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Pesquisa no Parque Nacional do Iguaçu identifica 138 espécies de aves
No último dia 10, o Parque Nacional do Iguaçu completou 85 anos de criação. Patrimônio Mundial Natural, concedido pela Unesco, e abrigo das Cataratas do Iguaçu, Maravilha Mundial da Natureza reconhecida desde 2011, por votação mundial, o Parque é uma Unidade de Conservação (UC) Federal que tem por objetivo proteger um dos mais significativos remanescentes da Mata Atlântica na América do Sul, palco do espetáculo das Cataratas do rio Iguaçu e moradia de espécies importantes da biodiversidade brasileira.
Além da conservação dessa biodiversidade, o Parque Nacional do Iguaçu cumpre um papel importante no avanço do conhecimento, funcionando como um grande laboratório a céu aberto, com centenas de pesquisas já realizadas em seu território. Uma dessas pesquisas realizou o maior levantamento quantitativo sobre populações de aves típicas paranaenses e contou com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Realizado na área do Parque por pesquisadores da Universidade Estadual de Londrina (UEL), o levantamento identificou 138 espécies de aves. A grande maioria delas, 107, são de espécies raras. Os pesquisadores também identificaram 26 espécies chamadas de intermediárias e apenas 5 dominantes. Pelos resultados encontrados, os pesquisadores concluíram que as espécies consideradas raras desenvolvem funções ecológicas fundamentais para a biodiversidade, como a dispersão de sementes e o controle das populações de insetos e de roedores. O estudo teve início em 2011 e se desenvolveu ao longo de dez anos, com gravações e observações de aves em uma trilha localizada no interior do parque. O procedimento incluiu a gravação digital do canto das aves, com o objetivo de identificar as espécies presentes, observação, além de anotação e comparação de informações de dados coletados em pontos fixos, ao longo da área delimitada para a pesquisa. O monitoramento foi realizado sempre entre os meses de outubro e novembro, na mesma trilha, que tem cerca de cinco quilômetros, nos horários em que as aves se encontram mais ativas, entre 4h30 e 9h30.
A pesquisa foi coordenada pelo bolsista de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e coordenador do Laboratório de Ornitologia e Bioacústica da UEL (LOBIO), professor Luiz dos Anjos. Um artigo sobre os resultados da pesquisa já foi publicado no periódico Journal for Nature Conservation em abril de 2023 e é também assinado pelos professores Mariana Urbano e Paulo Natti, dos Departamentos de Estatística e Matemática da UEL, respectivamente, bem como pelo bolsista de Desenvolvimento Tecnológico Industrial do CNPq, Helon Simões Oliveira. Segundo o professor Luiz dos Anjos, a participação de professores de Matemática e de Estatística foi necessária para desenvolver uma classificação adequada da quantidade de espécies raras, intermediárias e dominantes. Para fazer essa comparação, os cientistas empregaram a Análise de Cluster, técnica utilizada para classificar elementos muito parecidos em grupos distintos entre si. Nessa técnica, é usada uma função de distância, que precisa ser definida considerando o contexto do problema, para definir a semelhança ou a diferença entre os elementos.
O professor Luiz dos Anjos afirma que, desde o início da coleta no parque, as populações de aves se mantiveram estáveis, um bom sinal de que a área tem cumprido seu papel como unidade de conservação. Os dados do monitoramento encontraram em média cerca de 80 espécies distintas por quilômetro, uma pequena amostra do total de aves e da biodiversidade do parque. Entre as espécies consideradas raras e encontradas na área estão a Pavó, a Macuco, a Macuro, a Tovacuçu, a Saí Andorinha, a Saíra Viúva e a Olho Falso. As espécies intermediárias conhecidas e presentes naquela área são a Piolhinho, a Tiê da Mata, a Pica-pau-Benedito, e a Alma de Gato. As consideradas dominantes são a Arapaçu verde, a Sabiá de Barranco e a Pula pula. A pesquisa foi desenvolvida com permissão do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e integrou o projeto Diversidade e Conservação de Aves na Porção Sul da Mata Atlântica, com apoio do CNPq, que desde 1995 tem apoiado projetos do LOBIO sobre aves em áreas contínuas de floresta e em fragmentos florestais.
A partir dos resultados da pesquisa, os pesquisadores planejam ampliar a área de estudo, considerando outros trinta fragmentos de florestas existentes nas regiões Norte e Oeste do Paraná, áreas menores que o Parque Iguaçu, com dimensões entre dois e dez mil hectares. Esse novo estudo pretende detectar o volume de espécies raras de aves, apontando para possíveis causas de redução dessas populações, que podem inclusive estar em risco de extinção. “Queremos entender quais desses fragmentos têm resiliência ecológica. Perder espécies significa perder funções ambientais importantes”, diz o professor Luiz dos Anjos, acrescentando que conservar fragmentos de florestas com potencial resiliência ecológica é importante para a biodiversidade.