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Ciência é essencial para enfrentar desafios no setor de segurança alimentar e nutricional, aponta livro
O livro “Segurança Alimentar e Nutricional: O Papel da Ciência Brasileira no Combate à Fome”, organizado pela bolsista de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pesquisadora da Embrapa Soja e diretora da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Mariângela Hungria, traça um quadro da fome no Brasil e aponta como a ciência pode ajudar a agricultura, o poder público e o terceiro setor a enfrentarem a insegurança alimentar - problema que se agravou no país em meio à pandemia e que pode ser impactado nos próximos anos pelas mudanças climáticas.
Lançada em março pela ABC, a obra reúne o resultado do trabalho de 41 autores, originários de 23 instituições de pesquisa, e trata, em seus 18 capítulos, desde a apresentação do tema até o papel do conhecimento, da educação e da comunicação no que tange à segurança alimentar e nutricional, passando a como a questão se encontra relacionada à soberania nacional; ao papel das mulheres para o delineamento de políticas públicas; à produção de alimentos, o desenvolvimento agrícola e a produção por pequenos agricultores; bem como os aspectos econômicos da segurança alimentar.
O livro teve apoio do CNPq e pode ser acessado de forma gratuita no site da ABC. “É um trabalho de muitas pessoas e que integra muitas visões. São dezoito capítulos explicando a história do combate à fome no Brasil, o que já foi feito, o que ainda precisamos fazer e como a pesquisa científica se integra em tudo isso”, afirmou Hungria, no lançamento do livro. A obra aponta a necessidade de cooperação entre diferentes campos da ciência como forma de melhorar a produção de alimentos, valorizar a agricultura familiar e permitir parcerias entre governos, empresas e terceiro setor.
O Brasil é o quarto maior produtor de alimentos do mundo e avança para a terceira posição. Os investimentos em ciência revolucionaram a agricultura brasileira, que passou de importadora de alimentos na década de 1960 a exportadora de grãos e carnes no presente. O país, porém, enfrenta duas contradições. A primeira delas é o fato de produzir alimentos suficientes para alimentar quase um bilhão de pessoas e, contudo, ter mais de 33 milhões de pessoas vivendo em situação de insegurança alimentar grave, segundo dados de 2021-2022, da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (PENSSAN).
A segunda contradição diz respeito à realidade da zona rural do país, em que esses alimentos são produzidos e em que se encontram 70% das pessoas que passam fome no Brasil. “O problema é esse: o Brasil é um grande produtor de alimentos e tem milhões de pessoas passando fome. A fome tem causas múltiplas e requer estratégias multidisciplinares da ciência. É preciso inovar, fazendo uma ciência cidadã, onde haja compromisso de diversos setores. Porque só ouvindo toda a sociedade e construindo essa ciência conjunta é que vamos conseguir definir estratégias adequadas para enfrentar a fome”, observa a professora Mariângela Hungria.
Nas últimas décadas, a ciência ajudou a agricultura a produzir mais utilizando novas tecnologias, como o melhoramento de plantas por engenharia genética ou o tratamento de sementes. Nos próximos anos, os efeitos das mudanças climáticas cada vez mais claros deverão afetar o cenário global de produção de alimentos e o setor terá de lidar com novos desafios, com ações orientadas a reduzir desmatamentos e a emissão de gases de efeito estufa. Além disso, outros problemas a serem enfrentados são o combate à fome e promoção da transição alimentar justa, com a busca por maior diversificação produtiva, mudanças no uso de insumos químicos e educação alimentar, e a inclusão da população mais vulnerável, com a concessão de maiores oportunidades a quem precisa.
“O combate à fome deve estar sempre na pauta do dia”, afirma no prefácio a presidente da ABC e bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq, professora Helena Nader. “Esperamos que esse livro sirva de alerta à sociedade em geral e, em especial, aos tomadores de decisão sobre a urgência do tema”.