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Conferência online trata dos caminhos oferecidos pela Arte e pelo Design para jovens e comunidades de contextos marginalizados
De 30 de novembro de 2021 a 2 de dezembro de 2021, jovens, legisladores, profissionais e pesquisadores de Arte e Design de todo o Atlântico discutirão, em conferência, políticas, atividades e abordagens que contribuam para a colaboração, o compartilhamento e o desenvolvimento de idéias inovadoras em resposta à turbulência global em curso, que afeta de forma mais significativa jovens e suas comunidades em contextos marginalizados. O evento será realizado pela Universidade de Lapland, na Finlândia, de forma híbrida, online e com exibição de trabalhos nas galerias dessa instituição. Com a conferência, conclusão de projeto denominado SEEYouth – Social Innovation through Participatory Art and Design with Youth at the Margins: Solutions for Engaging and Empowering Youth with Trans-Atlantic Mirroring, os organizadores esperam contribuir para os debates já em desenvolvimento sobre os valores da pesquisa em arte e seu alcance em mudanças sociais e sustentáveis, assim como na marginalidade econômica experimentadas pela juventude. A meta é encontrar um caminho pelo qual os especialistas no assunto possam trabalhar juntos, para antecipar e para enfrentar os desafios que requerem idéias inovadoras, métodos e resultados urgentes. As inscrições para o evento podem ser realizadas online, de forma gratuita.
O projeto SEEYouth foi um dos dez contemplados na chamada Trans-Atlantic Platform (T-AP) – Social Innovation 2019 , uma colaboração entre financiadores de diversos países. Um grupo com autoridades científicas da área do Design que já possuía produção acadêmica consolidada no tema da pesquisa elaborou o projeto. A proposta foi desenvolvida em conjunto pela bolsista de Produtividade em Pesquisa e membro do Comitê Assessor da área de Design do CNPq, professora Maria Cecília Loschiavo dos Santos , da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), investigadora principal da equipe do Brasil, com Satu Miettinen, da Universidade de Lapland, líder do projeto e pesquisadora responsável pela equipe da Finlândia; com a professora brasileira Paula Landim , do Departamento de Design da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquisa Filho (UNESP-Bauru); com Paul Wilson, da Universidade britânica de Leeds, como pesquisador responsável pela equipe do Reino Unido; e com Anne Marchand, da Universidade de Montreal, como pesquisadora responsável pela equipe do Canadá.
O projeto SEEYouth colabora com organizações regionais e locais, envolvidas de forma direta com a juventude marginalizada e foi financiado por diversas agências de fomento, incluindo a brasileira FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Os outros financiadores do projeto são a Academia Finlandesa, Pesquisa e Inovação da Grã-Bretanha e o Fundo de Pesquisa de Québec, no Canadá. O programa do evento encontra-se disponível online e é formado por palestras de especialistas conhecidos na área de Artes e Design e de sessões paralelas em que os participantes discutirão questões relacionadas ao tema do evento. Além disso, haverá exibição local de trabalhos ligados ao tema do projeto entre os dias 30 de novembro e 16 de dezembro de 2021, em galerias da própria Universidade de Lapland.
Para comentar a relevância do evento e como a Arte e o Design podem contribuir para melhorar a situação de jovens e comunidades marginalizadas, convidamos a professora Maria Cecília Loschiavo dos Santos, uma das idealizadoras do projeto.
CNPq - A senhora desenvolve alguma pesquisa ou outro tipo de trabalho que a liga com o tema da Conferência? Se sim, poderia explicar?
Maria Cecília Loschiavo - Após quinze de pesquisa e publicações sobre a idade de ouro do design do móvel brasileiro, desde o ano de 1993 passei a trabalhar com o tema das relações entre design e exclusão socioespacial, o que me levou a pesquisar os habitats informais dos moradores em situação de rua, população de jovens adultos e adultos. Posteriormente desenvolvi pesquisa sobre design e reutilização de materiais descartados, o papel dos catadores de materiais recicláveis, levando à publicação com apoio do CNPq, que está disponível gratuitamente .
No final do ano de 2018, um grupo de professores e pesquisadores da University of Lapland (Finlândia), Universidade de São Paulo e Universidade do Estado de São Paulo (Brasil), Leeds University (Reino Unido) e Université de Montréal (Canadá) se reuniu para debater o preparo de uma proposta para a chamada TA-P-Social Innovation, cujo foco daquele ano era o atendimento de desafios sociais identificados em ambos os lados do Atlântico.
