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Encontro de Ideias: IPEN, Embrapa e INPA apresentam suas pesquisas sobre espécie de peixe amazônico
"Preservação, reprodução e cultivo do Pirarucu (Arapaima gigas): desafios e curiosidades na pesquisa do chamado ‘rei dos rios’” é o tema do "Encontro de Ideias IPEN”, a ser realizado no próximo dia 29 (segunda-feira), a partir das 14h, com transmissão on-line pela RNP nesse link. Participam os pesquisadores Renan Passos Freire, do Centro de Biotecnologia (CeBio) do IPEN/CNEN, Lucas Simon Torati, da Embrapa Pesca e Aquicultura, de Palmas (TO), e Alexandre Honczaryk, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), sediado em Manaus (AM).
Nativo da Amazônia, o pirarucu é um dos maiores peixes de água doce do planeta, podendo atingir mais de 2m e 200kg. Nas últimas décadas, com o aumento da pesca comercial e a consequente pressão nos estoques pesqueiros, o ‘rei dos rios’, como é chamado pelo ribeirinho, passa a ser uma das espécies ameaçadas. Agrava ainda mais o fato de que sua reprodução natural não dá conta de garantir o repovoamento. Esse cenário é o que reúne Freire, Torati e Honczaryk no "Encontro de Ideias” deste mês.
Realizando pesquisas em três diferentes regiões do país, eles se dedicam a estudar a fisiologia reprodutiva do pirarucu e aprimorar técnicas para o manejo de reprodutores, visando a preservação da espécie, apesar de a pesca ser regulamentada desde 2004, quando o Ibama criou uma Instrução Normativa proibindo-a em alguns meses do ano e também estabelecendo tamanhos mínimos para pesca e comercialização. A proposta do "Encontro de Ideias” é apresentar e debater o atual estágio da pesquisa nessas três instituições participantes.
No IPEN/CNEN, a linha de pesquisa que estuda atualmente o pirarucu – "Clonagem e síntese de hormônio luteinizante e hormônio folículo-estimulante de Arapaima gigas” – é coordenada pela farmacêutica-bioquímica Cibele Peroni, pesquisadora do CeBio/IPEN. Freire integra o grupo e atualmente é mestrando em Tecnologia Nuclear no IPEN/USP, orientado por Carlos Roberto Jorge Soares. Seu projeto de pesquisa está voltado para produção, purificação e caracterização do TSH de Pirarucu em células de mamífero.
Segundo ele, o IPEN/CNEN passou a pesquisar a espécie amazônica justamente por uma parceria com a Embrapa Pesca e Aquicultura. "Houve, no início, a colaboração da Embrapa com nossa linha de pesquisa de hormônios hipofisários. Como a expertise do grupo sempre foi voltada para produção, caracterização e purificação dessas proteínas, a discussão se manteve em estudar os hormônios relacionados à reprodução, buscando otimizar a criação do pirarucu em cativeiro. Essa colaboração integrou os estudos da espécie no CeBio, com publicações, tese e dissertações, desdobrando em novas perspectivas e novos contatos”.
Torati se dedica a estudar o pirarucu desde 2010, quando ingressou na Embrapa e seguindo para um doutorado que resultou na tese "Reproductive physiology of Arapaima gigas (Schinz, 1822) and development of tools for broodstock management” (Fisiologia reprodutiva de Arapaima gigas (Schinz, 1822) e desenvolvimento de ferramentas para manejo de reprodutores, em tradução livre), juntamente com a Universidade de Stirling (Escócia). Em 2019, concorreu com esse trabalho ao prêmio Inovação Aquícola, obtendo o 3º Lugar Categoria Academia, Aquishow Brasil, Aquaculture Brasil e Seafood Brasil.
Dentre os resultados dessa pesquisa, avanços foram feitos com técnicas de identificação sexual em peixes juvenis e para identificação da maturidade sexual em fêmeas. Antes, a identificação sexual só era possível em animais adultos, com mais de três anos. Segundo Torati, a identificação sexual é importante para formação de casais, assim como a identificação do estágio de maturação gonadal é importante para saber se as fêmeas são sexualmente maduras e se estariam próximas de um evento reprodutivo. A técnica de canulação desenvolvida é também essencial para selecionar animais para receber terapias hormonais, técnicas frequentemente utilizadas na reprodução de peixes.
O INPA é o mais importante centro de pesquisa em biologia tropical do mundo, com forte tradição em piscicultura. Honczaryk se dedica a estudos com reprodução de espécies de peixes da região e durante anos pesquisou o pirarucu e orientou estudantes. Um de seus trabalhos analisou a possibilidade do uso da benzocaína aspergida diretamente nas brânquias do peixe, para indução à anestesia sem perigo de afogamento – devido ao grande porte do pirarucu, o risco de acidentes durante o manejo é bastante elevado.
"Logo, anestésicos são essenciais para segurança no trabalho. Os resultados mostram viabilidade do uso da benzocaína proporcionando anestesia com ausência de movimentação por aproximadamente 2min, tempo suficiente para procedimentos rápidos, como biometria, injeções, marcação, coleta de raspados de muco na superfície do corpo e brânquias. Mortalidade de animais não foi observada mesmo um mês após os testes”, afirmou Honczaryk.
Em 2004, implantou um sistema do biólogo Osmar Fontenele, pesquisador no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), da década de 1940, para formação de casais em cativeiro, possibilitando a observação do comportamento sexual do pirarucu.
Sobre os pesquisadores
Renan Passos Freire é graduado em farmácia e atual aluno de mestrado no Centro de Biotecnologia do IPEN/CNEN. Participou de projetos com a produção de outros hormônios de pirarucu, como FSH, LH e GH, e o grupo ao qual está inserido busca aprimorar o manejo da espécie em cativeiro em relação aos seus aspectos reprodutivos.
Lucas Simon Torati é biólogo, mestre em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (Ribeirão Preto, de 2003 a 2009) e doutor em aquicultura pela Universidade de Stirling (Escócia, de 2013 a 2017). Desde 2010, atua como pesquisador na Embrapa Pesca e Aquicultura, trabalhando em pesquisas em reprodução de espécies nativas.
Alexandre Honczaryk é biólogo, mestre em Aquicultura pela UFSC é pesquisador desde 1988 do INPA, e atua na área de reprodução de peixes e produção de alevinos de espécies amazônicas.
Curiosidades
·O pirarucu é uma espécie muito apreciada na culinária. Chega ao mercado em mantas, depois de passar por processo de salga ao sol. É conhecido também como o "bacalhau da Amazônia” devido ao sabor e qualidade da carne, quase sem espinhos.
· O nome vem de dois termos indígenas pira, "peixe", e urucum, "vermelho", devido à cor de sua cauda.
SERVIÇO
O Quê: Encontro de Ideias IPEN – Debate "Preservação, reprodução e cultivo do Pirarucu (Arapaima gigas): desafios e curiosidades na pesquisa do chamado ‘rei dos rios’”
Quando: 29 de novembro de 2021
Horário: 14h
Link: https://conferenciaweb.rnp.br/webconf/encontro-de-ideias-ipen
Informações: 11-2810-5058 ou 99115-7624
Por:IPEN