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Iniciação científica e disseminação da ciência são exaltadas em evento na SBPC
Motivar a formação de novos cientistas e convencer a sociedade de que a ciência, a tecnologia e a inovação são importantes para o país. Esses foram os pontos destacados pelo presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Mario Neto Borges, na abertura da cerimônia de entrega dos Prêmios Destaque do Ano na Iniciação Científica e de Fotografia Ciência e Arte da agência . O evento aconteceu nesta quarta-feira, 18, durante a 69ª Reunião Anual da SBPC, em Belo Horizonte (MG). Na ocasião, também aconteceu a palestra do vencedor do Prêmio José Reis de Divulgação Científica, Reinaldo José Lopes.
Estavam presentes no evento, além do Presidente do CNPq, os diretores da agência José Ricardo Santana e Adriana Tonini, o Diretor do Departamento de Políticas e Programas de Ciências do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Sávio Raeder, o presidente do Fórum de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação (FOPROP), Joviles Trevisol e Ildeu Moreira, vice-presidente da SBPC.
Mario Neto reforçou a importância dos prêmios como um estímulo, especialmente aos jovens, da iniciação científica, para que continuem na carreira científica. Além disso, o presidente do CNPq defendeu que é imprescindível que a sociedade esteja convencida de que ciência é tão importante quanto economia e educação. "Sem ciência, tecnologia e inovação nós não vamos conseguir fazer o desenvolvimento sustentável do Brasil de longo prazo, não conseguimos gerar riqueza para o país", ressaltou.
Durante a palestra, Reinaldo Lopes apresentou os desafios de levar a ciência para o grande público. Reinaldo, que teve a oportunidade de trabalhar na Folha de S. Paulo quando José Reis ainda mantinha sua coluna no jornal, disse que ganhar o prêmio foi como receber um Nobel e é um enorme incentivo a continuar na área que, segundo ele, tem perdido espaço na grande mídia, apesar de ser um assunto de grande interesse. "Grandes jornais não têm hoje uma equipe específica para falar de ciência", apontou. "E eu acho que o jornalismo científico é uma das melhores, se não a melhor, maneira de fazer jornalismo, por sua amplitude e profundidade".
Confira entrevista concedida pelo Reinaldo Lopes:
Qual a importância de conquistar o Prêmio José Reis de Divulgação Científica?
Pra mim é como ganhar o Oscar. Falo meio brincando, mas tem um fundo de verdade. Pra quem trabalha na área no Brasil, o José Reis é o padrão-ouro do reconhecimento, até porque ele é o único prêmio nacional voltado exclusivamente pra divulgação científica, por premiar jornalistas apenas de três em três anos e por avaliar o conjunto do trabalho da pessoa, não algo específico e pontual. Por tudo isso, é uma alegria imensa e uma grande responsabilidade.
Como você vê iniciativas como essa para estimular a divulgação e jornalismo científicos?
O que desanima um pouco é saber como iniciativas desse tipo são raríssimas em nível nacional no Brasil -- o José Reis é mesmo único.
Sua trajetória no jornalismo sempre foi na área de ciência? Se não, como foi essa inserção?
Praticamente sempre sim, mas com alguns desvios de trajetória interessantes. Meu primeiro emprego na grande imprensa (fora um estágio no Primeira Página, o jornal da minha cidade natal, São Carlos) foi uma cobertura de férias na editoria de Ciência da Folha, quando já me apaixonei de cara pela área. (Foi na semana do 11 de setembro de 2001, e eu ajudei a fazer o infográfico com a explicação de ciência dos materiais sobre a queda das Torres Gêmeas!). Logo depois fui cobrir a licença de um colega em Veículos, o caderno sobre automóveis da Folha, hoje extinto, durante três meses, e foi um pesadelo, porque não entendo nada de carro, francamente. Depois disso conseguiu voltar para Ciência, cobrindo o ano sabático do meu mentor Marcelo Leite, e aí não parei mais.
Mas, curiosamente, desde que fui para o G1, em 2006, e depois do meu retorno à Folha, tenho combinado a cobertura de ciência com a cobertura de religião, em especial nos aspectos históricos e arqueológicos da religião e também na análise do Vaticano e das tendências do catolicismo (em parte porque sou católico e me interesso pessoalmente pelo tema). Acho salutar promover o diálogo entre as duas áreas, então tem sido uma experiência ótima, apesar de ter de lidar com fundamentalistas de ambos os lados de vez em quando.
Como anda o jornalismo científico no país? Temos formação adequada para isso? O que/onde podemos melhorar?
Olha, a nossa situação é paradoxal, pelo seguinte: nunca tivemos tanta gente com boa formação, experiência e tarimba pra trabalhar na área quanto hoje. Além disso, quem não tem formação universitária em jornalismo, mas nas áreas de ciências biológicas e exatas, está se interessando cada vez mais pelo ramo e dando contribuições importantes, às vezes de modo mais informal, em veículos como blogs e o YouTube. O problema é que em crises econômicas como a atual o investimento em jornalismo científico é o primeiro a ser cortado. Acho isso de uma miopia tremenda, inclusive do ponto de vista da audiência - os dados da internet mostram que o público mais jovem tem grande interesse pelos temas científicos. É preciso reverter essa tendência o quanto antes, ou vamos desperdiçar muito potencial.
Você acha que a imprensa o os meios de divulgação em geral podem contribuir para a percepção da sociedade da importância da ciência para um país. Estamos falhando nesse propósito?
Definitivamente sim, ao menos como possibilidade. É claro que a gente não vai conseguir ensinar ciência do zero -- esse é um papel que vai continuar sendo da escola, da educação pública e privada, --, mas a gente poderia fazer muito mais para ajudar o público a entender o método científico e a importância que ele tem na vida de uma sociedade moderna. E sim, infelizmente temos falhado coletivamente pelos motivos que mencionei na pergunta anterior: falta investimento, falta uma visão estratégica, acho que falta conhecimento básico sobre ciência mesmo entre muitos tomadores de decisão do jornalismo. A Folha, graças a Deus, é uma exceção, por uma postura histórica quase iluminista, eu diria, do jornal, mas a gente precisa fazer muito mais do que tem feito.
Como poderíamos estimular mais o interesse da sociedade pela ciência?
É difícil saber por onde começar, porque o problema é multifacetado e as nossas carências como sociedade, em especial do ponto de vista educacional, são profundas. Além de um ensino de ciências que seja estimulante com infraestrutura decente (de laboratórios, por exemplo), e de um jornalismo científico muito mais presente, crítico e estimulante, eu acho que precisamos de cientistas que sejam intelectuais públicos. Cadê o nosso Carl Sagan, o nosso Dawkins (fora a parte do ateísmo), o nosso Neil DeGrasse Tyson? Quando pedem pras pessoas citarem um grande cientista brasileiro, elas só lembram do Santos Dumont, isso quando lembram. A ciência brasileira precisa dar mais a cara a tapa e entrar de forma mais compreensível e combativa nas grandes questões do país.
Coordenação de Comunicação Social do CNPq
Fotos: Cláudia Marins
Foto: Claudia Marins
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