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Pesquisadores lançam raio-x da ciência e conservação de campos e savanas brasileiros
Campos Sulinos, campos de altitude, Cerrado, dunas e restingas são alguns exemplos da grande diversidade de ecossistemas abertos do Brasil. Apesar de sua grande importância em termos de biodiversidade e serviços ecossistêmicos, em especial para a manutenção da água no subsolo do país, esses ecossistemas estão se perdendo devido aos baixos índices de proteção das áreas e altos índices de transformação para outros usos, como a agricultura e pecuária sobre pastagens plantadas. Hoje, 22 de junho, pesquisadores brasileiros apresentaram uma síntese dos conhecimentos existentes a respeito dos ecossistemas abertos brasileiros, evidenciando sua complexidade, as lacunas de conhecimento e a necessidade de ampliar os mecanismos existentes para sua conservação.
A pesquisa teve a liderança do projeto GrassSyn , que integra o Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos do CNPq, e se dedica a estudar esses ecossistemas, caracterizados pela presença marcante de gramíneas, por isso, também têm sido chamados pelos pesquisadores de ecossistemas graminosos. “A ideia desse trabalho é apresentar, na forma de síntese, quais são os ecossistemas graminosos brasileiros, procurando uma linguagem em comum, tanto para a pesquisa quanto para a conservação desses ambientes”, explica Gerhard Overbeck, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenador da pesquisa.
Apesar de inúmeros esforços, a conservação dos ecossistemas graminosos continua sendo negligenciada: 46% desses ambientes já foram perdidos para o desmatamento e transformados para outros usos como a agricultura e pastagens cultivadas. Para os autores do artigo, as razões para esta negligência incluem equívocos sobre as características e dinâmicas desses ecossistemas, bem como a terminologia utilizada para se referir a esses ambientes. Ambientes diferentes sendo denominados da mesma forma ou um mesmo ambiente possuindo diferentes nomes que variam a cada região impedem, segundo os pesquisadores, uma comunicação adequada sobre as savanas e campos do Brasil, tanto dentro do país quanto internacionalmente.
O artigo procura definir cada ambiente e suas características mais marcantes, localização geográfica, dinâmicas ecológicas (como a relação com animais herbívoros e o fogo natural, por exemplo) e trabalhos acadêmicos de referência. Traz, ainda, os termos utilizados no Brasil para a identificação de cada um desses ecossistemas e o termo correspondente em inglês para o uso internacional. “Acertar toda a terminologia para identificar a diversidade desses ecossistemas foi um primeiro passo para podermos conhecer melhor e, portanto, conservar melhor esses ambientes”, destaca Luciana Menezes, também da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e uma das autoras do trabalho.
Além disso, o trabalho evidenciou o quão pouco se sabe sobre esses ecossistemas: há uma lacuna de mapas com alta qualidade para as áreas, sendo que algumas áreas sequer estão mapeadas. Segundo Michele Dechoum, da Universidade Federal de Santa Catarina, a ausência de métodos comuns de pesquisa para esses ambientes dificulta a realização de inventário sobre eles, que é o primeiro passo para se traçar estratégias de conservação. Os autores do estudo ressaltam que essa falta de uma metodologia mais padronizada para o estudo dos ecossistemas graminosos faz com que seja muito difícil interligar os poucos dados existentes.
Para Gerhard Overbeck, há, ainda, uma grande necessidade de investimento em trabalhos de pesquisa de campo para a construção de um conhecimento mais amplo e sólido sobre esses ecossistemas. “Temos muitas áreas ainda pouco conhecidas, ainda há muito trabalho a ser feito para garantir esse conhecimento e a possibilidade de avaliação da conservação desses ambientes”, destaca o pesquisador.
Referência: Overbeck et al. Placing Brazil's grasslands and savannas on the map of science and conservation. Perspectives in Plant Ecology, Evolution and Systematics. https://doi.org/10.1016/j.ppees.2022.125687