A Plataforma Transatlântica (T-AP) é uma colaboração entre os principais órgãos financiadores de ciências humanas e sociais na Europa e nas Américas, cujo objetivo é aprimorar relações transnacionais de pesquisa a partir de “desafios comuns e áreas estratégicas prioritárias onde esta colaboração traga valor agregado”.
CNPq - Entre as questões nos campos do design e das artes atuais, quais podem ser debatidas no evento?
Maria Cecília Loschiavo - A arte e o design contribuem nos processos de inclusão de populações vulneráveis e marginalizadas. Este evento vai debater o protagonismo destas duas áreas de conhecimento e sua tradicional vocação social, buscando responder ao desafio apresentado pela crescente marginalização de jovens e jovens adultos, centrado em casos em ambos os lados do Atlântico: jovens adultos sem-teto ou em situação de rua e refugiados no Brasil e, jovens refugiados ou imigrantes marginalizados e em situação social e econômica desfavorecidas na Finlândia.
CNPq - A senhora poderia explicar melhor esse modelo de espelhamento ( mirroring ) a ser tratado na conferência?
Maria Cecília Loschiavo - Este modelo de espelhamento implica em criar novos métodos, modelos e políticas de inovação social que apoiem a agência e prevenir a marginalização da juventude dos dois lados do oceano Atlântico, numa relação articulada entre pesquisadores de universidades brasileiras, canadenses, inglesa e finlandesa. Mirroring é o conceito de espelhamento em termos de reflexão, de empatia, de prática visual, de aprendizado, de formação de docentes e de pesquisadores entre todas as universidades envolvidas. Foram realizadas várias oficinas de formação de professores, visando incorporar o tema do projeto nos cursos de graduação e de pós-graduação em design.
A equipe do Canadá preparou uma série de seminários para discutir experiências dos membros do projeto em trabalhos com jovens, jovens adultos e artes. A primeira edição do seminário Creative Thursdays aconteceu em 26/11/2020. Liderada pela equipe WP3 (Canadá) e mediada pela equipe WP5 (UK), o tema foi “Seeing impact on an individual level”.
CNPq - Em que a arte e o design podem contribuir para mudanças que beneficiem jovens provenientes de áreas geográficas marginalizadas?
Maria Cecília Loschiavo - Jovens em geral, jovens refugiados na Finlândia participaram de oficinas e de seminários com estudantes brasileiros da USP e UNESP debatendo sobre sua condição de vulnerabilidade, criaram banners, serigrafias e outros produtos artísticos. Parte desta produção será exibida na exposição que se inicia na segunda feira dia 29 de novembro de 2021 na galeria de arte da Universidade da Laponia.
Victor Papanek foi um dos precursores que chamaram a atenção dos designers para a responsabilidade social da profissão em suas publicações, como “Design for the Real World”. Ainda na década de 1970, Tomás Maldonado junta-se a voz de Papanek ao advogar pela responsabilidade ambiental e pela consciência social do designer ao apontar o desenho industrial (antiga denominação do design) como uma relação dialética entre necessidades e objetos.
É importante lembrar que durante a primeira metade do século 20 e mesmo na primeira década da segunda metade deste século havia uma contribuição do design ligada ao que se considera “bom design”, isto é, profundamente ancorada na preocupação com estilo, execução rigorosa e certos maneirismos. Ao final do século 20, contudo, ficou claro que o “bom design-designer” é também o profissional-cidadão, sensível às demandas da sociedade na qual ele se insere.
Como você pode ver há uma grande renovação da agenda de pesquisa do design contemporâneo e do próprio campo do design, que nos convida a interrogar sobre a especificidade desta área da ciência e seu diálogo compartilhado com as ciências humanas, sociais, com as engenharias, entre outros. Finalmente, não podemos deixar de mencionar, também, a importância do design e sua relação com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU, assim como da atuação da World Design Organization (WDO) na promoção dessa temática que nos afeta globalmente.
Este trabalho é alinhado com os ODS da ONU (Agenda 2030) de números: 1. Erradicação da pobreza; 2. Fome zero; 3. Saúde e bem-estar; 4. Educação de qualidade; 5. Igualdade de gênero; 8. Emprego digno e crescimento econômico; e, principalmente, 10. Redução das desigualdades, assim como as políticas, projetos e agência da UNESCO para a melhoria das condições da juventude, que desde 1997 criou uma linha de pesquisa no Brasil com foco em juventude, violência e cidadania. Seguindo os mesmos princípios desta instituição, o projeto visa a participação ativa de jovens no desenvolvimento da compreensão empática sobre seus desafios e na proposição de soluções, entendendo-os como agentes e não sujeitos passivos da pesquisa.