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Pesquisa desenvolve tratamento mais eficiente para câncer de pâncreas
Pesquisadores do Grupo de Nanomedicina e Nanotoxicologia (GNANO), do Instituto de Física de São Carlos, da Universidade de São Paulo (IFSC-USP) desenvolveram um tipo especial de nanocápsulas capazes de levar às células de câncer de pâncreas dois remédios quimioterápicos de primeira linha, Gemcitabina e Paclitaxel. O direcionamento simultâneo desses medicamentos demonstrou maior capacidade de inibir a proliferação celular e de induzir a morte das células cancerosas. As nanocápsulas são nanopartículas ocas, com tamanho mil vezes menor do que a espessura de um fio de cabelo, construídas com as membranas celulares retiradas de células de câncer de pâncreas. Por isso, interagem de forma mais específica com células desse tipo de tumor, liberando os quimioterápicos com maior facilidade. Nessa forma de entrega controlada, menor quantidade de remédio atinge as células saudáveis, gerando menos efeitos colaterais.
Além disso, as nanocápsulas, por serem fabricadas com membranas de células cancerosas, estimulam as células do sistema imunológico. Segundo o professor Valtencir Zucolotto,coordenador do GNANO e bolsista de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq), que supervisiona a pesquisa, o grupo envolvido com o trabalho acredita que as nanocápsulas tenham um efeito de imunoterapia, isto é, quando o próprio sistema imunológico combate o tumor. "O grande benefício que esperamos quando se usa nanopartículas para entregar os fármacos é a diminuição dos efeitos colaterais, pois a princípio, o fármaco é liberado preferencialmente nas células do tumor e não nos tecidos saudáveis. No nosso trabalho, ainda, espera-se o benefício da imunoterapia", diz ele.
O artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista Materials Advances, da Royal Society of Chemistry. O trabalho faz parte da tese de doutorado do aluno, Edson Comparetti primeiro autor do artigo, escrito junto com os estudantes Paula Lins e João Quitiba. A pesquisa foi apoiada pelo CNPq por meio da Chamada Universal de 2018, no valor de R$ 20 mil. De acordo com Edson Comparetti, o financiamento recebido das principais agências de pesquisa e inovação do país é primordial para esse trabalho. "Sem ele não haveria condições de desenvolvermos nossos estudos e de manter as estruturas necessárias para comprovarmos nossos resultados", afirma ele, que ressalta o valor da experiência em sua formação. "Desenvolver pesquisa em um ambiente onde se busca trabalhar na fronteira do conhecimento e aplicar Ciência ao bem estar das pessoas é muito gratificante", completa Edson.
O câncer de pâncreas é a 14ª neoplasia mais frequente no mundo e a sétima maior em mortalidade, com diagnóstico em geral confirmado nos últimos estágios da doença. As principais estratégias de tratamento são cirurgia e quimioterapia, mas os pacientes sobrevivem apenas alguns meses depois do início da terapia. O tratamento quimioterápico combina uma série de drogas que, entre outras funções, interferem na replicação do DNA, inibindo a divisão celular. Porém, nos estágios finais, esse tipo de tumor é muito resistente à quimioterapia. No momento, a aplicação simultânea de diferentes quimioterápicos melhora a eficiência no tratamento de pacientes. Contudo, a baixa especificidade dessas moléculas pode aumentar os efeitos colaterais em células sadias. Por isso a importância do trabalho desenvolvido pelos pesquisadores do IFSC-USP.
Segundo Edson Comparetti, a abordagem da pesquisa do IFSC-USP poderá ajudar a reduzir os custos dos tratamentos, permitindo que mais pessoas tenham acesso às novas tecnologias contra o câncer. Os pesquisadores terminaram os testes in vitro, comprovando a eficácia da tecnologia em células humanas de câncer de pâncreas cultivadas em laboratório, e já solicitaram pedido de patente para o trabalho. O próximo passo é realizar os testes in vivo, em modelos animais. O professor Zucolotto diz que, no futuro, se tudo correr bem, eles pretendem realizar testes clínicos em humanos, em parceria com colaboradores de áreas médicas. Apesar de ser menos tóxico, devido a liberar o remédio apenas no tumor, o professor Zucolotto alerta que o uso de nanocápsulas ainda não é um tratamento, porque ainda não foi usado em humanos. Algumas das análises do trabalho foram realizadas no Laboratório Nacional de Luz Síncroton (LNLS), em Campinas.