura (Nupec) do IFPA, em que participa de projetos na linha de pesquisa em antropologia de gênero. Por isso foi agraciada com o trabalho “Gênero e poder no ciberespaço: a dinâmica do assédio sexual contra estudantes do sexo feminino nas redes sociais online”.
O estudo investiga como o assédio sexual online impacta alunas no ambiente educacional, destacando-o como um processo que favorece e precede o assédio sexual físico. “Por meio de relatos, entrevistas e análises de casos em redes sociais, foram identificados padrões comportamentais e fatores sociais, culturais e institucionais que perpetuam essa violência, especialmente entre mulheres de baixa renda e etnias marginalizadas”, diz. Além de denunciar essas práticas, a pesquisa desenvolveu uma cartilha para conscientizar e prevenir o assédio sexual online. “O estudo busca promover um ambiente acadêmico mais seguro e igualitário, destacando a urgência de ações institucionais contra essa realidade”, completa.
Bernardo Cordeiro, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), agraciado com o primeiro lugar na categoria Estudante do Ensino Médio, diz que ganhar o prêmio aos 18 anos é uma honra. “Sinto que recebi o devido reconhecimento pelo esforço que tenho empregado durante todo o meu ensino médio e curso técnico e que valeram a pena os vários fins de semana de dedicação aos estudos”. Segundo ele, o resultado da premiação é um incentivo para continuar sua busca por mais conhecimento.
O trabalho com que foi contemplado “Desenvolvimento de um dispositivo de Internet das Coisas para produção de defensivo agrícola agroecológico” tem como meta a elaboração de dispositivo seguro para produzir um defensivo agrícola sustentável. “Esse defensivo é produzido através da eletrólise de água e sal de cozinha, um processo químico feito pelo sistema desenvolvido. Nesse sentido, os aspectos mais importantes do projeto se resumem a duas características: uso de mecanismos de segurança inéditos na produção e a automação do sistema”, explica. A automação do dispositivo consiste no uso de sensores, atuadores e um microcontrolador de baixo custo para gerenciar o processo de produção e fazer a comunicação com o usuário à distância, fornecendo visualização dos dados da produção do defensivo e controle do dispositivo em tempo real, por meio da internet. As soluções de segurança para o dispositivo já são objeto de pedido de patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
Vencedor na categoria Mérito Científico, que contempla pesquisador com título de doutor, Darlisom Sousa Ferreira, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), salienta que o prêmio mostra ser possível levar a riqueza intelectual e cultural da Amazônia ao centro das discussões científicas do país. “É uma forma de dizer que a ciência que fazemos aqui, em meio a uma das maiores biodiversidades do mundo, é essencial e merece ser vista como estratégica para o desenvolvimento sustentável e para a compreensão das questões ambientais, sociais e culturais do Brasil e do mundo”, diz. Ferreira é professor da Escola Superior de Ciências da Saúde da UEA, onde também é Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários. Ele é doutor em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e especialista em UTI Adulto e Educação em Saúde.
Ao comentar sua produção científica, o agraciado afirma que as pesquisas são desenvolvidas a partir de duas principais frentes integradas: a liderança do Laboratório de Tecnologias para o Trabalho e Educação na Saúde (Latted), no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem em Saúde Pública da UEA, e a Rede de Estudos em Tecnologias Educacionais (Rete), que conecta os pesquisadores de diversas instituições dos estados do Norte aos demais estados do Brasil. “Nessas frentes, se desenvolve, valida, avalia e difunde-se tecnologias cuidativo-educacionais impressas, digitais, gameficadas, audiovisuais e relacionais para a promoção e educação em saúde, a autonomia, o empoderamento individual e coletivo a favor do autocuidado, da qualidade de vida e o bem viver”, explica.
As tecnologias empregadas são desenvolvidas a partir de métodos participativos, escuta sensível e técnicas de consenso para a síntese das necessidades dos participantes. “Como resultados temos publicado artigos científicos sobre estudos tecnológicos em temáticas diversas tais como: saúde da mulher e do homem, saúde mental, saúde dos povos indígenas, doenças crônicas não transmissíveis, e mais recentemente sobre o processo de trabalho e a gestão da pandemia da covid-19 em Manaus”, completa. Além dos produtos bibliográficos e técnico-tecnológicos, o grupo promove a conectividade e a inclusão digital a partir da extensão universitária, que tem reflexos sociais também. Os programas “Espia Só”, o EducaONCO e o Programa Ajuri na Floresta, com povos indígenas, são exemplos de iniciativas em favor da democracia cultural e da interiorização do conhecimento na floresta amazônica.
Sobre o Prêmio
O Prêmio Jovem Cientista foi criado em 1981 pelo CNPq, em parceria com a Fundação Roberto Marinho (FRM) e empresas da iniciativa privada. O objetivo do prêmio é revelar talentos, impulsionar a pesquisa no país e investir em estudantes e jovens pesquisadores que procuram soluções inovadoras para os desafios enfrentados pela sociedade brasileira. Considerado um dos mais importantes reconhecimentos aos jovens cientistas brasileiros, o prêmio apresenta, a cada edição, um tema relevante para o desenvolvimento científico e tecnológico que atenda às políticas públicas do governo e seja de relevância para a sociedade brasileira.
Ao longo de sua trajetória, o Jovem Cientista já contemplou mais de 194 pesquisadores e estudantes, além de 21 instituições de ensino médio e superior. A 30ª edição teve 801 inscrições, em cinco categorias: Mestre e Doutor, Ensino Superior, Ensino Médio, Mérito Científico e Mérito Institucional. Os três melhores trabalhos em cada uma das categorias receberam premiações, extensivas aos orientadores.
Esse ano, os valores variam de R$12 mil a R$40 mil. Os três primeiros contemplados nas categorias Mestre e Doutor, Estudante de Ensino Superior e Estudante de Ensino Médio também receberão bolsas de estudo com prazo para início da utilização de até 24 meses. As instituições premiadas na categoria Mérito Institucional – Instituição de Ensino Superior e Instituição de Ensino Médio – receberão, cada uma R$ 40 mil.
Conheça todos os agraciados da 30ª edição do Prêmio Jovem Cientista