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A Flora do Brasil 2020 lança seus dados
Quantas e quais são as espécies de plantas nativas da Bahia, do Rio de Janeiro ou de qualquer estado brasileiro? Como identificá-las? Qual a dimensão da riqueza florística do nosso país conhecida pela ciência? Estas são algumas questões que agora têm resposta graças a um grande esforço coordenado pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) nos últimos 12 anos: a elaboração da Flora do Brasil 2020 , cujos resultados foram apresentados na última terça-feira, 23 de fevereiro, em transmissão online.
Antes disso, a única obra que reuniu as informações necessárias para a identificação de todas as plantas nativas do país conhecidas até então era a Flora brasiliensis , iniciada por Martius em 1840 e concluída por seus colaboradores em 1906, ou seja, há 115 anos. A grande quantidade de conhecimento produzida pelos botânicos desde então se encontrava dispersa em uma infinidade de artigos, livros, listas, repositórios e acervos – inclusive no exterior.
A Flora do Brasil 2020 reúne, em uma plataforma online, toda essa informação e também imagens das plantas, algas e fungos brasileiros descritos pelos cientistas até o presente. Ela tem a vantagem de ser dinâmica, podendo ser atualizada diariamente com as novas descobertas. Para se ter uma idéia, aproximadamente 2100 espécies de plantas, fungos e algas brasileiras foram descritas como novas para a ciência entre 2015 e 2020. A plataforma permite também que esses dados sejam processados e acessados rapidamente, produzindo resultados que antes levariam anos para serem obtidos.
O trabalho envolveu uma rede de 979 pesquisadores de 224 instituições em 25 países. Eles levantaram, organizaram e validaram todas as informações no sistema, onde incluíram as descrições, chaves de identificação e imagens para 375 famílias, 3.204 gêneros e 46.975 espécies de plantas, algas e fungos nativos do Brasil, 55% das quais são endêmicas do território brasileiro, ou seja só ocorrem no país.
Essa entrega significa o atendimento de 92% da Meta 1 da Estratégia Global para Conservação de Plantas (Global Strategy for Plant Conservation – GSPC) para 2020, documento que faz parte da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), da qual o Brasil é signatário.
No evento também foi lançada a publicação Flora do Brasil 2020 . Ela resume a história de como se construiu o conhecimento sobre as plantas brasileiras desde o século XVII até hoje, apresenta números e aponta rumos para a pesquisa nos próximos anos.
A publicação está disponível para acesso gratuito e envolveu uma rede de pesquisadores, instituições e diversos países. Foto: Reprodução.
Dados
A conservação da riqueza biológica do país depende de conhecimento organizado e tecnologia. Alguns dos dados apontados são:
• A Plataforma reúne descrições, chaves de identificação e imagens de 46.975 espécies de plantas, algas e fungos nativos do Brasil.
• 55% das espécies de plantas terrestres são endêmicas do país, ou seja, ocorrem exclusivamente em território brasileiro.
• Dados podem ser consultados por pesquisadores, gestores e sociedade em geral para diversos fins, como ações de conservação, reflorestamento, pesquisas sobre espécies com potencial medicinal, alimentar e outros.
• Aproximadamente 2100 espécies de plantas, fungos e algas brasileiras descritas como novas para a ciência entre 2015 e 2020.
Algumas das imagens disponíveis na publicação. Foto: Reprodução
O projeto
A elaboração da Flora do Brasil Online 2020 teve início em 2008, com o projeto Lista de Espécies da Flora do Brasil, cujo objetivo era alcançar a Meta 1 da GSPC para 2010 – uma lista online de todas espécies de plantas, algas e fungos conhecidos pela ciência até então.
No mesmo ano, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) lançou duas iniciativas para digitalização das amostras de plantas em herbários no Brasil e no exterior: o Herbário Virtual Reflora, também coordenado pelo JBRJ, e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) Herbário Virtual da Flora e dos Fungos. Juntos, eles disponibilizam quase 8 milhões de imagens online e subsidiam a Flora do Brasil 2020.
A pesquisadora Rafaela Campostrini Forzza, coordenadora da Flora do Brasil 2020, ressalta a importância do apoio do CNPq para a conclusão desse projeto, tanto no fomento à pesquisa quanto na formação de recursos humanos. “Além do apoio direto que o CNPq deu na última década para duas grandes iniciativas que auxiliaram muito no trabalho dos botânicos, que foi o INCT e o Reflora, é muito interessante ressaltar sempre que grande parte dos botânicos que trabalharam nesse projeto é uma geração de botânicos formados com a ajuda das bolsas do CNPq. Eu mesma fui bolsista na Iniciação Científica e vários autores da publicação foram bolsistas do Protax, do Programa de Capacitação em Taxonomia o CNPq, além de termos muitos bolsistas de Produtividade em Pesquisa”, apontou, Rafaela. “Então, vai muito além do apoio direto que ele deu para essas duas grandes iniciativas. Está na raiz da formação dos cientistas brasileiros”, concluiu.
Em 2015 teve início o projeto Flora do Brasil Online 2020. A plataforma desenvolvida para a Lista de Espécies foi integrada ao sistema do HV Reflora e novas funcionalidades foram acrescentadas, possibilitando, entre outras coisas, a inclusão e disponibilização das descrições e chaves de identificação.
“A apresentação dos novos dados consolidados é um marco do projeto, apontando direções para o futuro. O Brasil é o país com maior diversidade de plantas do planeta e o que mais descreve novas espécies para a ciência”, afirma Ana Lúcia Santoro, presidente do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Rafaela considera que “Apesar deste marco e do alcance de grande parte da Meta 1 da GSPC, nós botânicos ainda teremos muito trabalho nas próximas décadas. Ainda existem vastas áreas do território brasileiro que precisam ser visitadas e catalogadas, muitas amostras de herbário ainda carecem de boas identificações, muitos taxonomistas, especialmente pesquisadores de algas e fungos, precisam ser formados. Enfim, em um país megadiverso como o Brasil, estudar a biodiversidade vai ser sempre um desafio maravilhoso”.
O projeto contou com apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia, por meio do CNPq e do Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira - SiBBr, e também da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro - Faperj.
Evento em 23/2
A apresentação dos resultados do projeto Flora do Brasil 2020 e lançamento da publicação homônima foram transmitidos ao vivo pelo canal do Jardim Botânico do Rio de Janeiro no Youtube . O evento contou com a presença com a presença da presidente do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Ana Lúcia Santoro, e do diretor de Pesquisas Científicas do JBRJ, Renato Crespo Pereira.
Assista: Flora do Brasil 10 anos |