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UECE realiza primeira gestação em caprino do mundo com ovário artificial
A revista científica internacional Molecular Reproduction and Development publicou, em 6 de agosto de 2020, artigo sobre pesquisa inédita acerca da gestação em caprinos com o uso da tecnologia do ovário artificial, realizada pela equipe do Laboratório de Manipulação de Oócitos e Folículos Ovarianos Pré-antrais (Lamofopa), liderada pelo professor José Ricardo de Figueiredo, da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Ceará (Favet-UECE) e pesquisador 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A pesquisa utilizou técnicas que possibilitaram, pela primeira vez, na espécie caprina, uma gestação a partir de óvulos que sobreviveram e cresceram fora do organismo materno. Os pesquisadores envolvidos no projeto vinham preservando o sigilo dos resultados obtidos no ano passado e decidiram divulgar os resultados da pesquisa apenas agora, devido à publicação do artigo. Embora a gestação caprina não tenha chegado a termo, o fato foi considerado um avanço, pois a pesquisa representou melhorias significativas na maturação e na produção in vitro de embriões a partir de óvulos crescidos também in vitro .
A criação do ovário artificial in vitro visa o cultivo dos folículos ovarianos em meios especiais, com o fim de se conseguir o crescimento e a maturação de maior número de óvulos, que poderão ser fecundados e gerar embriões. No ovário natural, apenas 0,1% dos óvulos que iniciam seu crescimento no folículo chegam à ovulação. "Esta pesquisa é extremamente complexa e, portanto, bastante desafiadora, mas estamos avançando um passo de cada vez", diz o professor José Ricardo. Segundo ele, a tecnologia do ovário artificial tem grande importância na pesquisa básica, como aprofundar o conhecimento sobre os fatores que controlam a sobrevivência e desenvolvimento in vitro de folículos ovarianos.O objetivo da pesquisa era conhecer os fatores que controlam o desenvolvimento dos óvulos, mas as aplicações desse conhecimento poderão prover dados que poderão auxiliar trabalhos de reprodução de animais domésticos e a multiplicação de espécies ameaçadas de extinção. As informações coletadas pelo projeto poderão, ainda, ser aplicadas em pesquisas para o tratamento de infertilidade em mulheres e para a preservação de fertilidade em mulheres diagnosticadas com doenças como câncer.
A pesquisa foi realizada no Laboratório de Manipulação de Oócitos e Folículos Ovarianos Pré-antrais (Lamofopa) da UECE.Foto: UECE/Divulgação.
Além de ser o maior laboratório da América Latina relacionado à pesquisa na área do ovário artificial caprino, o Lamofopa é colaborador do Oncofertility , um dos mais relevantes consórcios internacionais para o tratamento de infertilidade em humanos, com sede em Chicago, Estados Unidos.O laboratório também vem colaborando de forma expressiva na produção de artigos científicos em periódicos internacionais e já depositou a patente do ovário artificial. O estudo foi desenvolvido com parte dos recursos do Edital 02/2015 - FUNCAP/CNPq, que contemplou um projeto em rede coordenado pelo professor José Ricardo e também financiou pesquisas com outras bioténicas reprodutivas. Em período anterior, com recursos aprovados de edital RENORBIO-CNPq (2006), bem como de projeto de cooperação internacional financiado pela CAPES-FUNCAP, a equipe do Lamofopa foi a primeira no mundo a relatar a obtenção in vitro de oócitos maturos e de embriões em estágios avançados na espécie caprina, utilizando a tecnologia do ovário artificial.
No momento, o professor José Ricardo e a equipe buscam por mais investimentos para dar continuidade à pesquisa. Eles ainda contam com recursos de outros editais, com o estoque de material sobressalente da pesquisa realizada até o momento e a taxa de bancada mensal recebida pelo professor José Ricardo com a bolsa do CNPq. O Prof. Jose Ricardo levanta, ainda, a possibilidade de organizar cursos no laboratório para arrecadar fundos a serem aplicados na pesquisa e conta com algum auxílio de parceiros privados. A empresa BioMérieux, de comércio de produtos laboratoriais, cedeu equipamentos para dosagem hormonal. A Brio Embryo, empresa de biotecnologia no Estado do Tocantins (TO), tem contribuído com material e custeou projetos de orientandos."Na minha opinião, o momento atual exige muita serenidade, resiliência, criatividade. Precisamos nos reinventar e ampliar a nossa capacidade de cooperação interna, bem como com outros pesquisadores e instituições parceiras", diz o professor.
Um dos fatores citados pelo professor para o alcance de bons resultados na pesquisa se deve ao comprometimento dos membros da equipe do Lamofopa, o que ele atribuiu também à formação humanística de seus integrantes. Na contramão do tecnicismo puro de muitos laboratórios de pesquisa, que têm a produção de artigos quase como um fim em si mesmo, o Lamofopa oferece, além do treinamento em técnicas avançadas de manipulação de gametas, apresentação oral de dados e elaboração de artigos, a formação em liderança e bioética. "O artigo científico é um meio de formação do aluno. Não pode ser um fim em si mesmo", afirma o professor.
O artigo sobre o ovário artificial in vitro pode ser encontrado no endereço
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/mrd.23410
Foto: UECE/Divulgação